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Contos-->POR QUE PETRÔNIO NÃO GANHOU O CÉU -- 29/07/2008 - 20:04 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
POR QUE PETRÔNIO NÃO GANHOU O CÉU

Francisco Miguel de Moura*


Depois do que aconteceu a com Petrônio e Plutarco, inclino-me a pensar no mistério da transmigração das almas. Elas não são solitárias nem presas à mesma criatura. Assim também os anjos-da-guarda, os bons e os maus, os irresponsáveis e os insensíveis, os preguiçosos, os perversos e os caducos.
Plutarco era um dos anjos bons da guarda de Pet. Petrônio era apenas apelido, por acréscimo, que lhe foi dado por um cronista social. Vem do tempo de sua ascensão política a senador.
- Pet é frescura - dizia o cronista entre os de sua laia. - Petrônio é um nome que enche a boca. - E registrou-o várias vezes em sua coluna do jornal «Folha da Tarde». E o senador termina trocando o nome pelo apelido.
Dos demais anjos de Pet, ninguém teve notícia. Que vagabundos! Plutarco foi seu fiel escudeiro em vida, nos momentos do transe e na morte.
Mas, no terceiro dia do velório, o corpo desapareceu, deixando parentes, amigos, políticos e correligionários em situação aflitiva, sem saber o que explicar ao povo pela inexistência do enterro e desaparecimento dos restos mortais de tão grande homem.
Era madrugadinha, já todos tiravam seus cochilos, quando deram pela falta.


1.

Depois de seis noites mal-dormidas (porque Pluto pressentiu no exato momento em que Petrônio estava morrendo, só não podia provar) e o advento do misterioso acontecimento, Plutarco quase enlouquece. Foi então que lhe veio a idéia maluca de conhecer a aurora do mundo e dali passar a outros planetas, outras esferas. E saiu por aí, sem dinheiro, sem identidade, sem água nem comida - tal como estava no velório. Não lhe viera, até então, a menor vontade de investigar sobre seu amo. É que essas mensagens chegam sem aviso, num sopro. Só recebeu um toque, na última hora.
De andarilho, não tinha nem a roupa nem o jeito. Mas tomou, firme, a primeira estrada. Perdidas as asas, não desesperou. Depois de percorrer ásperos caminhos, durante tanto tempo, só e por isto já a pensar que ficara mudo, eis que encontra um velhinho de cabelos brancos. Tudo o que conduzia era o bordão, a roupa surrada e suja, uns óculos escuros, e nada mais.
Dizia o velhinho para consigo mesmo, sussurando:
- «Assim, vejo melhor, eles transformam as coisas e deixam do meu gosto. Basta colocá-los um pouco levantados sobre o nariz para que sinta o cheiro do horizonte. O que é negro, vira branco; o que é branco, vira preto. Meus ouvidos ouvem mais, meus nervos vibram... Tudo, tudo em harmonia...»
- Como, titio?
- Tudo em harmonia, o velho acentuou.
- Como assim?
Plutarco pergunta com pressa, sentindo já uma pontinha de angústia. Seu plano (secreto) é ir ao céu, de passeio. E que na volta possa contar de tudo um pouco. De Deus e dos homens, isto é, das almas que lá estão, inclusive a de...
Naquele instante, os cabelos arrepiaram, os pelos dos braços e das pernas, o corpo todo estremece.
- Seria alma penada? Ou o demônio que...?
Não chega a pronunciar a frase. O velho corta o silêncio como se adivinhasse:
- Não, meu filho, eu sou Josué.
- O profeta?
- Isto, isto. Mas tudo em harmonia, meu filho.
E na mesma hora levanta a bengala, os movimentos do bastão acompanham-lhe a expressão do rosto. Era como se fosse desferir-lhe um golpe na cabeça. E bateu com a vara. Mas desviou-a para o chão. A luz naquele momento brilhou numa intensidade de raio. Como se houvesse baixado uma lanterna do infinito.
- Isto mesmo. Se é do seu desejo, me siga.
Imediatamente levantam vôo, cortam o ar como gaivotas, como andorinhas. E desaparecem no nevoeiro que rolava pelas camadas superiores.

2.

- Pronto, seu Pedro, disse Plutarco.
- E ele, o velho? Quem é?
- Não sei. A terra é tão grande e o céu é ainda maior, seu Pedro!
- São Pedro, ele conserta.
E prossegue:
- Sim, sim, pois conte sua história. Aqui todos têm uma, é diferente de lá. Como é seu nome?
- Set. Porém me chamam também de Pluto, Plutarco.
- Ah! Por quê? E onde ficaram suas asas? Tomou estas de empréstimo a quem? - perguntava enquanto ia passando a mão sobre o mensageiro, com gesto carinhoso de quem está penalizado.
- Sou o sétimo da família, mas talvez nem seja por isto.
- Ah, sim, já sei.
O velho guardião do palácio celeste pegou de um livro mofento e bastante volumoso e foi desfiando uma história muito antiga. Lia: «Os irmãos Pet e Cam...» Em seguida retificava: «Aqui, antes havia o nome Abílio, que foi riscado.» E pára.
Quando Pedro volta, Pluto disfarça fazendo qualquer coisa como amarrar o cadarço dos sapatos. E o outro pega um livro mais novo e tenta iniciar a história de Pluto a Pluto.
Era interrompido a toda hora, educadamente, através de um «com licença», «um instantinho», «por favor», «peço a palavra» e expressões outras de impaciência simulada:
- Meu santo, preciso de conhecimento é dos outros. Comigo está tudo normal.
- De quem, por exemplo, meu filho? É pecado bisbilhotar a vida alheia.
- De Pet e Cam, os irmãos. Por favor, meu santo, volte ao outro livro, aquele mais velho de todos. É uma história bem antiga mas me interessa. Sou historiador.
Pluto intrometia-se. Além de perguntas e observações inoportunas, cortava o fio da conversa com pequenos casos ou episódios pitorescos. O santo estava prestes a aborrecer-se, quando aconteceu o inesperado, o inacreditável. O velhinho, que sumira por alguns instantes, reaparece de forma surpreendente. Pluto já nem lembrava que tinha sido seu companheiro numa boa parte do caminho. E que ele se desgarrara durante uma tempestade, no percurso. Como o tempo é diferente naquelas esferas! Morto de cansaço, num vôo rasante, pousa entre Pedro e o historiador. Os dois quase morrem do susto. E os três caíram num vácuo tremendo.
Lá embaixo as coisas mudaram. Pluto (também conhecido por Set) estava presente. Pedro, já não era mais visto. E de dentro das cinzas do passado, agora surgiam Pet, Cam e outra figura que tomara o lugar de Pedro. Era o Aparecido.
- Por que ele desapareceu? Pet consegue arti- cular.
- Quem é você? o Aparecido pergunta, sem que parecesse dirigir-se especialmente a ninguém.
- Eu sou o Mestre... - Ouviu-se um som gutural muito forte e bastante alto, desproporcional à sombra que o emitia.
- Mestre? Não o conhecemos, respondem Cam e Pet, quase que ao mesmo tempo e num mesmo tom de voz.
A partir dali todos emudeceram. Espanto, medo, cansaço, indecisão. E com poucos instantes arrimavam-se, um a um, às pedras da encosta do monte. E começam a cochilar. Depois dormem em sono profundo. E viajam noite a dentro, longa noite, por estrelas e galáxias.

3.

Agora, o Aparecido encompridava a história de Pet e Cam, contando-a como se tudo estivesse acontecendo hoje - aquela mesma que São Pedro não quisera contar a Plutarco, no céu:
- O Mestre me contou que os dois meninos se encontravam sozinhos, no meio do mundo, naquele jardim florido e frutificante. Há poucos instantes estavam com seus pais. Agora estes já não existem. Mesmo assim, Pet e Cam crescem, há clareza diante de ambos, por dentro, e serenidade por fora. Percebem que estão nus e precisam de roupas. Logo se cobrem com folhas e palhas, amarrando-as com embiras. O jardim é verde de doer nos olhos e largos são os horizontes descortinados. A visão se expande por através de serras e nuvens, como se a sabedoria lhes abrisse a mente.
Mãe! era o grito. Pai! era o sussurro.
E os pais aparecem, dão as determinações, e somem outra vez.
Eles se emocionavam sem saber porque as coisas aconteciam (ou se lhes apresentavam em movimento). Milagres! exclamavam, exaltados, em forma de grunhidos misturados com outras vozes. Porque ninguém, até ali, falou. Tudo era só pensamento e obra. Palavra: zero. Logo que a cobra apareceu, de olhos em brilho e chocalho bimbalhando, abriram os ouvidos e começaram os desejos imensos, escandalosos, ruins. Foi aí que Pet saiu colhendo os frutos para o almoço e Cam matando os bichos que encontra pelo caminho. O sol começou a esquentar, depois a chuva veio vindo.
Concordam em fazer uma casa onde se protegerem do sol e do frio, do sereno da noite e dos bichos da floresta, onde guardar os frutos, a caça e a pesca.
No primeiro relâmpago, ajoelham-se, contritos e cabisbaixos, e pedem o fogo. E o fogo foi feito aos seus pés, vindo pela mão de um homem sem pés (nem cabeça) que planava as asas e lavantava baixos vôos.



4.

- Quem é você? - finalmente eles balbuciam.
- Eu sou o Aparecido, venho da parte do Mestre.
- Pois nos ensine a falar - Cam e Pet solicitam com gestos e palavras titubeantes.
Aí começaram seu trabalho. Nomeam aquilo que a vista alcança. Tudo virgem. A bananeira que lhes tinha dado roupa, a melancieira que lhes matara a sede, o arbusto da mandioca para o fabrico da fainha; o cabrito que balia, o pato grasnante, a galinha a cacarejar, a cobra silvando e a deslisar rapidamente sobre a areia do deserto. Dali foi só um passo até chegarem às palavras abstratas, à frase sedutora. Cam aprendeu mal, gaguejava, esquecia os nomes e se atrapalhava na construção da frase; Pet, ao contrário, era de uma clareza indescritível, falava sonoro e o discurso era seu canto e sua arma.
Depois de algum tempo na descoberta da flora e da fauna, Pet sai, encobre-se na vereda, com o propósito de procurar a mãe e o pai. Deixa Cam cuidando da casa e dos bichos. Que a cobra não viesse esconder-se nas brechas das paredes. Das aves, o outro apanharia os ovos. Na terra, que cultivasse o milho e o feijão. Da mandioca, aprendesse a tirar a farinha do sustento, o pão com o suor... Ele, Pet, nascera para correr mundo, viajar por serras e vales, conhecer mares e rios, até que... Um dia, cansado, subiu ao topo do mais alto monte da terra, e já ia pedir a Deus para voar de novo... Alongando a vista, vê uma terra nova, fresca, verde, serena, povoada por outros parentes, «irmãos» e «irmãs», onde produziam arroz e trigo, e viviam felizes. Os pais daquela gente morreram, soubera por intuição. Já era homem em pleno uso da razão, dos sentidos e dos sentimentos. A população mundana crescera. Crescera a ponto de não se saber mais quantos eram. Mas ali falava-se a mesma língua que ele, pois se comunicara rapidamente, como num sonho maravilhoso. Os costumes diferiam. Pet teve que render-se a eles, com o tempo e a prática diária. Estranharam sua sinceridade, sua bondade. Embora entendessem tudo, faziam ao contrário do constante nas tábuas da lei e da consciência. Como se fosse outro reino, outro país.
A primeira reação foi voltar para Cam - ir viver, por algum tempo, naquela terra primitiva, arredado da civilização maior, só os dois em pleno campo, de acordo com as leis da natureza e da vida simples. Entretanto, aconteceu um imprevisto: a aparição de uma mulher encantadora, de quem ficou logo enamorado, a qual fê-lo recuar. Logo casou e teve filhos e filhas. Filhos que, por tantos serem, nem lhes podia decorar os nomes. Inventava um para cada, ao nascer, depois esquecia para sempre. Experimentou gravá-los em pedra, quando não mais era tempo. Alguns dispersaram-se, outros morreram. Mas teve sorte, Pet. Viveu até inventarem o papel. E com sua habilidade de criar palavras e frases (e disfarçar), torna-se orador oficial de sua comunidade, em toda festa, fosse de aniversário, falecimento ou de comemoração de mitos cuja origem e significados perderam-se na noite dos acontecidos e imaginados. Pet deitava frase por cima de frase, impressionante, como se empaiolasse milho ou rapadura na dispensa. Dizia tudo de forma bonita, orgulhoso como um pavão. Era por causa de sua bela figura, qual uma estátua grega antes de existir a Grécia? Ou seriam mesmo os sons que levantavam vôos e revôos de sua boca, iguais ao canto de passarinhos canoros engaiolados? Foi arranjando palavras, inventando, ele mesmo escrevia-as. Na primeira reunião comunitária convocou o povo da tribo para eleição geral. Candidatou-se e foi eleito. Tornou-se grande por sua habilidade, maior que a dos embaixadores, mais encantadora do que os gestos das misses nas passarelas. Na verdade, era comedido no comer, no beber e no gastar, avarento, e cobiçoso das coisas alheias. E foi ficando pior, muito pior, com o passar do tempo, já esquecido do berço e das raízes, dos ensinamentos que seus pais lhe haviam oferecido. Com jeito todo especial de bajular autoridades, arranjava os melhores cargos só para os seus parentes. De assim em assim, do senado passa ao ministério. O ministro mais forte e mais sortudo, com chance de ser o próximo presidente.
Ia tudo muito bem, quando estabeleceu-se no país uma epidemia de febre que atacava de modo especial as crianças. A mortandade era tão grande que foi preciso trazer médico do exterior para que produzisse vacina capaz de sustar a peste. Era uma autoridade, o Dr. Pennaforte. Havia laços de amizade (e sangue) com o país de Pet, através da esposa do esculápio. O plano do cientista para liquidar com a moléstia era certeiro. O ministro da área, com ciúmes, não o aprovou. Intromissão de um estrangeiro na saúde dos seus compatriotas? Nunca. E os dois travaram pela imprensa, e antes nos bastidores, uma longa batalha de acusações e palavras inúteis.
Pet, tão envolvido com a economia e a política geral, nem pôde botar um pouco de água fria no caldeirão. O cientista, desgostoso, arrumou as malas, e o ministro da saúde continuou mandando e desmandando, e as crianças morrendo ou inutilizadas pelo mal, que desde então passa a atacar também a população adulta. O próprio senador torna-se vítima de seu amigo, o ministro, acometido que foi da tal moléstia.
Durante o entrevero do cientista com o ministro, o senador faz um discurso emocionante, o mais belo de sua carreira. Nunca ninguém ouvira tantas palavras bonitas em tão pouco tempo, nem vira pessoa alguma ser tão aplaudida com aquela sinceridade e aquele fervor. Os acadêmicos da tribo estiveram presentes à solenidade. Todos ficaram impressionados. Um deles, com mais de cem anos, sucumbiu. Foi um alvoroço. Mesmo já tendo morte certa e esperada pra tão próximo, o fato contribuiu para a comoção geral.
- Arre! O tiro saiu pela culatra. Já não bastava essa febre que não pára, meu Deus? E a briga do ministro com o Dr. Pennaforte?
Pet sentiu-se frágil. Como ia controlar seu povo?
Vai que o que ele pensava que só pensara já tinha saído. E foi logo retrucado por um dos membros da Academia, justo seu presidente:
- Não, senhor senador, pelo contrário. Agora nós temos a honra de oferecer-lhe uma cadeira onde possa sentar-se.
- Mas nunca publiquei obra nenhuma. E pelo es- tatuto, já ouvi...
- Basta o discurso de hoje, para que ninguém mais reclame.
- Não, não, Eu já tenho o senado e...
- Nada disto. Se ele não morresse, morreria eu, com muito prazer. Para criar a vaga.


5.

Assim Pet foi eleito acadêmico, com a satisfação de toda a Academia, num fim de semana em que vinha atender aos políticos e eleitores da cidade onde começara sua ascensão. Visava cargo maior na hierarquia do país. Porém jamais confessara de público. Era seu segredo.
A epidemia matava sem piedade e Pet se esbaldava no desmentir notícias aberrantes da imprensa, no fazer entrevistas e contactar com autoridades. Esteve a ponto de tramar a queda do ministro que fora nomeado por sua obra e graça e pedir a volta do cientista.
A morte foi mais traiçoeira. Ele sucumbiu mas ninguém sabia nos três dias seguintes: segredo de Estado. Demoraram a dar a notícia, temiam convulsionar a população já assombrada com a mortandade. A cor das ruas era o preto do luto. Toda família tinha um anjinho doente ou levado pelo mal. Agora era o senador quem ia. Outros adultos engrossavam o livro de registro de óbitos. Algumas bocas malditas diziam que assim fora melhor. Talvez a morte facilitasse a resolução dos muitos problemas que pendiam.
- «Ele era um trapalhão!»
Pet não teve tempo nem de saber como iam os parentes que deixara (Cam, naturalmente, tinha descendência). Já planejava procurá-los, era uma nova frente que se abria para as eleições. Família é sempre sangue.
Cam quase ficara só. A maior parte de seus filhos morreu. Alguns netos e bisnetos escaparam. E ele ainda vivia, apesar de em bem avançada idade. E sabiam da vida e poder do mano que se expatriara. Claro, alguns representantes estiveram no funeral do parente célebre («e mau», murmuravam). Quantos anjos do céu não torciam contra ele? Se não fosse a sua inércia, se tivesse demitido o ministro (e para isto Pet tinha poder) - estariam todos salvos, felizes, cantando a glória e o poder do parente.
A família do irmão cuidou de tudo. Pet fora transportado para sua terra de origem. Era desquitado algumas vezes. Filhos e ex-mulheres não compareceram. Os outros cuidados também foram tomados: caixão, sepultura, missa, recomendação, discurso fúnebre. Porém ficaram chateados porque houve outra demora - não prevista - para o enterro: a posse na Academia. O corpo embalsamado, nada sofreu, claro. Mas a alma... Plutarco, o anjo preferido de sua guarda, foi despachado rapidamente até São Pedro. Quando voltou - voltou triste e chocado, chorando. Por quê? Ora, ora, por quê? Seu Pedro ficou cinco noites sem pregar o olho, esperando a chegada de Pet. Quando o prazo expirou, e a prorrogação, não teve mais conversa - mandou fechar o livro e a porta. O enviado tentou parlamentar, mas o porteiro disse que era caso perdido.
- Veja só, Pluto, as nossas leis são estas. Era uma alma muito cheia de pecados. Mas a todos nós perdoamos, ele confessou-os antes da morte. Agora, este! Depois!... Essa vaidade, não!
- «Vanitas vanitatum, et omnia vanitas!»

6.

E, até agora, o processo de Pet - revisão de sua vida, seus pecados, suas virtudes, sua liberdade ou condenação - emperra-se no foro celestial, não obstante a diligência...
- Minha, rapidamente acode Plutarco. - Graças ao meu trabalho, sem ajuda de ninguém. Sou um anjo sozinho. Meus irmãos se dispersaram.
- É verdade, disse o Aparecido. - É verdade!
- Mas, me diga, Mestre, há esperança?
- Da parte do Mestre, eu digo: A esperança não morre, é eterna. Entretanto, nada melhor para punir a vaidade dos homens do que o esquecimento.
Disse e desapareceu.
- Magister dixit.

_____________________
*Francisco Miguel de Moura, poeta, romancista, contista, cronista e crítico literário, mora em Teresina – Pi, já publicou 32 livro. E-mail:franciscomigueldemoura@superig.com.br
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