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Cronicas-->A teoria do MD-MD e Milan Kundera -- 15/06/2005 - 13:47 (Paulo Maciel) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A teoria do MD-MD e Milan Kundera

No primeiro dia eu não entendi quase nada, até porque tínhamos pouco tempo e ele se perdeu na apresentação dos fundamentos da sua teoria.
Estávamos na praia da Boa Viagem, no Recife, lá pelo ano de 1969, andando lado a lado antes da hora de ir para o trabalho, bem cedinho.
Combinamos que nos encontraríamos novamente no sábado, na área em frente ao "Acaiaca", quando ele teria todo o tempo do mundo para expor sua famosa teoria.
Pelas primeiras conversas, contudo, fiquei com a impressão de que era algo que tinha a ver com informática e não me mostrei muito interessado. I
Ele era um velho conhecido, uns trinta anos de idade, solteiro, alto funcionário da SUDENE conhecido por sua veemência e entusiasmo na defesa do sistema de incentivos fiscais, uma pessoa muito simpática e popular no Recife, a quem chamarei aqui de Rubens.
Afinal, na ensolarada manhã de sábado retomamos nossa conversa e ele póde descrever-me sua curiosa teoria, construída passo a passo em cima de experiências reais: na verdade, pelo que constatei depois, ele a concebera de forma empírica, na base da tentativa e erro.
A teoria se chamava MD-MD e ele a julgava um sistema infalível de levar as mulheres - muitas mulheres - à cama!
O princípio básico consistia em formar um verdadeiro banco de dados através do cadastramento do maior número possível de mulheres, desde amigas a colegas de tra-ba1ho, de ginástica, do clube, do curso de inglês, da faculdade, ou mesmo simples conhecidas de restaurantes, de boites, cinemas, da biblioteca, da banca de jornal, do banco, de coquetéis, de festas, etc., todas que passariam a constituir um universo em constante crescimento pelo ingresso de novos elementos em consequência de contatos casuais ou mais profundos.
A atitude usuário desse banco de dados com relação às mulheres cadastradas seria basicamente a mesma, sempre: cavalheiresca, elegante, aparentemente desinteressada. Uma carona de vez em quando, um convite para almoço ou jantar, um telegrama ou telefonema no aniversário, um pedido de emprego para um irmão, um ramo de flores no dia dos namorados, uma referencia elogiosa feita a um amigo comum, enfim, sempre um gesto solidário, amável, marcante.
Quanto mais cresça o número de mulheres cadastradas, mais aumentam as chances de se ter sempre uma em sua cama, a cada dia.
Ou, como dizia, cinicamente, o Rubens:
- Mais dia, menos dia, uma dá!
Daí o fatalístico nome MD-MD (mais dia, menos dia) dado à teoria!
Confesso que achei a coisa toda interessantíssima, e a partir daí passei a ser seu divulgador junto aos amigos e colegas, e muita gente boa me confessou que, na prática, empregava assa teoria há muito tempo, com bons resultados, sem dela ter tido conhecimento, contudo...
Tantos anos passados desde aquela manhã de sábado, eu até já esquecera a história do Rubens quando comecei a ler o livro de Cronicas do Milan Kundera, "Risíveis Amores" .
Pois não é que lá estava, descrita com todos os erres e efes em mais de 20 páginas, sob o título de "O pomo de ouro do eterno desejo" a mesma teoria do Rubens !
O conto não apenas expõe aparte conceitual do sistema de banco de dados mas a ilustra com vários casos narrados de modo jocoso pelo autor.
E embora os resultados da aplicação da teoria na.Tcheco-Eslováquia não confirmem a eficácia com que ela tem sido empregada no Brasil, pelo menos no caso do Rubens, ambas são rigorosamente iguais.
E diante dessa extraordinária coincidência eu fico me perguntando se o Milan Kundera também não terá andado na "Praia da Boa Viagem" na companhia do Rubens?
13.08.86

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