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Cronicas-->Sonata na terra do axé -- 29/06/2005 - 09:01 (Paulo Maciel) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
SONATA NA TERRA DO AXÉ

"Mas eu tive os risos da ventura
cantei as cantigas da alegria."

De Dinorah Souza Liberato de Mattos, na poesia Rouxinol.

Quando ingressei no banco, em 1953, ele possuía dois contadores: José Macedo de Aguiar Liberato de Mattos, que veio a ser homenageado pelo presidente da República, em 1984, como o mais antigo bancário da América Latina, e Vivaldo Bonfim dos Reis, que usava o título de Chefe da Contabilidade.
Enquanto seu Liberato conferia os balancetes das agências e produzia os documentos contábeis do banco, seu Vivaldo, que era o homem mais forte de então, criava os planos de contas, planejava a modernização contábil da empresa e fazia o relacionamento dos órgãos administrativos da Matriz com o presidente, dr. Miguel Calmon.
Liberato era o perfeito burocrata, amante da exatidão dos serviços, severo, seco, conciso, ríspido, conservador, insípido; já Vivaldo era exatamente o oposto: estróina, desabusado, liberal, inovador, corajoso, rebelde, generoso, de vida muito aberta e destemperada. À época, depois do presidente, era quem mandava no banco.
Eu me lembro que quando cheguei transferido de Serrinha para a Matriz, fui me apresentar a Vivaldo e não ao chefe do Serviço de Pessoal. Ele me olhou de cima a baixo, perguntou se eu era bom datilógrafo, que serviços conhecia e me designou para substituir um colega do Serviço de Pessoal que entrara em férias.
Mas, o objetivo deste texto não é falar dos antigos contadores do banco, mas de dona Dinorah, esposa de Liberato, que acaba de falecer, aos 96 anos.
Embora os funcionários tivessem um relacionamento social muito grande, com festas dançantes na Colónia de Férias, almoços e jantares em casas de diretores, recepções para comemoração de eventos importantes, a gente não conhecia dona Dinorah. Liberato era tão fechado, sisudo, tradicionalista, que guardava a mulher em casa. Pelo que sei ela só participava de reuniões da família, coisa de muita intimidade.
Assim, quando ele morreu, em 1992, foi uma agradável surpresa conhecer sua mulher, uma senhora muito simpática, baixinha, com belos cabelos brancos, olhos vivazes e enternecedores, aprumada e firme, e sabê-la escritora, poetisa.
Quando ficou sozinha, parece que dona Dinorah desabrochou para a vida: já no passado, nosso jornal fez uma entrevista com ela e publicou trabalhos de sua autoria. Depois, ela se tornou sócia da APECOS e passou a frequentar nossas reuniões mensais, quando usávamos uma sala da ECOS, no antigo endereço da Fundação, participando ativamente dos assuntos da pauta.
Periodicamente, visitava a ECOS, onde fez muitas amizades. Ela cativava o pessoal do Atendimento e quantos a conheciam.
Em 1998, aos 92 anos, publicou seu quarto livro - "Voando sem Destino" - , com quase 200 páginas, contendo poesias, pequenas histórias do cotidiano, reflexões sobre pessoas e a vida, abordando assuntos como prevaricação, adultério e homossexualismo, revelando uma verdadeira fotografia de sua alma sensível, apaixonada e sem preconceitos.
Não sei ao certo, mas acredito que ela se foi docemente, deixando um rastro luminoso de pureza, um canto de lirismo neste mundo cheio de desalento e violência.

Salvador, 5 de julho de 2003
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