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Infanto_Juvenil-->Verdades de um cortador de grama. -- 07/04/2004 - 08:48 (sandra ethel kropp) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Clarinha vem dizer à mãe que a máquina de cortar grama da vizinha está encostada no quintal dela.
- Como assim,filha? Eu não disse para você pedi-lo de volta? Meus pés já estão perdidos em meio ao mato de tão alta que está a grama lá no fundo da casa.
A vizinha Dolores era uma mulher amável e bondosa. Agradava Clarinha e a eles presenteando-os com bolachas, doces que ela mesma fazia. Clara era a netinha que ela não teve, e sabia que não teria. Sua única filha mudara-se para o exterior e não casara, e dizia que jamais se casaria. Seu marido falecera há três anos, e desde então sua única companhia era Martinha, a empregada de vinte anos com quem brigava de meia em meia hora. Dolores estava envelhecendo e sua paciência vinha se reduzindo. A memória também já não era a mesma. Esquecia-se de devolver o que tomava emprestado com bastante freqüência, como acontecera com o cortador de grama.
- Mãe, continuou Clarinha....Ela me deu esse vidro de bolachas de presente e eu não tive como recusar....Eu gosto dela.. Ela ficou me contando umas historias de quando ela era pequena. Como era na sua cidade. Sabia que ela nasceu no interior da Itália?
- Ela deve ter contado varias historias, não é? Afinal, você esteve lá mais de uma hora e eu lhe pedi apenas para pedir o cortador de grama.
- É que eu tenho vergonha de pedir, mãe. Parece que a gente não quer que ela use as nossas coisas...
- Não filha, não é isso. Nós sempre emprestamos. Mas a mamãe precisa cortar a grama, e ele está com ela a mais de um mês.
- Mas ela não cortou a grama ainda, mãe. O quintal dela está pior que o nosso.
- Bem, se ela precisar de novo, a gente empresta. Mas hoje é nosso dia de usar. O cortador é nosso, e a gente pode educadamente pedi-lo de volta.
- Então porque você não pede?
- Eu achei que você não fosse se envergonhar. Afinal ,você sempre gostou tanto de ir lá...É como se fosse uma netinha para ela.
- Mas eu tenho vergonha de falar não. Eu podia pedir, ela dizer que ainda não usou e eu ficar com vergonha de dizer que não. Então preferi não pedir.
A mãe ficou pensando em como pedi-lo de volta sem magoar Dolores. Mas o cortador era dela, e ela precisava dele naquele momento. Seria muita arrogância sua chegar lá apenas para pedi-lo de volta. Ficou ensaiando como se aproximar delicadamente e no final da conversa, aproveitar o ensejo para levar o cortador.
- Que é que você está parada ai pensando, mãe? indagou Clarinha, que não dava um minuto de trégua, principalmente nos momentos de indecisão.
- Nada, nada, nada....ou melhor, tô pensando como pedir pra ela o cortador.
- Como assim?
- Como chegar na casa dela e levar o cortador de volta sem que ela sinta-se magoada.
- Mas você não disse que é normal isso?
- Disse. Mas pensando bem....
- Ah, mãe. Já entendi. Por isso que você pediu pra mim. Você também tinha vergonha de chegar lá só pra isso.
- Você ta doida? Eu pedi pra você porque imaginei que não seria complicado...
- Mãe, você acha que só porque eu sou menor eu também não me sinto envergonhada, com medo, essas coisas?
- Eu sei que você se sente. É que o mundo das crianças é menos complicado que o dos adultos. Tudo que a criança faz é sem maldade.
- Quer dizer que meu irmão queimou o rabo do gato sem maldade?
- Filha, dá um tempo. Cê entende o que eu estou falando. Seu irmão é uma peste e quer chamar a atenção. Porque a conversa chegou até aqui se a única coisa que eu preciso é meu cortador de grama?
- Mãe, chegou porque a gente quase nunca conversa. Precisou aparecer um simples cortador de grama para alongar nosso papo. Sabe que eu gostei de saber um pouco do que você pensa!
- Mas não é isso que eu penso. Eu continuo achando que eu tenho o direito de pedir meu cortador de volta, só não sei como.
- Ta bom, mãe. Mas graças a Deus descobri que você é que nem eu. Você também tem um pouco de medo das coisas.
- Medo de pedir um cortador?Como eu posso ter esse medo?
- Mas você tem, mãe. E ai está ele. Vamô sentar lá dentro e conversar um pouco,mãe? Depois você corta a grama. Deixa nosso papo crescer que nem cresce grama,mãe. Naturalmente.
- Filha, quantos anos você tem mesmo?
- Doze. Você esqueceu?
- Não...é que eu estava lembrando de quando você pulava o muro pra ir na casa da Dolores ganhar bolacha....

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