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Discursos-->50 Anos da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira -- 26/12/2002 - 13:09 (BRUNO CALIL FONSECA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Discurso do Senhor Secretário-Geral das Relações Exteriores, Embaixador Osmar Chohfi, por ocasião dos 50 Anos da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira

São Paulo, 11 de abril de 2002.

Há pouco mais de um ano, estive na Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, que me concedeu o honroso título de sócio honorário nº 1. Hoje, mais uma vez, graças à generosidade de Paulo Sérgio Atallah e dos amigos que compõem a Diretoria, retorno ao seu convívio nesta que é ocasião significativa de congraçamento e intercâmbio de idéias. Expresso meu profundo reconhecimento por esta homenagem e meus agradecimentos a todos que estão aqui presentes e que compartilham estes momentos de júbilo e emoção. Parece-me justo iniciar minhas palavras pela frase final da alocução que fiz em janeiro de 2001, tendo em vista a continuidade do ideal de aproximar o Brasil dos países árabes. Naquela oportunidade, mencionei a necessidade de fortalecer o “sentimento de fraternidade que liga nossas sociedades e culturas e do potencial de cooperação que vemos para o futuro.”

Faço uma pequena divagação sobre o sentido dessa fraternidade. E a faço com imenso orgulho, uma vez que busco a definição da palavra no recém-publicado Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, de autoria de um diplomata brasileiro descendente de imigrantes libaneses. Ali reaprendo não apenas o sentido do radical latino frater – “irmão pelo sangue ou por aliança” –, mas também uma das quatro definições de fraternidade: “a harmonia e união entre aqueles que vivem em proximidade ou que lutam pela mesma causa.”

Parece-me emocionante, poder falar de fraternidade e utilizar, para sua melhor compreensão, a obra de um descendente de árabe que produziu um dos dicionários mais importantes da língua portuguesa. E, como significativo traço de união, e de afinidade, de alguém que também se desincumbiu com alto profissionalismo das suas tarefas diplomáticas, que incluíram a defesa, a partir dos anos 60, da autonomia e da liberdade dos povos colonizados. A fraternidade também me faz evocar, aqui, a memória e o exemplo de meus familiares, a começar por meu pai, Michel Chohfi, cujo nome está inscrito na Ata de fundação da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, em 1952. E ainda o trabalho de Ragueb Chohfi, meu tio-avô, que presidiu esta entidade de 1965 a 1970, e de meu primo, Lourenço Chohfi, presidente entre 1983 e 1986.

Por um dos prodígios da vida, vejo-me agora, como sócio honorário, na outra face dessa moeda familiar, que possui especial valor por unir as iniciativas dos empresários e do Governo. Tenho em mim, portanto, como Secretário-Geral das Relações Exteriores, como membro de uma família que se dedicou à atividade empresarial, como descendente de sírios e, sobretudo, por minha adesão ao princípio da fraternidade, uma sensível aptidão para estimular toda iniciativa que vise à aproximação entre nossos povos e o aprimoramento das suas relações.

E quando digo “tenho em mim”, eu quero dizer “temos todos”. Descendentes como eu daqueles que juntos vieram para o Brasil e aqui estabeleceram, pouco a pouco, a maior comunidade de sírios e libaneses no exterior. Como observei durante cerimônia recente no Clube Atlético Monte Líbano, estou convencido de que nós e nossos ancestrais – e talvez muito mais os nossos ancestrais – agimos verdadeiramente como instrumentos da integração nacional. Em busca de oportunidades e da prosperidade, entramos território a dentro e nos distribuímos por diversos Estados do Brasil. Como mascates, estendemos nossa presença aos lugares mais remotos e desassistidos, e chegamos a vilarejos e povoações que mal possuíam estradas ou vias de acesso. Quando vemos a irradiação do trabalho daqueles imigrantes na vida comercial, financeira e industrial do Brasil – bem como a representação que se faz sentir no âmbito político –, nos inteiramos de que aquela atividade do mascate, insistente, pioneira e negociadora produziu excelentes resultados. É permanente o reconhecimento pela terra que os acolheu integrando-os tão generosamente no conjunto da sociedade brasileira. E imaginar de que maneira, no seio da fraternidade que formamos no Brasil, puderam eles e as gerações subseqüentes retribuir a acolhida. E felizmente podemos retribuir – porque vitoriosos em nossos múltiplos empreendimentos – com as diferentes obras e entidades que erigimos no campo social, benemérito, cultural e religioso e que tantos e inestimáveis serviços prestam à comunidade como um todo.

A Câmara de Comércio Árabe-Brasileira possui esta vocação fraternal. No ano em que comemora os seus 50 anos de existência, é com satisfação que percebemos as realizações já cumpridas. Caberá a ela, em associação com outros órgãos, projetar nas relações econômicas a enorme dimensão das relações de amizade e de apreço que já se consolidaram entre o Brasil e os países árabes. Graças a um trabalho intenso de montagem de parcerias e estratégias, as exportações brasileiras para aquele grupo de países alcançaram mais de U$ 2,2 bilhões. O resultado reflete, com excepcional vigor, o conjunto de esforços empreendidos na organização de missões empresariais, seminários, encontros, feiras, e eventos setoriais e multilaterais, em que são tratadas as oportunidades, algumas até então desconhecidas, dos diferentes mercados. A prosseguir nesse passo, poderemos gradualmente equilibrar o peso ainda dominante do comércio de petróleo. Pois, como ensina o famoso provérbio árabe, “o rato que só escapa para um buraco é rapidamente caçado.” Além disso, reconheço como um dos pontos mais elogiáveis da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira a adoção de uma postura pioneira, que consiste em também apoiar de forma eficiente os exportadores brasileiros na conquista de mercados árabes, e também ajudar o acesso ao mercado brasileiro. A existência de escritórios comerciais em Belo Horizonte e Curitiba, além de uma antena nos Emirados Árabes Unidos, demonstra o ritmo irrefreável da expansão desses interesses.

É com satisfação que vejo o importante papel do Itamaraty nesse processo de dinamização das relações comerciais entre o Brasil e os países árabes. Existe uma rede de Embaixadas e Consulados que está à inteira disposição da iniciativa privada brasileira, e pronta para apoiá-la nos diversos aspectos de sua inserção em mercados internacionais. É ainda com esse objetivo que o Departamento de Promoção Comercial do Itamaraty está diretamente envolvido na organização e acompanhamento de diversas missões empresariais, que culminaram com a ida de uma Missão Empresarial ao Golfo Arábico, em janeiro de 2002. No próximo mês de maio, devo realizar uma visita oficial à Arábia Saudita, ao Kuaite e aos Emirados Árabes Unidos, para manter contatos de natureza política de alto nível que possam aprimorar o já excelente relacionamento do Brasil com aqueles países.

Permitam-me fazer agora um comentário que se refere a outra ordem de coisas. Às vezes, na busca de soluções criativas, somos surpreendidos por circunstâncias que, em poucos meses, mudam a percepção sobre um conjunto de valores socioculturais que nos parecia remoto: refiro-me, especificamente, a uma popular novela que permitiu chamar a atenção para aspectos da cultura e da vida cotidiana dos países árabes e, assim, estimular o interesse pela região.

Meus amigos,

Nossas relações com os países árabes se desenvolvem, como é óbvio, no panorama mais geral de nossa atuação internacional. Gostaria de ressaltar que é uma característica da política externa do Presidente Fernando Henrique Cardoso a determinação de que as negociações e a cooperação no campo econômico e comercial estejam balizadas pelo estabelecimento de um novo contrato internacional, que inclua temas tão importantes como o da segurança, o da defesa da democracia e o dos direitos humanos, do meio ambiente e da justiça social, a fim de favorecer a correção das assimetrias e propiciar um desenvolvimento mais harmônico do conjunto das nações.

O Presidente da República também acredita que a globalização deve dar-se no contexto de um conjunto de valores que transcendem a mera noção de mercado e que há que tomá-los em conta para que a globalização não resulte oposta ou contraditória às promessas com as quais acena. Um desses valores é certamente o da solidariedade e para realizá-lo é indispensável obter padrões mais equilibrados e menos assimétricos no comércio internacional.

Tem sido essa a sua determinação e a sua lição, a partir do momento em exerceu a chefia do Ministério das Relações Exteriores. A diplomacia presidencial consiste em mostrar o novo perfil brasileiro e despertar ou reativar o interesse pelo País, contribuindo para a elevação do nível do relacionamento com diversos parceiros e a ampliação de oportunidades para a promoção de interesses nacionais.

É importante lembrar que os eventos de 11 de setembro passado produziram dramáticos efeitos no cenário internacional. O Brasil tomou uma posição ativa no âmbito da Organização dos Estados Americanos e propôs a convocação do Tratado Interamericano de Assistência Recíproca, para, através de seus dispositivos, combater o flagelo do terrorismo, dando projeção hemisférica a normas que já fazem parte da nossa Constituição. Temos, por tradição, uma política de moderação construtiva, que corresponde, no fundo, a um apelo à razão e ao diálogo.

É inspirado nessa adesão do Brasil aos conceitos de fraternidade e solidariedade que faço menção à questão do Oriente Médio, que nos preocupa e cujo impacto quotidiano nos atinge diretamente. É inaceitável a escalada de violência que está comprometendo a paz e a estabilidade na região. Desde que o conflito se agravou, o Brasil tem salientado a necessidade de respeito às normas de Direito humanitário internacional e conclamado os povos da região a dedicar todos os esforços à consecução da paz, com justiça para todos. Condenamos e deploramos atos de terrorismo que vitimam civis inocentes em Israel, mas também repudiamos o uso excessivo e desproporcional da força por parte das forças militares israelenses nos territórios ora reocupados e instamos a retirada imediata das áreas sob jurisdição da Autoridade Nacional Palestina, ao mesmo tempo em que solicitamos a suspensão imediata das limitações à economia e as restrições à livre movimentação dos líderes palestinos, inclusive do Presidente Iasser Arafat. Aprovamos também a recente iniciativa do Príncipe Herdeiro da Arábia Saudita, realizada pela cúpula de Beirute.

Reitero as palavras do Presidente Fernando Henrique Cardoso, no sentido de que medidas urgentes devem ser tomadas para propiciar o estabelecimento de um Estado Palestino democrático, unido e economicamente viável, tendo em conta o direito do povo palestino à autodeterminação. Apoiamos também a existência de Israel como Estado soberano, livre e com fronteiras seguras. Nesse sentido, o Governo brasileiro já anunciou sua disposição para participar de todo e qualquer esforço internacional, em especial com base nas decisões, recomendações e resoluções da ONU e de seu Conselho de Segurança, com vistas a que se chegue ao objetivo de liberdade política, paz, estabilidade e prosperidade no Oriente Médio.

A fim de manter transparentes as ações do Governo brasileiro em relação ao agravamento do conflito no Oriente Médio, e de continuar a informar os Governos árabes sobre as medidas que estamos tomando no esforço da comunidade internacional para obter um cessar-fogo na região, organizei uma reunião na Secretaria-Geral com o Conselho dos Embaixadores dos Países Árabes. E há exatamente uma semana, na sessão de perguntas e respostas após intervenção no Senado Federal, o Chanceler Celso Lafer expressou, de maneira muito eloqüente, as posições objetivas e equilibradas do Brasil sobre a questão.

Assim temos tido atuação nos desdobramentos do conflito que, muitas vezes, dada a convivência pacífica entre as comunidades árabes e judaica em nosso país, traz contornos para nós incompreensíveis. Mas buscaremos sempre, como Governo, capitalizar, no Brasil e no exterior, o fato de que dispomos da maior população árabe no mundo, fora do Oriente Médio e África do Norte. E é por isso que, em conclusão, saúdo e celebro a importância da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira na construção de uma relação amistosa e harmônica entre o Brasil e o mundo árabe. Paz e prosperidade são ideais que também se atingem através do comércio, palavra que significa, em uma de suas acepções originais, convivência .Recupero, ao final, a palavra “fraternidade”, e a ela agrego a palavra esperança. Esperança que é espera e expectativa. Mas que, estou seguro, poderá transformar-se naquela esperança que, como define de novo Antonio Houaiss, é o “sentimento de quem vê como possível a realização daquilo que deseja”, de quem tem “confiança em coisa boa” e mantém a fé.

Temos motivos para comemorar os 50 anos desta entidade, que se empenha “pela harmonia e união entre aqueles que vivem em proximidade ou que lutam pela mesma causa.”

E eu, como todos nós, ainda espero muito da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira.



Muito obrigado.


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