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Contos-->O OUTRO EU -- 11/08/2008 - 20:07 (JOSÉ DAS NEVES NETTO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

- Não acenda a luz!
- Por que não posso acender a luz?
- Porque a luz, dissipando as trevas, dar-lhe-ia a falsa impressão de que está só!
- Eu estou só!
- Está mesmo. Tem certeza?
- Tenho absoluta certeza de estou só, deitado em minha cama, em minha casa e é madrugada!
- Ei! Não me faça rir! Se você está mesmo só, o que teme? O ruído das coisas que o vento agita no telhado? As sombras do seu quarto? Ou teme os passos da chuva lá fora?
- Eu nada temo! Quem é você?
- Calma lá, sou seu amigo! Quero apenas conversar. Aliás, você me conhece melhor que a si próprio!
- Não me canse. Quero voltar ao meu sonho.
- Porque o sonho?
- Por que no sonho estávamos, ela e eu...
- Ei! Você está enganado meu caro. Quem estava no sonho era eu! Dela nós falaremos depois. A propósito, você não está mesmo com medo?
- Não. Não estou com medo!
- Bem. Já que você não está com medo, vou fazer uma pergunta séria. Responda com sinceridade. Agora, agora que você já é um homem feito, leu muitos livros, amou muitas mulheres, conheceu da vida as coisas boas e más, transmutou-se num intelectual, um filósofo...
- Não permito que você zombe de mim!
- Perdão, eu estava mesmo brincando. Pois bem, agora você já consegue viver sem Ele?
- Bem... na verdade... na verdade, não muito bem. Sabe, são essas falsas noções que nos incutem na infância e que acabam nos perturbando pelo resto da vida!
- Que nos incutem na infância ou que nos impõem na maturidade?
- Que quer você dizer com isto? Que eu não sou inteiramente livre quando creio ou não creio, faço ou desfaço?
- Não. Não quis dizer exatamente isto!
- Então, quem pergunta agora sou eu! Você acha mesmo que eu seria mais feliz se voltasse a acreditar n’Ele? Não se esqueça de que, não interferindo Ele no curso natural das coisas, eu continuaria vivendo a mesma vidinha miserável de sempre. Quer cresse, quer não cresse!
- Esqueça a pergunta. Falemos de outras coisas. Falemos das mulheres.
- Por que das mulheres?
- Mulheres, porque não? Acaso não gasta você a maior parte do tempo de sua preciosa vida pensando nelas? A propósito, quantas, digamos, quantas você já consumiu?
- Consumi?
- Sim. No sentido de que esgotaram o seu interesse por elas, individualmente falando.
- Não sei mais quantas.
- Consegue ver nelas algo além de, digamos novamente, um objeto de consumo?
- Bem... Ainda não. Não exatamente...
- E que restou das mulheres que, perdoe a repetição, digamos, você consumiu?
- Restaram umas poucas lembranças. Lembranças boas, lembranças más, horríveis lembranças, às vezes.
- E o “incidente”?
- Não me fale do “incidente”!
- Antes não tivesse havido aquele dia, não é mesmo?
- Sim. Antes não tivesse havido aquele dia!
- Viu até onde pode levar essa sua maldita mania de consumo?
- Vi sim. Enxerguei perfeitamente. Aliás, não é bem u’a mania. É... É uma espécie de... compulsão!
- E ela?
- Não brinque comigo! Você sabe quanto eu a amo. Você sabe que pelo amor que ela inspira, eu estarei um dia acima dos meus próprios vícios, das minhas fraquezas, das minhas vaidades. Vencerei a inércia que me prende, trilharei meus próprios caminhos e escreverei meu próprio destino. Serei outro eu!
- Bravo, meu amigo! Você acabou entendendo. Acabou entendendo que esse ser mesquinho, consumista, iludido, triste de se ver, é você. Que o ser ideal, feliz na sua perfeição, sou eu. Que você está partido em dois e caminha inexoravelmente para o Nada, sem sequer ter existido, sem ter vivido a sua integridade e plenitude! E você sabe que do Nada não ressurgirá!
- Maldição...
........

- Não chore. A vida ainda é bela! Ouve, está chegando a manhã de um novo dia! As árvores e os pássaros cantam lá fora!
- Eu só ouço os pássaros.
- Que pena! Permite uma última pergunta?
- Sim. Liquide comigo.
- A que mais ama você: as pessoas, os animais, as árvores, os pássaros, ou as coisas que suas mãos podem fazer ou seu dinheiro pode comprar?
- Amo mais as coisas que posso fazer e as pessoas ou coisas que posso comprar.
- Lamento. Lamento profundamente que assim seja. Você está todo errado, completamente perdido, meu outro - eu! Tchau!
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