- «Esgotaram-se as palavras, meu amor».
- Entre ambos?... Claro!...
O silêncio tomou-vos na repulsa.
Para além da fome, da sede, do sono e do sexo,
há sempre algo mais
que um no outro desconhecem,
quiçá tão-só uma bela borboleta
cuja existência é tão breve.
Oh, as palavras nunca se esgotam,
jamais se esgotarão
enquanto o raciocínio existir.
As palavras reproduzem-se,
aproximam-se e afastam-se,
esquecem-se e recordam-se,
morrem e ressuscitam.
Sequer nos mortos
as palavras se esgotam,
pelo contrário,
há-as de imortais finados
que brotam profusas,
imenso-intenso rio delas
que enchem sete e oito mares.
Enquanto Babel se plantar no chão
seu pico não cessará de crescer,
de mais e mais erguer-se...
As palavras não se esgoitam, meu amor.
Por isso agora as escrevo
e existirão depois de ti, de mim,
até Babel levitar
para desaparecer no espaço. |