Governar Não É Preciso
(por Domingos Oliveira Medeiros)
Para ser bom presidente
Bem votado na eleição
Basta só muito carisma
E ótima divulgação
Não precisa ter dinheiro
Basta ser sempre o primeiro
Na pesquisa de opinião
Seguir à risca o projeto
Mudar seu comportamento
Andar muito bem vestido
Evitar enfrentamento
Calçados sobre medida
Fala mansa e decidida
E prestar o juramento
Que, se acaso eleito,
Cumprirá todo contrato
Não esquecer o sorriso
Modificar seu retrato
Mostrar autoconfiança
Apostar na esperança
Um estadista de fato
Conquistar muitos amigos
Perdoar os ofendidos
Ampliar as alianças
Agradar desiludidos
Praticar a tolerância
Respeitar a militância
Aguçar os seus sentidos
Evitar qualquer debate
Falar pouco de improviso
Ser um pouco engraçado
Muito riso e pouco siso
Não dizer coisa com nada
Ter a meta planejada
E um discurso conciso
Depois que assumir o cargo
Continuar prometendo
Resolver tudo a contento
Dizer que já está fazendo
Está tudo planejado
Dentro do negociado
Alguma coisa revendo
E quando alguém reclamar
Do tempo que está passando
E que não está vendo nada
Do que se vai programando
Basta pedir paciência
Apelar pra consciência
De quem vive reclamando
Aí entra o estadista
Bom e fiel companheiro
Mostrando conhecimentos
De médico e engenheiro
De medicina neo-natal
De engenheiro florestal
Ou mesmo de jardineiro
Pede calma e pouca pressa
Pois até o pé de feijão
Leva meses para colher
Depois de sua plantação
E a barriga de criança
Só começa a encher a pança
Com nove de gestação
E trocar logo de assunto
Quando aumentar a pressão
Que copia o Fernando
A quem fazia oposição
Dizendo que no passado
Estava do lado errado
E mudou de opinião
Juntou-se aos desafetos
Deu o braço a burguesia
Trocou amigos diletos
Faz tudo que não fazia
Viaja por todo o mundo
Ajoelha-se para o Fundo
Banqueiro tem primazia
Faz o jogo do agiota
Pede dinheiro emprestado
E culpa os inativos
Pelo rombo encontrado
Na Previdência falida
E a todos intimida
Se o projeto for mudado
Ameaça companheiro
Que tem outra opinião
Todos eles obrigados
A se unir na votação
Exemplo de liberdade
Imposta, é bem verdade
Com promessa de expulsão
Parece que o bom moço
Empolgou-se de repente
Fala mal do Judiciário
Do Legislativo ausente
Deu até pra blasfemar
O santo nome tomar
Pra impressionar a gente
Disse que tudo fará
Que só Deus impediria
Das reformas aprovar
Quebrando a soberania
Nem o Congresso Nacional
Nem a Justiça, afinal
Atrapalhar, poderia
Ser presidente é moleza
Governar, não é preciso
Basta ler muito discurso
Evitando o improviso
Agradar quem tem dinheiro
Desprezar o companheiro
Muito riso e pouco siso
LULA, se Deus, realmente, for brasileiro, conforme diz a voz do povo, que Ele me perdoe, mas não acredito que o Pai, que é bom, justo e misericordioso, irá concordar com a reforma da Previdência, nos termos como o governo pretende aprová-la. Seria um pecado mortal. Além da manifesta inocuidade e inconstitucionalidade de que se reveste a medida. Essa matéria, nem Pôncio Pilatos, se deputado fosse, lavaria as mãos. Recado de um aposentado.