Não é só na Usina que se nota, neste caso através da expressão lusófona, que a humanidade não está nem anda bem. Os mais diversos meios de comunicação que, cada vez mais, se estendem pelo mundo, vão-nos informando que a maioria das horas perpassam negras no mostrador da evidência. Todavia, aqueles que ainda - escrevi ainda - nos informam, tal como eu em muito ínfimo grau, são os que menos sofrem e vão tendo o privilégio de ultrapassar as muralhas do silêncio onde a vida deveras decorre aos gritos, ou, gritando-se intensamente para o vazio íntimo, nada se ouve.

Assim, quando logro o estado de espírito em que estou agora, de imediato constato que, apesar dos meus constantes protestos reclamativos, vivo num país em privilegiada existência, sem nunca esquecer que foram os meus antepassados guerreiros, também entre periclitantes horas negras, que lutaram até às raias do sangue para sedimentar a certitude neste chão onde vou levando os meus dias. No entanto, à franca luz do raciocínio lúcido, interrogo: quantos deles agiram muito mal para que eu usufrua agora deste tão suportável menos bem?...

A minha vida, ao cabo de 66 anos, tem sido um constante "se-não-fosse-assim-era-assado"... Se não tivesse nascido em Portugal, preferia ter nascido em França. E porquê?... Porque em 1976 foi um país que me acolheu naturalmente e a sua política de "liberdade-fraternidade-igualdade" permitiu-me fruir largos dias de vida tranquíla e feliz. E se eu tivesse emigrado para a Austrália, teria porventura hoje à minha beira um simpático canguru?!...

Bem, e em suma, chegado aqui, em termos de horizonte futuro, rebuscando algo de válido, do saco da minha existência, para exibir, pronunciarei: quanto mais me desfaço do ego, mais tenho a sensação de me sintir melhor. Mesmo em face da morte, a pior de todas as coisas... Dizem!...