- O que você quer ser quando crescer, Luiz? -, perguntou-me a adorável professora da escola pirmária.
Era a professora Heloísa, a melhor professora do mundo. E também a mulher mais bonita que existia na face da terra. A minha primeira professora. Com ela tive as primeiras noções das coisas, sempre com sua voz mansa, terna e muito compreensiva com as nossas dúvidas. Adorava o ditado quando ela recitava aqueles poemas lindos para a nossa fantasia infantil, nossa, como eu guardo tão bem guardada essa voz da pessoa por quem eu tinha - e tenho ainda hoje - uma verdadeira veneração.
- Eu professora? -, inquiri timidamente e meio sem jeito.
- Sim, Luiz, você mesmo! -, insistiu com aquele seu jeito carinhoso de abordar todas as crianças da classe.
Fiquei confuso. Confesso que me perdi no meio dos meus desejos. Ouvia-lhe a voz em eco nos meus ouvidos, a ponto de fazer a maior misturada de tudo na minha cabeça.
- Quando crescer? -, rebati com insegurança buscando uma idéia na cabeça.
Enquanto perguntava, eu imaginava, será, não sei, talvez jogador de futebol. Não, acho que não, não daria certo. Motorista de ônibus, ah! isso sim, levaria a professora, os meus pais, minhas irmãs, meus coleguinhas, tudo para passear. Sei não... acho que não... Ah! cantor, podia cantar as músicas mais bonitas, mas será que eu poderia cantar tão bonito assim? Sei não...
- Sim, Luiz, todos nós queremos saber o que você quer ser quando crescer...
Os amiguinhos e amiguinhas, cada um havia escolhido o seu futuro. Um queria ser médico, para cuidar de todo mundo. Outro, queria ser engenheiro e fazer casas bonitas para que todos pudessem morar. Uma outra queria ser advogada, para que todos vivessem em paz. E assim, surgiram futuros homens e mulheres que manifestavam seus desejos sempre em prol das pessoas, da felicidade, da boa convivência, da solidariedade, tudo muito bonito e muito alegre. Ali nasciam bombeiros, ambientalistas, odontólogos, administradores, jornalistas, aviadores... Menos eu, eu não sabia, ao certo, o que eu queria ser quando crescesse, quando ficasse adulto, acho que... bem, eu tinha que me decidir, a professora me pedia que dissesse meu sonho.
- O que quero ser quando crescer?
- Sim, meu filho, quando você crescer o que quer ser?
Na verdade, naquela hora, eu só queria saber de estudar com a professorinha e brincar, não queria mais nada. Eu não sabia o que querer. Eis, que por um momento me veio a primeira idéia.
- Poeta!
- Quer dizer que quando você crescer vai ser poeta!
- É...
- Então, explique pros seus amiguinhos da classe, por que você quer ser poeta?
Fiquei comigo buscando todas as razões de ser poeta mas nenhuma me satisfazia.
- Porque... porque.... porque...
Sabia que o poeta é uma pessoa inteligente, que escreve coisas bonitas, que sonha um mundo feliz para todo mundo, mas nenhuma dessas razões me convenciam a dizer porque eu escolhia justo poeta quando crescesse.
- Sim, meu filho, por que?
Pensei, pensei, pensei... e sem razão aparente, eu disse:
- Para escrever versos bonitos para a minha professorinha recitar na sala de aula para outros alunos e alunas!!!
Pronto! Ufa! Foi por pouco, hem?
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