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cronicas-->A pata da cadela -- 14/11/2000 - 16:26 (MICS) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Quem chega na praça do Pór do Sol, vindo alí pelo lado da praça Panamericana, se depara com uma vista de São Paulo completamente diferente do que mostram os cartões postais. Uma São Paulo verde, calma, arborizada, privilégio de poucos.

Acordo cedinho numa segunda-feira e pela primeira vez resolvo andar na praça com minha cadela, filhote de labrador, uma coisinha irrequieta que tudo cheira e tudo prova, até o antebraço das amigas.

Chego pelo alto, observando a vista espetacular do amanhecer, horário nobre onde tudo parece mais bonito e limpo. A primeira coisa que observo é a quantidade de lixo personalizado. Restos de sanduiches e embalagens de refrigerante e batatas frita por toda a calçada dispostos em volta das lixeiras da mesma marca. Pelo menos a empresa tem o cuidado de colocar lixeiras nos pontos de consumo. Será que um dia haverá uma lei contra o vício do fast-food assim como há contra drogas?

Continuo a andar com a minha cadela que puxa a guia em todas as direções e fico imaginando a confusão da coitada que tem o olfato muito mais apurado que o meu. Montinhos de lixo de todos os tipos estão jogados aqui e alí. Os mais comuns são sacolinhas de supermercado contendo restos humanos. Não pedaços de gente, mas resíduos líquidos e pastosos, aqueles mal-cheirosos que teóricamente deveriam estar no esgoto a caminho de um dos nossos rios, esses sim cartões postais da cidade.

Decido que está impossível andar pela calçada e resolvo adentrar a praça, heróicamente.

Pra quem não conhece, essa praça ocupa um quarteirão inteiro num aclive (ou declive) íngreme. É feita de zigues-zagues e plataformas para possibilitar a caminhada. Toda vez que a vejo, imagino como seria se a utilizassem para shows e apresentações pois me lembra um anfiteatro grego.

Começo a descer e encontro na primeira plataforma duas garrafas quebradas das quais desvio, tomando cuidado com as patas da cadela. Avisto um fulano mal encarado vindo em minha direção e tomo a direção oposta. Mais umas 3 garrafas, dessa vez de vinho alemão, azuis. Mais um fulano à vista, mais uma troca de direção. Começo a pensar que foi uma péssima idéia andar nesse local. Olho pra baixo e descubro que não estou nem na metade da praça. Olho pra cima e vejo que ou enfrento o moleque ou os cacos de vidro. Melhor descer.
No caminho mais vidros quebrados que nem tento mais identificar. Tem cacos de todas as cores tamanhos e formatos. Pego a cadela no colo com medo dos cacos e dos micróbios, mas confesso: tenho mais medo das pessoas que posso ver do que dos minúsculos bichinhos que não posso.

Ofegando e suando chego finalmente ao pé da praça e percebo que ainda tenho que carregar a bichinha até a próxima quadra para escapar dos vidros cortantes. Percebo que todos me olham com espanto afinal, a filhotinha já pesa lá seus 25 kilos e é bem grandinha para seus 3 meses de idade, mas nem penso em colocá-la no chão. Uma vez fui a uma exposição de cães de raça. Lá estavam todos aqueles belos cães penteados, arrumados, impecáveis. A exposição acontecia num colégio estadual e saí com uma outra cadela que tinha na época para andar pelas arquibancadas. Bony se cortou num caco de vidro e ficou para sempre (felizmente) impossibilitada de participar daquele festival de vaidades humanas.

Chego a conclusão de que em vez de anfiteatro grego a praça se tornou um banheiro rústico. Um grande lixão a céu aberto.

Com alívio retomo o caminho de casa pensando sériamente em inventar sapatos para cachorros.
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