UM GRINGO NO MERCADO MODELO
No início dos anos setenta, quando morava no Recife, trouxe à Bahia um casal de amigos. Ele, estrangeiro, louro, 1:90 m. de altura, era um sujeito simpático, alegre, bem falante, auto-suficiente, que discorria sobre qualquer assunto. Sua visita a Salvador, além de turística, tinha o objetivo de conhecer um empreendimento industrial no CIA que ia mal. Era sua intenção avaliar o negócio para uma possível compra.
A mulher dele, mais jovem, Ã época com 30 anos, não era uma pernambucana típica: branca, aloirada, alta, elegante, moderninha, era muito independente e audaciosa.
Acostumados a uma sociedade mais fechada, estratificada, adoraram a Bahia, nossas tradições artísticas e culturais, as praias, a comida, mas, sobretudo, o povo.
Quiseram conhecer o Mercado Modelo. Levei-os ali num sábado pela manhã e depois de havermos percorrido as dezenas de lojas com quinquilharias e produtos da terra fomos à s barracas de comes e bebes, nos fundos do mercado.
Meio-dia, aquele espaço apertado fervilhava de gente, homens e mulheres, brancos mas, principalmente, muitos negros e mulatos, todo mundo engolindo as variadas batidas e comendo acarajé, caranguejo, lambretas, uma confusão infernal.
Quando entramos naquele corredor, o gringo de quase dois metros e sua mulher, linda, com um vestido decotadíssimo, chamaram a atenção de todos.
Foi quando o dono de um dos boxes falou para o pessoal à frente dele:
- Gente, deixa o homem passar, foi meu chefe no banco, me empregou como caixa.
Meio sem graça, entrei na roda com meus convidados para sermos servidos com tudo de bom que ele vendia.
Ficamos naquele ambiente sufocante mais de uma hora. Meu amigo foi beijado e abraçado por negras enormes e sua mulher apalpada em cada canto do corpo.
Eu, preocupadíssimo, tentava acalmar o entusiasmo da turma temendo alguma reação do maridão.
Que nada, ele estava felicíssimo, meio alto de tanta batida, todo amassado e a mulher encantada com os galanteios dos admiradores, muito animada com o sucesso.
O negócio com a fábrica não foi realizado, mas durante toda a viagem de volta, em seu carrão, a mais de 160 km por hora - eu apavorado com aquela velocidade - ele não parava de falar sobre a visita ao Mercado.
- No ano que vem voltaremos lá, era o que ele dizia sem parar!
10.05.2002
|