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Contos-->ALCOOLISMO, DESGRAÇA PESSOAL E FAMILIAR -- 02/09/2008 - 09:40 (MARIA AICO WATANABE) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
ALCOOLISMO,DESGRAÇA PESSOAL E FAMILIAR


Maria Aico Watanabe


Joaquim é alcoólatra incorrigível. Casado e pai de 3 filhos, torna-se violento quando bebe.
Sua mulher Alice e seus filhos Juninho, Manequinho e Cristina vivem apanhando e sofrendo humilhações de toda sorte na vizinhança e na escola.
Juninho, 10 anos, é o filho mais velho do casal. Bom aluno na escola, tem estrutura psicológica delicada e chora em silêncio quando apanha do pai bêbado ou quando vê a mãe apanhar nas mesmas circunstâncias e também ao ser humilhado pelos coleguinhas na escola. Prometeu a si mesmo nunca colocar uma só gota de álcool na boca quando crescer.
Já Manequinho, o filho do meio, com 8 anos, tem gênio mais forte que o irmão. Revolta-se de apanhar do pai e de ver a mãe apanhando, revolta-se com a desgraça da família por causa das bebedeiras do Joaquim. Revolta-se com as risadinhas dos colegas quando chega machucado à escola, depois de ter apanhado do pai.
Cristina, a filha caçula, com 5 anos, está começando a entender a desgraça da família e a revoltar-se contra o comportamento do pai.
Uma das vezes em que Joaquim chega bêbado em casa, interpela a mulher:
- A comida está pronta ?
- Não tem comida nenhuma. Você gastou tudo com bebedeira. Não me deixou dinheiro para comprar comida.
- Vá lavar roupa, sua vagabunda !
- Vagabundo é você que não tem vergonha de deixar sua família na mão, de deixar seus filhos passando fome.
Joaquim se levanta e como um raio dirige-se ao armário da cozinha. Abre as portas e joga, violentamente, pratos, xícaras e copos no chão. O chão fica coberto de cacos por todos os lados.
Alice pacientemente varre os cacos do chão, antes que alguém pise e machuque os pés. Enquanto isso, pensa nos enormes prejuízos que o Joaquim dá, na necessidade de comprar novos pratos, xícaras e copos. Ela já percebeu que não adianta comprar pratos de porcelana fina e copos de cristal, tendo um animal desses em casa. Por isso, em sua cozinha ela tem apenas pratos de barro vagabundos e copos de vidro de requeijão. Nunca tem porcelana e cristal para servir às visitas que a recebem em suas casas muito melhor que ela.
Um dia, Joaquim chegou mais violento. Logo foi agarrando a mulher. Manequinho ouviu os gritos da mãe e veio correndo socorrê-la. Colocou-se entre o pai e a mãe:
- Você não vai bater na minha mãe !
- O quê, seu pivete ?!
Manequinho é apenas uma criança, não pode com a força bruta de um marmanjo. Foi arremessado à distância pelo pai, caindo a 3 metros de distância.
Joaquim se atraca com Alice. Derruba-a no chão. Na queda, Alice quebra o braço.
- Seu desgraçado ! Você viu o que acaba de fazer ?! Quebrou o meu braço !
- Vá procurar pronto socorro, sua vaca !
Alice toma um táxi e vai para o pronto socorro. Estava lotado. Apesar de seu caso ser urgente, só foi atendida 50 minutos depois de chegar.
- Doutor, acho que quebrei o braço.
- Vamos ver. Vou ter que tirar uma radiografia.
- E então, doutor ?
- Está quebrado mesmo. Vou mandar engessar o seu braço. Vai ter que ficar engessada por 45 dias.
Quando Alice estava deixando o consultório para ir à enfermaria engessar o braço, o médico a interpela:
- Marido violento ?
- Sim, alcoólatra. Infelizmente.
- Pois, comigo ele não me bateria ...
- O senhor é muito machista !
- Juízo, hein ?
- O senhor está equivocado: quem não tem juízo é meu marido !
Além da experiência dolorosa de um braço quebrado, ainda teve que agüentar as humilhações e brincadeiras de mau gosto de um médico machista, que tinha certeza de que Alice tinha mesmo merecido apanhar.
No dia seguinte, Alice, com o braço engessado, vai buscar Cristina na escolinha. Quando mãe e filha se encontram:
- Por que você está chorando, mãe ?
- Não está vendo que as outras mães estão rindo de mim ?
Elas já adivinharam o que aconteceu.
- Mãe, tenho vergonha do meu pai. É por isso que não gosto de trazer minhas amiguinhas para brincar comigo em casa.
Numa das vezes em que Joaquim chegou bêbado em casa, desceu o pau em cima do coitado do Juninho.
No dia seguinte, ele foi à escola com olho roxo. Os coleguinhas mais discretos limitaram-se a dar risadinhas. Um deles, mais ousado, chega para Juninho:
- Por que você está chorando ?
- Porque os colegas estão rindo de mim.
- Apanhou de seu pai, é ?
Juninho fica calado, sem responder. O colega ousado provoca:
- Além de ter pai pinguço, apanha feito mulher de vagabundo e ainda é bunda mole !
- Ah, ah, ah, ah ! Os colegas riem mais alto ainda.
Juninho sente-se muito humilhado, pensa até que é o garoto mais infeliz do mundo.
A vez seguinte foi Manequinho quem apanhou. Foi à escola com olho roxo e braço machucado. Os coleguinhas de novo provocaram:
- Seu pai te bateu ?
- Não é de sua conta !
- Pai pinguço, filho apanhando feito mulher de vagabundo !
O sangue subiu à cabeça de Manequinho. O colega valentão era bem mais forte que ele, mas mesmo assim, Manequinho se atraca com o colega provocador.
Os dois garotos caem ao chão, rolam-se na poeira. Manequinho leva socos e pontapés.
Resultado: Manequinho que já tinha um olho roxo, ficou com dois olhos roxos: Um deles por ter apanhado do pai, o outro pelo soco desferido pelo colega valentão. Não dava nem para abrir os olhos, de tão inchados que ficaram. Ficou em estado lastimável.
Alice já internou Joaquim várias vezes em clínica para tratamento de alcoólatras. Mas, não adianta. Assim que deixa a clínica, a primeira coisa que Joaquim faz é passar no bar. Para mais uma bebedeira. E não tem perseverança para freqüentar as reuniões da Associação dos Alcoólatras Anônimos (A. A. A.).
Quando Joaquim exagera nas bebidas, nem consegue chegar em casa. Fica caído na sarjeta mesmo, correndo o risco de morrer atropelado. As pessoas que conhecem Joaquim, vem avisar Alice em casa. Isso quando se dispõem a fazer esse favor. De novo, a humilhação de ver o marido degradando-se, corroendo-se, apodrecendo moralmente. Aí, Alice é que de novo tem que agüentar a barra: Chamar um táxi ou resgate para levar para casa o que sobrou de seu conturbado marido. Para, no dia seguinte, começar tudo de novo, nova bebedeira.
Por isso, o alcoolismo não é apenas uma desgraça familiar, evidentemente, mas também uma desgraça para o indivíduo que vai afundando, afundando num poço obscuro sem fim ...
(Conto baseado em história real, com nomes dos personagens trocados para preservar a identidade da família).



Jaguariúna, 18 de agosto de 2008
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