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Poesias-->CANTO CHÃO -- 01/03/2009 - 12:57 (Délcio Vieira Salomon) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
CANTO CHÃO



Délcio Vieira Salomon





Meu canto

é canto-chão.

Reboa lamentos

rasteiros

pedregulha paredes

sem ressonância

de góticas abóbadas

e se torna prisioneiro

de suas quadradas notas

entre as grades

da dura

partitura.

Limitado

não se solta

no vôo incontrolável

da imaginação.

Mal se ergue

tropeça

nas toadas

sem compasso

no monótono ritmo

de suas murmurantes

orações.

Mas ressoa

para iludir

toda representação

e escorrega triste

lembrando Jeremias

Joel e Malaquias

sem olvidar o clamor

a rasgar o céu

do velho Jó.

Salmodia

kiriales e tantum-ergos

e se perde em antífonas,

responsórios,

ao se deter nos graduais

até nos aleluias

de velhos ofertórios

a disfarçar gemidos

só entendidos

pelos ouvidos

atentos

deste pensativo

coração.



COMENTÁRIO;



Meu amigo (desde 1942, em Lorena,SP)WILSON SALGADO, advogado, poeta, membro da Academia Ribeiropretense de Letras e organista da catedral de Ribeirão Preto, SP, assim comentou o poema CANTO CHÃO:



Interessante a figura que o poeta transfere da monodia do cantochão para seus sentimentos íntimos. Canto que “pedregulha paredes” sem o tom majestoso da polifonia que ecoa pelas abóbadas das grandes catedrais.

Considera o seu canto “prisioneiro” de quadrangulares notas, como quadrangulares são as grades de estabelecimentos prisionais.

O cantochão do poeta é feito de melodias que não alçam voos, pois mal se erguem, como os ascendentes quadrados “podatus”, logo tropeçam nos descendentes “clivis”. E mais, diz o poeta: “escorregam tristes”, com certeza no “climacus liquescens”. É a monodia do cantochão, que tem como endereço certo o caráter meditativo de nosso espírito.

O rito “monótono”, que saltando do grego para o latim se transforma literalmente em uníssono, é um trunfo tanto para os solenes aleluias como para as plangentes lamentações quaresmais do profeta Jeremias.

A salmodia dos “kyriales”, tantum-ergos e ofertórios, onde as sílabas sentem o prazer de se alongar por todos os neumas do cantochão – canto liso – com declarada intenção de ceder ao impulso da laudação.

Sinto, no poeta, um vago de melancolia ao referir-se ao canto gregoriano – cantochão. Uma espécie de fuga que não é apanágio de Bach. Certa ansiedade ao sentir-se apenas deslizando como deslizam as notas no chão de seu canto. No entanto, parece que tudo se desanuvia quando, por fim, confessa que os soluços de seu cantochão são “só entendidos pelos ouvidos atentos deste pensativo coração”. Pensativo coração de um poeta sonhador para quem o verso e o anverso estão no tempo que só na música existe. Uma vez que o presente não tem dimensão, nem métrica, nem cronologia, resta-nos o sentido interno da memória que nos devolve as imagens e os sons de tempos idos transfigurados em presente.

Dessa forma, cada um de nós pode, também, disfarçar os “gemidos só entendidos pelos ouvidos atentos deste pensativo coração”. Amém





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