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Artigos-->Para que um dia todos possam apreciar a Bienal do Livro -- 13/04/2001 - 22:51 (Fernanda Duclos Carisio) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Praia, futebol, shopping têm toda a semana, mas BIENAL DO LIVRO só de dois em dois anos. Todos os meios de comunicação têm divulgado insistentemente esse acontecimento, no entanto, existem no Brasil mais de 30 milhões de pessoas para quem este é um prazer proibido. São mais de 30 milhões de cidadãos de segunda classe - brasileiros com mais de 18 anos e que não sabem ler. Brasileiros que não têm acesso a jornais, revistas ou livros. Mas, principalmente, são brasileiros dependentes.

Talvez você nunca tenha pensado nisso, mas quem não sabe ler depende da ajuda de terceiros para as coisas mais simples: saber o preço de um produto num supermercado, que pratos estão sendo servidos num bar ou restaurante, entender uma placa de sinalização de rua, localizar o endereço de um amigo...

Esta não é uma situação nova. Há anos os administradores se defrontam com esse quadro de milhares de brasileiros adultos analfabetos ou semialfabetizados. Ainda na década de sessenta Paulo Freire levantava a bandeira da educação “Não tem a ingenuidade e supor que a educação, só ela, decidirá dos rumos da história, mas tem, contudo, a coragem suficiente para afirmar que a educação verdadeira conscientiza as contradições do mundo humano, sejam estruturais, superestruturais, ou interestruturais, contradições que impedem o homem de ir adiante. As contradições conscientizadas não lhe dão mais descanso, tornam insuportável a acomodação... A alfabetização, portanto, é toda a pedagogia: aprender a ler é aprender a dizer a sua palavra. E a palavra humana é criadora: é palavra e ação.”

Na década de setenta Oliveira Lima definia o “Impasse na Educação”: “O Administrador terá que optar, finalmente, entre educação de crianças e de adultos. (...) Sem medidas heróicas jamais sairemos do impasse, já que o crescimento orçamentário das verbas de educação não pode acompanhar a explosão populacional e, ao mesmo tempo, ampliar a rede escolar para receber os marginalizados (os que ainda não tiveram chance de cursar determinados graus escolares para os quais estejam aptos)”. Para Margaret Mead “Ainda são os adultos as pessoas de maior influência, maior responsabilidade e maior poder na sociedade. Instruir os adultos, pois representa empresa mais urgente, senão mais vantajosa (do que instruir crianças ou adolescentes). ... os adultos necessitam de orientação e instrução a fim de poderem modificar as relações que lhe parecem desumanas.”

Não queremos e não podemos conviver com essa “Escolha de Sofia” - educar adultos ou educar crianças. Num país onde o desemprego cresce a cada mês temos obrigação de buscar todos os meios possíveis para dar a todos o acesso à educação.

Adultos e crianças precisam ter acesso a educação tanto para que possam buscar novas chances no mercado de trabalho, como, principalmente, para que possam, como queria Paulo Freire: “questionar a realidade das relações dos indivíduos com os outros e com o mundo que os envolve. E onde detectar uma situação de opressão, que lesa a liberdade concreta, de ser mais, e de dizer o desejo de ser mais, provocar a reação organizada contra a situação, para transformá-la, isto é, para a verdadeira libertação...”

É com a consciência dessa situação, portanto, que consideramos que temos um papel a cumprir nessa iniciativa voltada para promover o “Ensino Fundamental para todos os Cidadãos” e que agrega governo municipal, governo estadual, universidades, organizações da sociedade civil, organizações não governamentais, representantes de entidades sindicais.

Os bancários tem sido um dos pioneiros no movimento sindical no Rio de Janeiro na discussão e na prática da formação, da qualificação e da requalificação profissional. Nosso Centro de Formação Paulo Freire vem se destacando na busca de caminhos que permitam não só qualificar profissionalmente o bancário e o ex-bancário, mas, principalmente, qualificá-lo para compreender e questionar as modificações sofridas no mundo do trabalho.

A idéia de promover a educação básica e do ensino fundamental gratuitos para todos os cidadãos adultos do Brasil parece grande demais. No entanto, uma vez estabelecidas as necessidades e os objetivos, nos vemos diante do que serão as tarefas: articular as organizações que atuam com o esse mesmo objetivo, trabalhar na captação de recursos para aportar em programas e projetos e da busca do apoio da sociedade civil organizada, dos órgãos e instâncias de Governo e também de organismos internacionais.

O movimento sindical pode e deve desempenhar também a sua parte nesse projeto. A Central Única dos Trabalhadores, através do seu presidente Vicente Paulo da Silva e dos seus sindicatos filiados pode ter um papel fundamental não só na aglutinação dos interessados em ter acesso a essa educação, mas, principalmente, na definição de que tipo de educação será transmitida. A busca da educação libertadora e questionadora passa pela participação consciente e ativa de todos aqueles que nela acreditem. Nós estamos procurando fazer a nossa parte. E você?



Fernanda Carisio

Presidente do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro

Publicado em "O Globo" em 28/04/1999
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