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cronicas-->Linda, linda! -- 14/06/2005 - 11:54 (Paulo Maciel) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
"Linda! Linda! "

O doutor, meu amigo, vizinho de apartamento, meu clínico geral concluiu o cuidadoso exame a que me submetera por mais de meia hora, olhou-me e disse-me:
- Paulo, não encontrei nada que justificasse a fisgada que você diz ter sentido na altura do intestino. Pra mim você está ótimo mas, para não ter do que me arrepender, vou lhe pedir uma serie de exames complementares.
Passou-me a receita que preparara e disse-me para voltar quando estivesse de posse dos resultados.
Os exames, naturalmente, eram os de sempre - fezes e sangue - com uma novidade que me deixou intrigado: devia fazer também um "enema baritado", uma radiografia do intestino como vim a saber no dia seguinte, quando compareci às instalações de uma clinica especializada para marcar o dia e receber as detalhadas instruções.
O jovem médico, muito simpático e descontraído, entregou-me um papel impresso com as instruções e pediu-me para segui-las à risca. Depois, avisou-me:
-Olhe, sr. Paulo, o exame é realmente chato, principalmente na fase do "preparo", mas não se preocupe que eu próprio irei fazê-lo!
Enfim, saí dali direto para o trabalho onde, logo ao chegar, li as instruções para me dar conta de que, já ao almoço deveria alimentar-me de coisas leves e em quantidade moderada: macarrão, ou arroz, com purê, carne moída, ovos, sucos ou refrigerantes. Menos
coca-cola e leite.
À noite, café com torradas e líquidos.
Com o exame marcado para as 2 da tarde do dia seguinte, logo compreendi que iría amargar um jejum de mais de 24 horas, já que o café da manhã e o almoço iriam consistir de líquidos.
Mas o pior mesmo estava reservado para a noite, quando tive que tomar um laxante, o purgante que me devolveu inteirinho aos terríveis momentos da infància - o famigerado "óleo de rícino" - agora disfarçado sob o inocente nome de luxol!
Para superar o nojo, juntei-o a suco de laranja numa grande caneca, mas o miserável do óleo não se mistura. Assim, tive que tomá-lo com engulhos, e alem da eficácia de seu efeito que me obrigou a intensa movimentação ao longo da madrugada, tive que purgar aquele sabor nauseante durante a noite e o dia.
O que se faz na manhã do dia do exame deve ser o que o doutor chamou de "preparo", e que classificou de desagradável!
Pois bem, nessa tal manhã, tive que tomar três lavagens intestinais sucessivas, uma a cada hora, com dois litros de água morna.
Como fiquei constrangido de contratar os serviços da enfermeira Marlene, que aplica esse negócio na casa da gente, como havia-me explicado o médico ao fornecer-me o telefone dela, incumbi-me eu próprio da operação.
Mill vezes o vexame de submeter-me às competentes mãos da Marlene, tanto que a minha experiência foi desastrosa sob todos os aspectos.
É claro que não vou contar como foi - afinal, sou cheio de pudores e decoro - mas posso dizer que fiquei encolhido na banheira circular lá de casa, havendo pendurado o "irrigador" com a água morna ao nível do chuveiro. Praticamente passei toda a manhã mal acomodado na banheira e não devo ter feito um "preparo" muito satisfatório.
Mas, afinal, vencidos esses preparativos, toquei-me para a Clínica às 14: 00 horas levando quatro vidros de "Celobar" , uma garapa branquinha indispensável ao procedimento.
Fui muito tranquilo, tanto porque já estava livre da famosa fase do "preparo" , como porque, quando fiz uma radiografia do estómago, anos atrás, ingeri o "Celobar" por via oral.
Mas, esses caras têm a mania de mudar as coisas e tão logo me deitei na cama metálica, uma enfermeira apareceu para aplicar-me o contraste pelo mesmo processo que me fizera prescindir dos serviços da Marlene.
O exame leva precisos trinta minutos, e haja concentração e controle para evitar o pior nessas circunstancias...
Afinal, depois de superar tudo isso com o máximo de estoicismo, e quando já dava por encerrada a tortura, eis que o médico me avisa que pelo mesmo lugar por onde passara o contraste, ele iria introduzir ar.
Enquanto suportava essa última e inesperada provação, a mais desagradável de todas as operações do dia, eu me perguntava porque o médico me prevenira tanto contra o "preparo". O maldito ar que me foi deixado nas entranhas causou-me dolorosas cólicas por mais de doze horas!
Mas, graças a Deus, tudo terminara e ele mandou que eu vestisse a roupa e fosse para casa comer.
Foi quando eu estava para sair que um outro médico, de cabeça branca, provavelmente o pai do meu algoz, entrou na sala e me disse com o maior entusiasmo:
- Linda! Linda!
- O que, doutor?
- A chapa do seu intestino!
Fazenda Várzea, 10/10/87.
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