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Contos-->UMA NOITE NA ARENA -- 25/08/2008 - 18:55 (JOSÉ DAS NEVES NETTO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
UMA NOITE NA ARENA


Olha o placar, cara! Olha o placar!

Mas por mais que eu gritasse, ele não me ouvia!

Estávamos no palácio do futsal em Londrina, onde a seleção de Rolândia disputava uma final. As arquibancadas estavam lotadas. Lotadas de londrinenses, é claro. Londrinenses enlouquecidos pela sua seleção que mal começara o jogo e já nos ganhava de três a zero.

Agora tinham uma alegria extra, inesperada. No caso, a figura do meu amigo Milton - primeiro é único torcedor do time rolandiense a se manifestar naquele ambiente e situação imprópria. Com sua figura marcante: cabeleira dos tempos da jovem-guarda, magreza incomum, óculos de grossas lentes, vestido todo de branco, ele era a encarnação perfeita da minoria que todos gostamos de menosprezar e oprimir. Um cristão sendo devorado pelos leões do Imperador Severus* não seria tão divertido como o era meu amigo naquela ocasião inesquecível.

Mas o Milton - que no caso era também José, não se importava nem um pouquinho com a situação hostil. Verdade que antes de virmos para o ginásio, ele tomara quase todas; tantas que só concordei em acompanhá-lo quando ele permitiu que a Sandra – sua noiva, dirigisse o Opala envenenado. E aí troquei uma escolha ruim por outra pior: estávamos atrasados e a Sandra tinha um gosto especial pelo risco e pela velocidade, além de um pesadíssimo pezinho feminino. Mas chegamos...

Tanto eu gritei, tanto eu insisti, que ele acabou me ouvindo: “calma, dasneves! Calma que nós ainda vamos virar este jogo – ele me disse com seu jeitão e sabedoria de profeta”.

Eu, que não por acaso também me chamo José, resolvi dar uma de “Migué”. Distanciei-me um pouco dele, olhei pros lados, fingi que nada tinha a ver com a despropositada figura.

Foi quando observei uma movimentação no banco de reservas da seleção rolandiense. O técnico havia chamado o Alexandre e lhe dava instruções. Hoje, tantos anos passados, tenho absoluta certeza de que não foram exatamente aquelas instruções que o Alexandre seguiu quando entrou no jogo. Técnico nenhum pediria tanto a um só jogador. Nem mesmo ao Garrincha.

Meninão ainda, o Alexandre voava pra cima dos adversários. E driblava, e passava pelos marcadores, e tomava pancadas sem se importar – a bem da verdade, coisa que nós o ensináramos. Ainda me lembra bem as reclamações de seu pai: “eu trago o menino aqui para aprender jogar futebol e vocês só me fazem encher ele de pancadas”!

E chutava. Como chutava o José Alexandre naquela abençoada noite! E veio o primeiro gol, pra enlouquecer de vez o Milton e assanhar ainda mais a torcida adversária. Na base do um contra todos, ele continuou a gritar assim até que saiu o segundo gol.

Aí começaram a aparecer uns poucos torcedores rolandienses e outros tantos londrinenses se calaram. O terceiro gol saiu logo em seguida. O quarto calou de vez a torcida da casa.

Aí começamos todos a gritar – inclusive eu que ainda me mantinha calado.
O quinto gol foi uma festa só, naquela inesquecível noite em que os cristãos devoraram os leões na arena do imperador.


* Septimus Severus imperador romano (193-211), responsável pelo martírio de santa Perpétua em março/203.

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