Marquinhos desce a escada correndo, amedrontado e fala para a mãe:
- Mãe, eu encostei a porta do quarto para abrir o meu baú, e tem um gigante escondido atrás da porta, mãe.... Sobe comigo, por favor...
- Como é este gigante, filho?
- Não sei direito porque eu não fiquei olhando. Eu fiquei tão assustado, que vim logo...eu quero te mostrar, tenho certeza que ele ainda está la.
- Deixa eu acabar de preparar o bolo, fica aqui comigo e a gente já sobe, senão a massa do bolo vai ficar ruim.
- Mas mãe, eu quero pegar aquela bola de basquete que faz tempo que não jogo, e o papai me prometeu quando chegasse jogaria comigo.
- Filho, ainda são duas horas, o papai só vem as cinco e meia. Voce já acabou a lição?
- Não, mãe, eu to com medo de sentar na escrivaninha de costas para o gigante, e ele pode me pegar.
- Filho, você viu algum livro na escola sobre gigantes?
- Não, mãe.
- Sonhou?
- Não, mãe. Mãe, você não está acreditando em mim?
- Lógico que estou, filho- continua a mãe já colocando o bolo na assadeira para ir ao forno. Mas estou tentando te ajudar, porque gigantes só existem na nossa imaginação, ou nos livros e filmes, que você sabe que são inventados pelas pessoas.
- Vamo, mãe, você já acabou..
- Vamos, filho....
O menino dá a mão para a mãe, e sobe a escada amedrontado. Logo chegam à porta do quarto, e ele fala:
- Mãe, vai voce primeiro...
- Ta bom, filho.
Eles entram, a mãe encosta a porta, olha para o baú.
O menino grita:
-Falei, mãe... olha o gigante, olha, olha, to com medo. Mãe, você também ta gigante, mãe, e o menino começa a chorar.
A mãe pega-o no colo, acalma-o e diz:
- Filho, você ta crescendo, logo será um homem. Veja que gigante bonito você está se tornando. E é você mesmo.
Ela pegou a mão dele, segurou forte e aproximou-se do espelho.
- Filho, quem está no espelho?
- Você e eu, mãe.
- Então, vamos chegar mais perto para vermos que os gigantes não são tão “perigosos” assim?
Ela encostou-o no espelho, ainda segurando sua mão, e continuou:
-Tá vendo, o gigante é do seu tamanho.
Ele ficou se olhando como se nunca tivesse admirado a si próprio. A mãe apenas observava, e lentamente e muito delicadamente soltou sua mãe da dele, quando percebeu que estava mais tranqüilo.
- Mãe, como pode a gente ver a gente mesmo fora da gente?
- Filho, vamos procurar sua bola de basquete?
- Ta bom, mãe.
Marquinhos tinha apenas cinco anos. Ainda era tempo de brincar no quintal de casa. Mas não ficaria no quintal por muito tempo.Ele cresceria. Ficaria gigante, certamente como o pai, com mais de um metro e noventa.
|