O voto é secreto, mas é só chegar a época das eleições que os carros se enfeitam com adesivos e bandeirinhas, as casas recebem decorações especias e as roupas passam a ser estampadas com rosto e número dos candidatos.
Tal fato ocorre tanto pelo orgulho e admiração, quanto à tentativa de convercer o próximo de que seu candidato deve ser o eleito. Embora, às vezes também aconteça por puro interesse por parte dos políticos em dar vários brindes que possam iludir
o eleitor e fazê-lo "feliz", tendo como conseqüencia o recebimento de votos.
É um tipo de propaganda silenciosa e barata, movida apenas pelo sentimento de cooperação.
Só que a memória do brasileiro é fraca. Alguns nem mesmo lembram-se em quem votaram nas últimas eleições. Só têm interesse nos benefícios que receberão em troca do voto, e nada mais. Depois a política se apaga de suas cabeças, como se a mesma não tivesse nenhuma relação ou interferência em suas vidas.
Reclamam dos preços, da violência, dos baixos salários, mas não têm sequer a coragem de cobrar atitudes por seus votos.
Mas agora, passados quase dois meses das eleições, todos começam a recolher suas
bandeiras e tirar a decoração.
Os carros voltam ao normal, sem todos aqueles apetrechos políticos. Mas ainda há uma barreira que os impeça de serem os mesmos: as marcas. As marcas deixadas pelos adesivos. O que antes era um orgulho, passa a ter ponta de arrependimento.
Por mais que se tente, ainda resta pelo menos um pouquinho dela, e para tirá-la, só
pagando algum serviço, para não prejudicar a pintura ou qualquer outra parte do carro
em que os adesivos foram colados.
E quando o assunto passa de política para dinheiro, ainda mais quando se trata da "perda"
deste, o brasileiro fica ainda mais angustiado. E só assim, é que a política pode deixar
lembranças. Marcas como essas são difíceis de esquecer. Estas são as marcas que ficam.