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Artigos-->A Guerra de Canudos Não Acabou -- 04/12/2002 - 17:04 (Domingos Oliveira Medeiros) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A Guerra de Canudos Não Acabou

(por Domingos Oliveira Medeiros)



A Campanha de Canudos, (1896 e 1897) , retrata, em síntese, os sangrentos combates de quatro expedições militares, que se insurgiram contra o arraial denominado “cidade santa”, construído no município de Monte Santo, no nordeste da Bahia, às margens do rio Vasa Barris, por Antônio Conselheiro, líder religioso que fazia suas pregações pelos sertões brasileiros, nos estados do Ceará, Pernambuco, Sergipe e Bahia.



Antonio Conselheiro nasceu em Quixeramobim, no Ceará, em 13 de março de 1830. Abandonado pela esposa, passou a dedicar-se à pregação de cunho religioso e político, arrebatando muitos fiéis pelos lugares por onde passava.



Seu trabalho consistia, basicamente, além da pregação, em construir ou restaurar capelas, igrejas e cemitérios. Chegou a suscitar desconfiança dos padres da época, a ponto de o bispo da Bahia, através de circular, proibir aos fiéis de assistirem suas pregações.



Tudo começou em 1893 quando o governo central autorizou os municípios a realizarem cobranças de impostos no interior, que acabou por provocar uma revolta na cidade de Bom Jesus, onde os editais de cobrança foram arrancados e queimados.



Naquela ocasião, Antônio Conselheiro, juntamente com cerca de duzentos seguidores, deixam o local e seguem em direção ao norte da Bahia. Após um combate com as forças militares, em que saiu vitorioso, os rebeldes montaram acampamento numa fazenda de gado abandonada, à margem do rio Vasa-Barris, onde surgiu o povoado de Belo Monte ou Canudos.



Em Canudos, a esperança dos sertanejos de melhoria de suas condições de vida acabou por consolidar a comunidade, liderada por Antônio Conselheiro, que tomaram posse da terra, dos rebanhos e passaram a viver do trabalho coletivo. “Os conselheiristas, como eram chamados, acreditavam estar na lei de Deus, ao passo que o regime republicano, que instituíra o casamento civil, era visto como a “lei do cão”.



Esta conotação, digamos, política, despertou a idéia de que os rebelados pretendiam restaurar a monarquia. Fato, aliás, posteriormente contestado, posto que os rebeldes consideravam a monarquia uma entidade mística e utópica que, tal como a república, não possuía conteúdo político real, no entender de Antônio Conselheiro.



No Rio de Janeiro, o governo central preparava a primeira expedição para dar combate aos rebelados. Sem sucesso. Foram derrotados pelos jagunços. O governo ainda sofreria mais três derrotas. Até que, na quarta investida, conseguiu seu intento.



Depois da morte de Antônio Conselheiro, em 22 de setembro de 1897, muitos jagunços abandonaram a luta. Em cinco de outubro morriam os últimos jagunços. O corpo de Antônio Conselheiro teve sua cabeça decepada e, no dia 6, o arraial foi incendiado.



Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha, ensaísta e narrador de “Os Sertões”, nasceu em Cantagalo, Cidade do Estado do Rio de Janeiro, em 20 de janeiro de 1866. Cursou a Escola Superior de Guerra, onde concluiu os cursos de artilharia, engenharia militar, estado-maior e bacharelou-se em matemática, ciências físicas e naturais. Em 1903, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras.



(*1) “Viveu a infância e a adolescência em fazendas e cidades fluminenses, junto aos tios que o criaram a partir dos três anos, quando perdeu a mãe. Em 1885 entrou para a Escola Politécnica, trocando-a um ano depois pela Escola Militar. Por atos de indisciplina, entre os quais ante a revista do ministro da Guerra atirar ao chão o sabre que deveria apresentar-lhe, em 1888 foi expulso do Exército. Passou a assinar colaboração para A Província de S. Paulo, combatendo o governo e pregando a república. Reingressou na Escola Politécnica e, proclamada a república, foi readmitido no Exército e promovido.”



(*2) “Designado professor coadjuvante da Escola Militar, passou a escrever artigos sobre problemas políticos e sociais. Em 1895 deixou o Exército e dedicou-se à engenharia civil. Em 1897, depois de publicar em O Estado de S. Paulo dois textos sobre a campanha de Canudos, foi convidado pelo jornal a ir à Bahia, onde presenciou os últimos momentos do conflito, matéria-prima de Os sertões (1902)”

.

(*3) “Eleito em 1903 para a Academia Brasileira de Letras e para o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, no ano seguinte partiu para a Amazônia como chefe da comissão de reconhecimento do alto Purus: a experiência durou até 1905, inspirando-lhe o projeto de nova obra, Um paraíso perdido, que jamais escreveria”.





Euclides da Cunha, em sua obra principal, Os sertões, é um ensaísta e narrador de grande originalidade. Nesta obra, pela primeira vez, ele consegue mostrar um Brasil até então desconhecido. Justamente na época em que prevalecia um ufanismo exagerado sobre a nossa pátria. Um otimismo e um orgulho sem bases de sustentação convincentes. Tanto do ponto de vista geográfico, como pelo lado do social. A face desconhecida da fome e da miséria de uma imenso contingente populacional marginalizado pela civilização litorânea, através da citada obra, acabou por vir à tona.





Misturando o estilo romântico e o rigor científico, a obra produz um novo estilo, que se sobrepõe ao estilo de origem da narrativa. “O resultado é uma linguagem singular, de vigorosa força dramática e ritmo febril, em que se confundem a fúria primitiva e o apuro civilizado. O leitor é arrebatado por uma irresistível vocação para o épico e depara com um heroísmo telúrico em que desponta pela primeira vez, sem concessão ao exótico ou ao pitoresco, e na própria substância da linguagem, a verdadeira paisagem e o verdadeiro homem brasileiro. (...) Mas nem o determinismo geográfico, nem o etnocentrismo de base colonialista o impediram de uma idealização em sentido contrário, que faz do sertanejo um herói "homérico", um "titã", um forte”(...).



Desbravador, Euclides da Cunha trouxe para o primeiro plano o homem do interior do Brasil, "ensinando-nos - na expressão de Guimarães Rosa - o vaqueiro, sua estampa intensa, sua humanidade, sua história rude". Por isso se consagra como alicerce da consciência nacional, porta-voz de um otimismo crítico e sem veleidades ufanistas.





“Os sertões têm por tema os personagens e cenários da insurreição de Canudos em 1897, no nordeste da Bahia. Divide-se em três partes -- "A terra", "O homem", "A luta" --, ao longo das quais o autor analisa as características geológicas e hidrográficas da região, sua flora, sua fauna e a gente sofrida que faz a história daqueles dias: gente convulsionada pela esperança messiânica e pelo desespero social, capaz de resistir até os últimos frangalhos humanos”



Mas o trágico da história acabou invadindo a vida do escritor. Euclides da Cunha trabalhou no Itamarati ao lado do barão do Rio Branco. Em 1909 prestou concurso para a cadeira de lógica do Colégio Pedro II. Pouco tempo depois a tragédia bateu-lhe às portas: surpreendido pelo adultério da mulher, procurou o amante (que era oficial do Exército, e atirador) e tentou sem êxito alvejá-lo, sendo morto com um tiro no coração, no Rio de Janeiro, em 15 de agosto de 1909. Seu filho, anos mais tarde, ao tentar a vingança, teve a mesma sorte.



A Campanha de Canudos é, na realidade, um retrato, sem retoques, de uma parte sofrida deste imenso país. Que, apesar de decorridos mais de um século, continua com problemas parecidos, de população desesperançada, de regiões inóspitas e desconhecidas da maior parte da população litorânea e dos grandes centros urbanos.



O processo político continua abafando classes menos favorecidas. E já alcança classes mais superiores. A classe média, por exemplo, dita formadora de opinião, perdeu o acesso às informações governamentais. Nada se revela ao povo. As decisões são tomadas em gabinetes fechados. E quando a coisa não dá certo, basta usar a cadeia de televisão e improvisar algumas desculpas pouco convincentes.



Multiplicam-se as lideranças semelhantes àquelas exercidas por Antônio Conselheiro, no que diz respeito ao seu espírito de luta e persistÊncia aos objeetivos. Elas estão por todos os lados e em todos os movimentos. Movimentos dos sem terra, dos sem teto, dos desempregados, dos que lutam em defesa da natureza e do meio ambiente. Dos que se unem no combate à fome, - que grassa neste país -, a despeito de suas dimensões continentais e de sua diversidade de climas. Jovens e crianças continuam morrendo por inanição ou por desnutrição.



E, vez por outra, líderes de comunidades pacíficas são assassinados. E pouco se faz para punir os responsáveis. Processos se arrastam por anos e anos nos escaninhos da Justiça. E agora, mais recentemente, um governo se despede. E ficamos sabendo que ele deixa a casa para o novo inquilino em petição de miséria. Oito anos para cuidar da casa. E o resultado é assombroso. Montanhas de dívidas para serem pagas. Rachaduras nas paredes e no teto. Na cozinha, desabastecimento total. Não há alimentos para todos. A energia foi cortada. A conta continua alta. Nada se fez para melhorar a iluminação da casa. Mas o inquilino que sai continua sorrindo. Acreditando que fez muito pelo país. O mesmo ufanismo de cem anos atrás.



E assume, no lugar do Antônio Conselheiro, outro nordestino sofrido. Desta vez de Pernambuco. De nome Luiz. De apelido Lula. Que tal como Euclides da Cunha, teve sua passagem por São Paulo. E pretende, de igual modo, escrever mais uma história de lutas pelo bem estar social e pela liberdade do povo brasileiro. Esperemos que destas vez dê tudo certo.



Domingos Oliveira Medeiros

04 de dezembro de 2002



Fontes de pesquisa: Lingua e literatura – Volume 1 e 2, De Furaco e Moura e (* 1,2 e 3) Barsa Consultoria Editorial Ltda.









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