Usina de Letras
Usina de Letras
160 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62211 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10450)

Cronicas (22535)

Discursos (3238)

Ensaios - (10356)

Erótico (13568)

Frases (50604)

Humor (20029)

Infantil (5429)

Infanto Juvenil (4764)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140797)

Redação (3303)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6185)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Cronicas-->Vá conhecer peixe assim no... -- 02/06/2005 - 17:54 (Paulo Maciel) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Vá conhecer peixe assim no...


Conheci Villas-Boas em fins dos anos oitenta, através de Octacílio Fonseca, jornalista, que hoje atua como free-lancer e edita jornais para empresas e associações.
Villas-Boas era um mulato "cabo verde" alto, elegante, jocoso, bem falante, muito inteligente e espirituoso, uma casa cheia, como se costuma dizer.
Com a mulher, Dona Celeste, montara um restaurante no Cabula (na verdade, em Pernambués), a que denominara "Há Tampa", especializado em frutos do mar e comidas baianas, em geral.
O restaurante ficava no térreo de sua casa, um verdadeiro cacete armado pra lá de modesto, sem muita higiene, mas bem frequentado. A cozinha, a cargo de Dona Celeste, era excelente! As moquecas de peixes e camarões, o cama-polvo, a feijoada e a galinha de molho pardo eram as peças de resistência da casa, das melhores que se comiam na Bahia, mas os outros pratos não ficavam atrás.
Em certos dias, a ruela estreita, de terra batida, ficava cheia de carros. Vinha gente do sul para conhecer o restaurante, que merecera reportagem especial em guia gastronómico de São Paulo e no "Quatro Rodas".
Enquanto Dona Celeste e as filhas se viravam para atender a clientela, num ambiente calorento, Villas-Boas flanava, entretendo o pessoal com a sua verve inigualável, relatando casos, contando piadas, às vezes servindo uma cervejinha. Tirava prosa e fazia graça com todo mundo.
Ex-empregado de indústrias do Recóncavo, não sei se ferramenteiro, trabalhara em grandes empresas e conhecia gente importante da Bahia. Lembro-me de tê-lo ouvido falar de Jayme Villas-Boas Filho, de quem se dizia parente, que era diretor de banco e presidira por alguns anos a CQR (Cia. Química do Recóncavo), onde ele servira. Logo me interessei pela história, pois dr. Jayme fora meu chefe durante muitos anos.
Aposentado, além do restaurante, dedicara-se à pesca com vara na beira do mar, uma atividade que levava muito a sério. Tinha sua turma de pescadores e, com ela, participava de campeonatos pelo país e se proclamava campeão na modalidade. Ia muito a Maceió e Vitória do Espírito Santo. É bem possível que nessas andanças também concorresse a concursos de levantamento de copos e copinhos.
Enquanto existiu o restaurante levei muita gente até lá, seja para provar de sua boa comida, seja para o papo animado com Villas-Boas. Mas o parceiro habitual era Jessé Coutinho, meu amigo de infància e mocidade, que exerceu o cargo de gerente-geral do Banco do Brasil na sua agência centro, em Salvador. Jessé adorava conversar com Villas-Boas e vivia aprendendo coisas do mar com ele.
Lembro que, de certa feita, provocou Villas-Boas com a seguinte pergunta:
- Villas, você que é grande conhecedor de peixes, me diga quais são os melhores da Bahia.
Villas-Boas nem pestanejou:
- Bom, seu Jessé, o melhor peixe da Bahia é o pampo da espinha mole; o segundo melhor, para meu gosto, é o aracanguira; e, por fim, tem o beijupirá. Depois desses é que vêm o badejo, o vermelho, o robalo e tantos outros de igual qualidade, mais conhecidos do pessoal.
Tal como meu amigo, fiquei surpreso com a informação. Oriundos do interior, da região sertaneja, nem ele, nem eu nunca ouvíramos falar desses peixes.
Àquela época, Jessé possuía em Valença uma fazenda de onde extraía dendê. Tinha um trabalho danado com a exploração agrícola, passava dias e dias na região, cuidando do seu negócio.
Como a fazenda era perto da cidade e a casa não oferecia boas condições de moradia, ele ficava numa pousada: ia à fazenda pela manhã e voltava à noitinha para o jantar.
É claro que se tornou um hóspede queridíssimo do pessoal do hotel, principalmente do gerente, que o cobria de gentilezas. Em muitos dias, ele era o único a ocupar um apartamento.
Com alguma frequência o gerente perguntava o que ele gostaria de comer. Daria instruções à cozinha para atendê-lo.
Pois bem, depois daquela conversa com Villas-Boas, Jessé disse ao gerente que queria muito comer u´a moqueca de pampo da espinha mole. O homem olhou surpreso para ele e lhe disse que pampo era um peixe muito raro, que os pescadores, quando o pegavam, não o vendiam, ficavam com ele.
Jessé não fez por menos e lhe encomendou um aracanguira. Nova explicação do gerente: - aracanguira, seu Jessé, é também peixe difícil, raramente aparece por aqui. Escolha outro!
- Bom, se esses peixes que eu pedi não são encontrados, então me arranje um beijupirá.
O gerente olhou incrédulo para Jessé e lhe disse:
- Puxa vida, como o senhor conhece peixe!

ooOooo0ooo0oo

O amigo Villas-Boas morreu há alguns anos e "Há Tampa" seguiu-o pouco depois, apesar do esforço de Dona Celeste para mantê-lo em funcionamento.
30.08.04

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui