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Cronicas-->O Circo Real de Moscou -- 14/06/2005 - 10:49 (Paulo Maciel) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O Circo Real de Moscou


Como sempre faço, planejei as férias meticulosamente, com grande antecedência. Afinal, férias só se desfrutam uma vez por ano e têm que ser inesquecíveis
Dessa vez iríamos a Belo Horizonte, onde mora minha filha mais nova, Campos do Jordão, Itu, São Paulo e Vila do Monte Verde, em Minas Gerais, uma viagem como gosto. E de carro!
Diferentemente de tanta gente que conheço, insisto em usar minhas férias para percorrer o interior brasileiro e rever as cidades de minha predileção.
Na verdade, meu fascínio pelo interior é tão grande que na única vez em que fui à Europa com minha mulher passei a maior parte do tempo rodando pelas belíssimas estradas do sul da Itália, desfrutando da hospitalidade das pequenas cidades da Calábria e da Sicília.
Pois bem, planejadas as férias, tratei de providenciar as reservas que garantissem nossa hospedagem nos hotéis escolhidos e nos espetáculos teatrais que gostaríamos de assistir em são Paulo.
Foi quando li no "O Estado de São Paulo" um anúncio sobre o circo.
Dizia, textualmente:

"CIRCO REAL DE MOSCOU".
Agora na Radial Leste
O Circo do Povo para o Povo"

.Aquela noticia me deixou excitadíssimo!
Imagine, ter a chance de conhecer o Circo de Moscou, logo eu que, desde menino, no Juazeiro da década dos quarenta, não perdia um circo!
Embora filho do Juiz de Direito e, portanto, com o privilégio de entrar de graça e de dispor de um camarote em todos os circos que nos visitavam, preferia juntar-me à garotada que, atrás do palhaço das pernas de pau, participava do sistema de propaganda ao vivo que então se usava ("Hoje tem espetáculo? Tem, sim senhor! ...")
Assim, a perspectiva de conhecer o Circo Real de Moscou, o mais famoso de todo o mundo, deixou-me maravilhado e ansioso, sentimentos que logo transferi a minha mulher, filha e genro que me acompanhariam na longa viagem.
Imediatamente, peguei o telefone e liguei para a bilheteria do circo, cujo número constava do anúncio. A um preço que achei barato, reservei o camarote número 2 para a função de uma sexta feira,dali a um mês.
E saímos para a estrada dando inicio à esperada viagem.
Como previa, tudo correu às mil maravilhas e foi possível desfrutar sem pressa tudo que nos apetecia.
Mas, nossa grande expectativa era o "Circo de Moscou" ! De Itu, telefonamos para saber se nossas reservas estavam efetivamente confirmadas.
E, ainda no dia do espetáculo, pela manhã, quando chegamos ao hotel em São Paulo, voltamos a ligar para a bilheteria obtendo naturalmente a garantia de que os ingressos estavam à nossa disposição.
Afinal, chegara o grande momento. Orientados pela recepção quanto ao percurso, chegamos à praça onde o circo estava armado às 8:15 da noite, para a função que começava às 9:00 horas!
Fomos os primeiros a estacionar o carro no enorme terreno e um dos meninos guardadores estranhou nossa pressa.
Expllquel-lhe que viéramos de longe e não conhecíamos São Paulo. E perguntei-lhe:
- Que tal este circo?
- Este circo é bonzinho, mas o "Gran Bartolo" é melhor, respondeu-me ele.
Atribuindo a má vontade do garoto a um excesso de bairrismo, dirigi-me à bilheteria onde imediatamente fui reconhecido e saudado efusivamente pela bonita jovem que ali atendia, uma das artistas do trapézio,como vim a descobrir mais tarde.
- Foi o sr. quem reservou os ingressos da Bahia? Como o sr. gosta de circo!
Meio sem graça, paguei os bilhetes e encaminhei-me à entrada com meu pessoal.
Já um bocado desconfiado, perguntei ao porteiro, um homenzarrão que me pareceu árabe:
- Este circo é da Rússia?
- Aqui não tem russo nenhum, doutor, a não ser que a "Polka", a cachorrinha, seja de lá!
Completamente arrasado com essa resposta fomos entrando devagarzinho à procura do nosso camarote, na verdade bem à frente.
O circo era muito pequeno!
E de chofre, voltou-me à lembrança o ambiente de todos os circos de minha infància em Juazeiro, pois o cheiro de urina era exatamente o mesmo! .
Realmente o circo era mambembe, dali mesmo da periferia de São Paulo.
Dirigido por algum sabidório inescrupuloso, estava faturando uma publicidade mentirosa em cima do verdadeiro "Circo Real de Moscou" que estivera armado no Ibirapuera pouco tempo antes...
Para nós, foi uma tremenda decepção, que suportamos com bom humor e muita risada, pois não havia outro jeito.
No meio do povo, que lotou todas as dependências, assistimos à primeira parte do espetáculo, saindo no intervalo.
Com imenso desapontamento,voltamos ao hotel e contamos nossa experiência à recepcionista que nos ensinara o caminho da Radial.
Era uma japonesa, Amélia, que nos olhou de modo gozativo:
-Eu devia saber que aquele não podia ser o "Circo de Moscou" pois passo ali todo dia quando vou para casa e nunca reparei nele!
A história do "Circo de Moscou" foi o fato mais marcante de nossas férias e muita gente achou que nem mineiro cairia nêsse "conto do circo" dos paulistanos vigaristas. Só mesmo baiano. ..
12.12.87
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