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cronicas-->Vou abandonar um velho amor -- 17/06/2005 - 11:34 (Paulo Maciel) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Vou abandonar um velho amor

Conheci o Grand Hotel cá d Oro, em são Paulo, por acaso, faz já uns quinze anos, e foi um amor à primeira vista.
Em seu clássico restaurante, conheci também Atico, seu maitre, baiano como eu. Ele, de Monte Santo e eu de Juazeiro, ambos com raízes catingueiras. Estabelecemos desde então uma boa camaradagem.
A descoberta do hotel aconteceu graças a uma dessas reuniões programadas para acontecer no seu Centro de Convenções, com entrada pelarua Avaiandava.
Indo da Bahia exclusivamente para participar do tal encontro, resolvi hospedar-me no próprio hotel, por medida prática.
Até então, meu alojamento em São Paulo era o Othon, uma homenagem anónima que sempre prestei aos amigos Bezerra de Mello de Pernambuco. Onde há um Hotel Othon, ou Monte (também pernambucano, dou preferência a eles!).
Mas, no caso do Cá d Oro tudo concorreu para que se estabelecesse uma relação intensa e duradoura, a começar pela minha identificação com sua política de pessoal: eles valorizam a prata da casa adotando o velho e bom "sistema de carreira fechada", ou seja, promovendo o desenvolvimento dos empregados que ali começam bem jovens.
Assim, anos após anos tratando com as mesmas pessoas, bem educadas e simpáticas, na recepção, na tesouraria, no restaurante, na reserva, você termina se sentindo em casa.
Recepcionado com alegria a cada vez que chega ao hotel, com o passar do tempo aquele ambiente se torna tão conhecido que você o incorpora ao seu pequeno mundo familiar.
No meu caso, e para completar a sedução arrasadora, ainda houve uma situação absolutamente extraordinária.
Certa vez, ao registrar-me na recepção, Roberto, um de seus chefes, indagou-me se eu ainda estaria no hotel no dia seguinte.
À minha resposta afirmativa, entregou-me um convite da diretoria para o coquetel que seria oferecido aos hospedes, clientes do restaurante e amigos, para comemorar os trinta anos de atividades do Grupo no Brasil.
Compareci ao evento com um amigo e pude assim participar do mais excepcional coquetel de minha vida.
Segundo soube depois, pelo Ático, eles prepararam um buffet para mais de mil pessoas e receberam efetivamente uns trezentos e pouco convidados, que se banquetearam como verdadeiros reis.
A recepção foi oferecida nos espaços onde se realizam as convenções e ocupou seis amplos salões.
Em cada um deles o ambiente estava decorado em harmonia com uma determinada região da Itália, com produtos e objetos tipicos.
E, requinte dos requintes, alem de um bar com espaçoso balcão, os salões se enchiam de vinhos, queijos, salames, conservas e comidas as mais variadas das seis regiões ali representadas, desde a sofisticada culinária do Norte à picante do Mezzogiorno.
Dezenas de garçons, orquestrados pelos quatro maitres da Casa, serviam ainda o farto e legitimo whisky e deliciosos salgadinhos, embora o melhor da festa estivesse realmente nas cozinhas de cada salão.
Cheguei pouco antes das oito e sai muito depois da meia noite, certo de que nunca mais veria nada igual, por mais que vivesse.
Outra experiência que me deixou cativo de seus executivos aconteceu em 1986 quando passei uma semana de férias em São Paulo, acompanhado da mulher, de minha filha mais nova e seu marido.
Cedendo à sugestão de Sónia, que pretendia conhecer o mais luxuoso hotel da cidade, e aproveitando uma promoção que reduzia sua diária à metade, fiz reservas nele e no dia certo apresentei-me com a família em sua recepção.
Com aquele jeito superior dos arrogantes quando tratam com gente modesta, o gerente perguntou-me se eu tinha reservas. Respondi-lhe que as fizera há mais de trinta dias, que gozava de um desconto de cinquenta por cento e entreguei-lhe o voucher da agência de turismo .
Com ar distante, digitou seu terminal de computador e logo me informou que meu nome não constava dele. Teria que aguardar enquanto atenderia outras pessoas e iria fazer umas verificações. Irritado, cansado, cheio de malas (eram treze horas, um calor infernal e eu estava chegando de carro, de Baurú) fiquei por ali, perdido, enquanto ele bajulava novos hóspedes que lhe pareciam importantes.
Não aguentei! Peguei o telefone em cima do balcão, ao seu lado, liguei para o Cá d Oro e perguntei a Roberto se ele me arranjava dois apartamentos. .
Disse-me que eu fosse para lá que daria um jeito.
Mandei o pedante gerente para aquela parte e corri para o meu hotel onde, ao invés de dois apartamentos fiquei numa belíssima suíte para dois casais, a um preço especial.
Como deixar de apreciar tanta gentileza?
Só mesmo um motivo de força maior me faria trocar o Cá d Oro por outro hotel e é isso que vem acontecendo desde que o Plano Cruzado se acabou.
Primeiro, foram os preços de suas diárias que dispararam em relação ao crescimento dos nossos salários, tornando-as cada vez mais caras, sobretudo depois que passaram a ser fixadas tendo o dólar por paràmetro.
Depois, resolveram cobrar pelo serviço de café da manhã, até então incluído na diária.
E, por último, são os preços do restaurante!
A esse respeito, vale contar o que me aconteceu a semana passada, quando desci para jantar no seu famoso restaurante.
Estava sozinho, mas resolvi comer bem.
Assim, pedi um pouco de cada coisa do antepasto, comi penne à arrabiata e mamão por sobremesa, tudo isso acompanhado por meia garrafa de um vinho tinto, nacional.
Ao conferir a conta, depois do cafezinho, constatei que o antepasto custou
$-2.400,00, a massa, $-2.300,00, o vinho $-1.300,00, a sobremesa, $-700,00 e o couvert
$-900,00, tudo que totalizava $-7.600,00.
Não obstante, havia mais uma despesa, de $-5.200,00, sob a discriminação de v.uni.
Certo do equivoco quanto a essa cobrança, reclamei-a ao garçom que, muito polido, informou-me tratar-se dos quatro camarões servidos com o antepasto: v.uni significava valor unitário, ou seja, que a Casa cobrava $-1.300,00 por cada camarão!
Apesar do susto, de sentir-me ludibriado e explorado, assinei a nota de $-12.800,00 e ainda deixei $1.000,00 de gorjeta.
Foi a refeição mais cara de minha vida e o fato que me levou a pensar em abandonar esse velho amor.
Talvez ainda me hospede no cá d Oro, mas em seu restaurante só volto quando for convidado...
25.08.88
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