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Cartas-->A Ascendino Leite, J. Pessoa-Paraíba -- 14/10/2003 - 22:32 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Teresina, Piauí, 14 de outubro de 2003-10-14

Caro Mestre Ascendino Leite
João Pessoa – PB

É uma alegria diferente receber seus livros. Estão recebidos “A Flor da Terra” e “Aforismos da Precisão”. Sua fertilidade, nos gêneros que pratica, sua sabedoria e a validade do que escreve, engrandece os amigos e o país de poucos leitores, infelizmente.
Há quem às vezes se assuste com a produção muito grande de alguns autores contemporâneos. Será que se assustariam com Machado de Assis, se fossem da sua época? A outros, incomoda a obra pequena. Nada disto, a meu ver, é juízo-verdade, porém de cabeça oca que só pensa no quantum. A obra que vale é aquela que vem de raiz, que pratica o sumarento encanto das suspeitas da alma, do sentir as pancadas do coração e fazer com que a mente esteja sempre fresca, apta a receber o que há de bom, belo, humilde e grande no homem, inclusive e primeiramente a dor.
Minha obra, como a sua, está se tornando um pouco vasta. Ninguém não me quer ler, na presunção de que o que escrevo num livro é o mesmo que o faço no livro seguinte. Penso diferente. Um livro deve ser sempre a crítica dos antecedentes, nunca se deve pensar que chegou ao fundo do poço, nunca se deve perder as esperanças de um dia chegar ao céu. Em tudo.
Há pouco lhe enviei dois livros. Gostaria de saber se os recebeu: “Sonetos Escolhidos” e “Rebelião das Almas” (contos). Só pra saber. Sei que você não precisa ler mais nada, já leu tudo. Mas precisa escrever o que falta, e sempre falta enquanto há inteligência e vida. E publicar.
“A Flor da Terra” é um livro bonito em matéria de edição e importante em seu sentimento, pela poesia que sua voz radical conduz. Entre outros poemas, “Confusão”, para mim, é claro e luminoso, como aliás pode-se sentir em toda a sua poética. Nela, confuso é o sentimento que expressa, é o momento, é a luz que não se apaga diante das sombras interiores, que permitem remarcar sensações de agrado e estupor.
Que vontade de recitá-lo!
Lá vai:

“Essas coisas escondidas,
todavia têm nome.
Secretas são, por um momento,
aos olhares e às escutas.

Que bela confusão, porém
suscitam,
se aos nossos colos umedecem
como chuva ao solo seco
dos desertos sertanejos!

Aí, sim. Coisa alguma, filha
amiga,
deixará de ser lembrada
contra qualquer sorte de eclipse.”

Que graça são os poemas “Momento”, “Diversão”, “Nudez”...
Não adianta querer citar todos ou fazer cortes de versos para mostrar o que é impossível sentir sem a leitura. Poesia é feita para ser lida, mais que recitada, mais que falada. E a crítica é vã, seja de elogio, seja de destruição, mesmo aquela de estudo e esforço interpretativo. Toda crítica é falha porque quer ser poderosa, dona do pensamento e do sentir do autor, das confusões e das confissões, das clarezas, das luzes e das trevas, do amor e do asco.
Você é eterno, no sentido em que acredita em Deus e na imortalidade. Você é eterno por sua obra. Ela não se acabará, nem que o mundo se acabe. Ficará vagando com os bons espíritos, de uma esfera pra outra, florindo e reflorindo a cada primavera, frutificando e renascendo nas outras estações.
E eis que abro “Aforismos de Precisão” ao léu, sem nenhum propósito definido, e encontro: “Não basta ser eterno: é preciso envolver-se em poesia.”
Mais na frente: “Sem poesia, morre tudo, principalmente as coisas belas.”
Agora, um longo: “Temos, naturalmente, uma vida simples. Somos criaturas limitadas ao espaço em que nos contam ou estamos sendo, inclusive o tempo em que não fomos nada.”
“Mas não custa tornar, alguma vez, ao ponto de partida e fazer desse regresso um caminho suntuoso.”
Ascendino Leite vem fazendo isto, só tem feito isto. Não preciso citar mais sua obra para tecer louvores e louvores. Preciso relê-la, e isto eu faço com prazer quase todos os dias.
Mestre, temos satisfação e orgulho de ser seu amigo. Mais seríamos se perto a gente morasse. Mas os amigos estão sempre perto, no pensamento, pois a imaginação não precisa de distância. E reta e curva. Corta e chega.
Abraços carinhosos do
Francisco Miguel de Moura.
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