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cronicas-->O guarda-noturno -- 15/06/2005 - 10:54 (Paulo Maciel) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O guarda-noturno

O primeiro lugar onde morei no Recife, quando me transferi para lá em 1968 foi numa tranquila rua transversal à Avenida da Boa Viagem, a dois quarteirões da famosa praia.
Aquela época, o bairro ainda servia de veraneio para numerosas e abastadas famílias pernambucanas, que possuíam confortáveis casas à beira-mar, e de moradia permanente para quem vinha de fora, principalmente paulistas e gaúchos.
Eu aluguei uma casa de dois andares na "Ernesto de Paula Santos", entre a "Navegantes" e a "Conselheiro Aguiar", toda pintada de branco.
Embora ninguém nos tenha informado, a gente sabia que ali, antes de nós, morara uma família americana, pois todas as portas e janelas possuíam telas para proteção contra mosquitos e muriçocas.
A casa era realmente simpática, clara, luminosa, não muito grande, mas com um pequeno quintal onde se construíra um anexo para empregados e se plantara um pé de goiaba.
A rua ainda era pouco habitada, tanto que não havia outras construções aos lados da casa.
Do outro lado da rua, bem em frente a nós, sim, não havia áreas livres, embora só existissem duas belíssimas casas, cada uma delas com enormes terrenos cheios de árvores.
Conquanto àquela altura o problema da segurança não se encontrasse na ordem do dia, e as pessoas se importassem pouco com ele, como chefe de família que passava os dias no trabalho e viajava com frequência, eu estava sempre atento à questão.
Como não se empregassem vigilantes, então, comprei um cachorro -um collie - que apesar de dócil e amigueiro servia para nos advertir contra a presença de estranhos.
Logo nos primeiros dias na nova morada verifiquei que, à noite, eu não precisava preocupar-me: a partir de certa hora, havia sempre um guarda-noturno rondando pelo nosso quarteirão e soando seu inconfundível apito, que me levava obrigatoriamente à minha infància em Juazeiro e Serrinha, na Bahia, e à mocidade em Salvador, onde esse vigilante era instituição consagrada. (Por falar nisso, bons tempos aqueles em que, apesar de
não haver qualquer necessidade, dispúnhamos de um corpo de vigilantes noturnos que até nós permitia dormir de portas abertas...)
O estranho no nosso "guarda-noturno" pernambucano é que ele sempre passava em nossa casa depois da meia-noite e conquanto eu ouvisse o seu trinado pelas redondezas, às vezes perto, às vezes distante, ele demorava a retornar à nossa esquina.
Fazia já dois anos que eu morava ali e não conseguira ver o nosso guardião uma só vez!
Foi quando ofereci um jantar a meu antigo e querido chefe dr. Jayme Villas-Bóas, que viera ao Recife participar de reuniões conosco, que, finalmente, vim a conhecer o vigilante.
O jantar, u a macarronada calabresa, com "polpeta", prato tradicional da família de minha mulher, atraiu umas vinte pessoas e funcionou como uma verdadeira churrascada. Durou toda a noite!
Na verdade, foi assim mesmo que planejamos: encompridar o jantar e esperar o nascer do dia para embarcar dr. Jayme de volta à Bahia, num vóo das 6 horas da manhã. Afinal, era sábado!
Enquanto estávamos na festança, lá pelas duas horas da manhã, ouvi o apito do guarda-noturno e falei logo para Fernando Machado, meu bom amigo pernambucano, que eu gostaria de conhecer o homem.
Embora não tenha compreendido, então, percebi que Fernando tinha um riso intrigante quando se levantou da cadeira e dirigiu-se ao portão da frente da casa.
Na volta, trazia em sua companhia um troncudo e baixote paraibano que carregava um balaio na cabeça: era o conhecido vendedor de beiju do Recife, figura muito popular que se anunciava à noite e nas madrugadas soprando um inconfundível apito!
Não preciso dizer que foi uma gargalhada geral!
E até o amanhecer tive que ouvir brincadeiras e gozações dos amigos enquanto comíamos deliciosos beijus ...
19.11.85
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