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cronicas-->ESTA CASA NÃO É MAIS CABARÉ -- 31/07/2005 - 16:58 (José Francisco da Silva Concesso) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
ESTA CASA NÃO É MAIS CABARÉ

Morando no Tocantins há vários anos por motivo de trabalho, depois de algum tempo, resolvi retornar a Barbacena, minha terra, para rever parentes e amigos.
Escolhi o mês de outubro para ter a oportunidade de rever a famosa Festa das Rosas, o maior evento do calendário turístico de Barbacena.
Depois de trinta e três horas num ónibus da Itapemirim, finalmente cheguei a Barbacena, pelas dezesseis horas.
Com dez anos de ausência, pude perceber o quanto a cidade tinha crescido e se modificado.
Se muita coisa tinha modificado, certamente ainda deveriam continuar na cidade muitos amigos. Um deles era o Zeca Paixão, originário de uma pequena cidade vizinha e dono de um boteco que servia um torresmo com muito capricho e que ficava mais gostoso ainda por causa da sua simpatia.
O bar ficava nas proximidades do Hotel-Escola Grogotó do Senac e perto também do Gogó da Ema, famoso cabaré dos tempos antigos.
Fui lá. Na medida em que fui me aproximando, percebi que o bar estava com a mesma cara, sem qualquer modificação. Ao entrar, sem dizer nada, esperei que o Zeca me reconhecesse. Preocupado em passar um pano na mesa de um freguês para enxugar o suor da geladíssima loura, ele não me reconheceu na hora. Esperei. Com a simpatia de sempre, veio na minha direção quando fez aquele escàndalo:
- Chiquinho?!
- Eu em carne e osso, mesmo Zeca!
- Quanto tempo?!
- Sabe como; moro muito longe e não dá para vir com mais frequência.
- Onde é mesmo que você mora?
- No Tocantins.
- Como é este Tocantins que vez em quando a gente vê na televisão?
- Muito bom. O que é muito diferente de Barbacena é o calor. Demorei um pouco para me acostumar, mas agora, sinto um frio danado aqui, depois de tanto tempo.
- Mas, que beleza. Chiquinho, eu não bebo no meu bar, mas não posso deixar de comemorar desta vez, disse o Zeca. Antes de tudo pedi uma doze de cachaça de Rio Espera, a mais famosa da região.
Entre um copo e outro de cerveja, a conversa fluía solta com a alegria do encontro quando percebi um barulho de um homem que passou correndo com um enorme cacete perseguindo um outro. O homem que estava prestes a receber uma cacetada fugia com todas as forças enquanto o perseguidor bufava de raiva e desesperado ameaçava. Assustado, perguntei:
- Que é isto, Zeca?
- È o Joaquim Cascão.
- Quem é o Joaquim?
- Um sujeito que, depois de receber uma herança gorda comprou a casa onde funcionava antigamente o cabaré, Gogó da Ema. Lembra-se dele?
- Claro; como poderia me esquecer!
Pois bem. Ninguém é obrigado a adivinhar que a casa trocou de dono e de finalidade. O Joaquim Cascão mudou-se para lá com a família, mas todo dia alguém procura entrar na casa procurando pelo cabaré. N´outro dia, Quando o Joaquim estava trabalhando, um antigo cliente do cabaré chegou e tentou agarrar a filha mais velha. Ela estuda Direito na UNIPAC. A mãe deu o alarme e os que estavam aqui foram comigo para dar apoio às duas e acalmar a situação. De vez em quando chega um carro, passa para lá e para cá, olha para a casa, que em nada se modificou, desconfia e vai se afastando aos poucos. Numa destas, por pouco, a coisa não ficava pior quando um cliente do Gogó da Ema chegou de táxi e foi entrando. Deu logo de cara com o Joaquim, em pessoa. Mais uma vez o Joaquim explicou que ele tinha comprado a casa etc, etc. O homem ficou nervoso e caiu na esparrela de cobrar do Joaquim o valor da corrida. Foi a gota d´água. O Joaquim, filho de português, é uma pessoa ótima; só que quando fala, parece que está com raiva de quem está falando com ele. Só fala alto, É uma pessoa precipitada e, como se diz, tem um estopim muito curto. Com aquele enorme bigode de português, aquela aparência de leão de chácara mete medo em quem não o conhece.
- Neste caso, o senhor tem que pegar a corrida do táxi, disse o freguês do cabaré desafiando o Joaquim.
- Pagar táxi uma ova! Eu não contratei táxi nenhum!
Quando a coisa ia ficando feia, o motorista do táxi foi saindo de mansinho e deixou pra lá o freguês. Durante várias vezes aconselhamos o Joaquim a colocar alguma placa como: Mudamos ou Esta casa agora é de família ou alguma outra coisa que evitasse estes transtornos. Nada convenceu o Joaquim, turrão e teimoso. Ninguém consegue convencê-lo.
- Mas, o nome Cascão é porque ele é assim meio grosso, perguntei ao Zeca.
- Não; Cascão é seu sobrenome herdado do pai português.
Voltei ao bar do Zeca mais vezes enquanto estava em Barbacena, e outras cenas divertidas aconteceram. Acabaram as feris e acabou a vida mansa em Barbacena. Logo depois de ter retornando ao Tocantins, telefone para o Zeca e perguntei pelo Joaquim.
- Então, o Joaquim como vai?
- Finalmente se convenceu e pós uma placa na frente da casa com estes dizeres: Esta Casa não é mais cabaré.

José Francisco da Silva Concesso

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