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Discursos-->DISCURSO DE POSSE Profa. Dra. Helena Jank -- 18/12/2002 - 14:12 (BRUNO CALIL FONSECA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
DISCURSO DE POSSE

Ao assumir a Direção do Instituto de Artes, quero que as primeiras palavras sejam de agradecimento:

- à equipe da diretoria que agora termina o seu mandato, pelo trabalho realizado;

- aos colegas que me estimularam a tomar esta decisão, me apoiaram, aconselharam e acompanharam de perto em todas as fases de preparação para este momento.

- aos que me escolheram para ser sua diretora nos próximos anos, e expressaram essa escolha depositando significativamente seus votos nas urnas.

Acompanho a evolução do Instituto de Artes desde os primeiros momentos. Vim para cá, não na primeira, mas na segunda leva dos artistas que se aproximaram da Unicamp atraídos pela ousadia do Dr. Zeferino Vaz. Por um tempo fiquei afastada, e voltei durante a reitoria do Dr. José Aristodemo Pinotti. Nosso trabalho era eclético. No início, contribui principalmente com minha produção artística e experiência didática. Com a consolidação da Arte como instância acadêmica na Universidade, definiu-se também gradativamente a linha de pesquisa na qual se insere hoje a quase totalidade da minha produção: de investigação teórica sobre a prática da interpretação musical. Esta linha une convenientemente duas tendências predominantes da minha própria natureza: a necessidade visceral por expressão artística, e a irresistível atração pela investigação científica. Desta maneira, o que poderia ser um conflito entre a intuição e a razão tornou-se a principal fonte de recursos para a minha busca por conhecimento, por expressão e por identidade acadêmica. Com a defesa do meu Doutorado, em 1988, sob instigante orientação do Prof. Ubiratan d´Ambrosio, passei a atuar também nas mais diversas instâncias - acadêmicas e administrativas - culminando nos últimos anos com a Coordenação de Pós-Graduação, cargo para o qual fui eleita e reeleita.

É com esta experiência que assumo hoje a direção do I.A., em uma atmosfera que clama nervosamente por mudanças.

De um lado, o progresso tecnológico e a globalização da informação exigem das pessoas um novo tipo de integração com a sociedade, integração esta que precisa ser conquistada. Criam-se novos códigos no intercâmbio intelectual e social, e finalmente, vemo-nos deparados com uma nova ética.

De outro lado, vivemos uma série de situações de crise. Crise na política, na economia, crise na organização das nossas Universidades, crise na identificação dos valores intelectuais, familiares e pessoais.

Para o Instituto de Artes, o confronto com estes novos fatores intensifica o sempre presente questionamento sobre o papel - ou responsabilidade - das Artes na Universidade, principalmente quando a escassez de recursos nos obriga a priorizar e discutir criteriosamente o que consideramos básico entre as nossas principais necessidades.

A arte não precisa de respostas que justifiquem sua incansável busca pelo significado das coisas. Ela vive e sobrevive por si só. Mas quando inserida em um contexto, tem a habilidade de se distanciar da realidade, refletindo-a, e refletindo sobre ela simultaneamente. Transitando entre o concreto e o abstrato, ao mesmo tempo que problemiza aspectos do individual, reclama genuinamente para si o acesso ao universal. Nessa busca de valores que permitam ao homem se posicionar de forma equilibrada no relacionamento com a sociedade, e também no constante exercício e desenvolvimento de suas forças criativas, a arte assume o impulso de transformação no contexto em que está inserida. Esta é, a meu ver, a melhor justificativa que a Universidade tem para abrigar e estimular a presença das artes em sua estrutura acadêmica, particularmente quando as circunstâncias obrigam a Instituição a redefinir suas próprias metas.

No momento em que os membros da comunidade universitária concentravam seus esforços na elaboração de um novo estatuto para a UNICAMP, apresentei propostas como programa de gestão ao Instituto de Artes, das quais considero um dos pontos mais importantes a reestruturação da Unidade, visando a melhor adequação possível aos novos critérios que serão estabelecidos pela estatuinte, e modernização dos procedimentos e conceitos que regem os nossos cursos.

Ao mesmo tempo porém em que estaremos nos organizando para desenvolver mecanismos de captação de recursos, ou tentando otimizar a nossa produção e facilitar os procedimentos para sua avaliação, ou quando estaremos trabalhando no projeto de reestruturação da Unidade - que passa necessariamente por um rigoroso processo de autocrítica - tenho o desejo de que possamos reconhecer no conjunto destas atividades a excelente oportunidade de uma avaliação qualitativa de nossos próprios valores internos.

Se já são brilhantes nossas mentes, avaliar se são também claras e honestas - e se sabem se expressar com simplicidade, quando necessário.

Avaliar se nossos corações abrigam a generosidade, o entusiasmo, a sinceridade, a compaixão.

E se a nossa memória, além da necessária lembrança, possui também rigor e fidelidade.

Inspiraram estes pensamentos algumas idéias expressas ha mais de três décadas (e por isso quase proféticas), por G. Pappini, em suas LOUCURAS DE UM POETA, quando o poeta diz:

"... Se a nossa alma não mudar, se a nossa mente não mudar, se a nossa memória não despertar de novo e a nossa compaixão não ressurgir - se dos nossos olhos não caírem as vendas e nossos corações não deixarem de ser de pedra, nós não poderemos ser os construtores da paz. Seremos apenas destruidores do que resta do gênero humano e da sua civilização. Todos somos responsáveis, e para não padecer, todos devemos nos compadecer."

Estou convicta de que no momento atual, em que nossos paradigmas externos são duramente questionados e nossas estruturas políticas, sociais, econômicas e institucionais parecem nos deixar desamparados, não basta atingir uma excelente avaliação numérica de nossa produção, como também não basta possuir muitas, e ótimas qualidades. Há necessidade de traze-las à consciência e em um ato da vontade, muito determinado e profundamente ético, procurar, da excelência do ser, extrair a excelência do fazer e do pensar.

Assumindo a direção do I.A., estou consciente da complexidade deste momento, uma vez que o sucesso depende da disposição de todos à abnegação e incessante autocrítica. Não sei se todos estarão dispostos a isto. Mas estou disposta a fazer a minha parte, investindo o melhor do meu potencial, em criar as condições nas quais a Arte venha a cumprir o seu papel de agente transformador na comunidade, e nós, no exercício da liberdade e das nossas responsabilidades, possamos nos aproximar um pouco mais dos nossos ideais humanísticos, e de uma convivência fértil e verdadeiramente democrática.


Profa. Dra. Helena Jank
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