Usina de Letras
Usina de Letras
74 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62243 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10450)

Cronicas (22538)

Discursos (3239)

Ensaios - (10370)

Erótico (13570)

Frases (50641)

Humor (20032)

Infantil (5440)

Infanto Juvenil (4770)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140811)

Redação (3308)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6198)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->CADA PARÁGRAFO É UMA SEMENTE -- 05/12/2002 - 22:51 (Felipe Cerquize) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Morávamos numa cidade com mais ou menos trinta mil habitantes. Quase todos se conheciam. No domingo, as pessoas iam para a praça central para ficar dando voltas. Claro que havia muito disse-me-disse. Afinal de contas, qual a cidade pequena em que não há? Mas isto não tirava o encanto do local. O pessoal também gostava de ir para a estação ferroviária, para ver o trem chegar e partir. Havia muito verde e um rio de águas límpidas, que desembocava num mar que era sereno, graças às ilhas que ficavam ao longe, quando se olhava da praia. Tudo era muito equilibrado. Meu pai trabalhava na lavoura e, de vez em quando, eu o escutava comentar com a minha mãe que o lugar tinha de melhorar, ter mais emprego e mais dinheiro para o povo.



Os anos passaram-se e, um dia, uma grande indústria decidiu instalar-se na cidade, como conseqüência dos incentivos fiscais oferecidos pela prefeitura. Com ela, vieram pessoas de cidades distantes. Rodovias modernas foram construídas e até um porto de médio porte. Empresas satélites também se instalaram por lá e a cidade tornou-se um enorme pólo industrial e comercial. O meu pai estava muito feliz com o emprego de operário que conseguira numa fábrica de peças automotivas. Com o dinheiro que juntou, pôde pagar a minha moradia e alimentação para que eu estudasse numa universidade federal da capital. Fiquei morando perto da faculdade e só voltava para a casa dos meus pais para visitá-los.



Quando me graduei, consegui emprego numa cidade do tamanho da minha, mas longe dela. Acabei casando com uma colega de turma. Tivemos dois filhos. O mais velho, hoje, está com quinze anos e o caçula com doze. Quando vou com eles à cidade onde nasci, perguntam-me por que eu havia morado ali, naquele lugar de rio sujo, casas feias e mar cheio de óleo. Onde havia linha de trem, mas o trem não passava. Onde as pessoas nem se olhavam, com medo umas das outras. Como explicar que ali já tinha havido um povo pacato e gentil? Como falar que já tinha existido muito verde e um rio de águas claras, que desembocava no mar mais bonito do mundo? Como explicar que tudo aquilo deixou de existir porque a cidade precisava de progresso e de bem-estar para os seus moradores? É muito difícil explicar para eles que, às vezes, o amor e a ambição se confundem, levando-nos a conseqüências nem sempre condizentes com as atitudes que as originaram.

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui