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cronicas-->Pizzani -- 02/06/2005 - 16:58 (Paulo Maciel) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
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Conheci primeiro seu irmão, Gabriel, "um touro", remador do Vitória, de memória prodigiosa para números.
Fomos colegas no início da década dos cinquenta, ele chefe da Conta Corrente da Agência Central e eu sub-chefe do Pessoal. Fomos bons amigos: jogávamos ping-pong e dominó no salão de jogos do banco, depois do almoço e participávamos do time de voleibol que disputava o campeonato baiano.
Somente quando voltei do Recife, em 1978, é que vim a conhecer Wilson Pizzani, já então, se não me engano, chefe da Divisão de Acionistas, onde permaneceu até a aposentadoria.
Parece-me que ele entrou no banco pelas mãos de Vavá Tourinho, para ocupar cargo de chefia no Serviço de Pessoal, quando eu próprio dirigia a Sucursal do Nordeste.
Desde logo, fizemos boa camaradagem, inclusive porque ele trabalhava com Zitelmann de Oliva, meu colega e grande amigo.
Lembro-me muito bem de que Pizzani gostava de passar u´a imagem de severidade e impaciência que não se casavam com seu comportamento, na prática. Muitas vezes caprichava em parecer mal humorado, intolerante, coisa que ninguém, nem seus subordinados, levavam a sério.
Durante os oito anos em que estive na ECOS é claro que nos distanciamos bastante mas, ainda assim, mantivemos o bom relacionamento do passado.
Nos últimos anos, contudo, passamos de colegas a amigos verdadeiros e inauguramos uma rotina de contatos regulares.
Diretores da APECOS desde sua criação, Arlindo Maltez e eu e, mais tarde, Edvaldo Andrade, decidimos convidá-lo a participar da diretoria, no nosso último mandato, depois que constatamos que Pizzani, após a aposentadoria, andava meio desanimado.
A partir daí nos reuníamos no mínimo oito vezes por mês e almoçávamos toda semana.
Como nosso grupo já viajava frequentemente para o interior do Estado, sobretudo para a estància de Caldas do Jorro, Pizzani passou a ser mais um companheiro nessas andanças.
Foi graças a esse convívio, portanto, que viemos a conhecer de perto esse homem interessantíssimo, que descobrimos ser um apóstolo da ética e da decência, mas que gostava de se apequenar e se depreciar, quase sempre como forma de provocar uma discussão. Também adorava fingir ser inimigo da humanidade.
Pois bem, na verdade, Pizzani era uma pessoa com grandeza de espírito e sensibilidade humana, que se confrangia com o sofrimento ou a pobreza de seus semelhantes e sempre se mostrava solidário com eles.
Apreciador dos clássicos, tanto na literatura quanto na música, nos últimos tempos tomou-se de amores pelos vinhos, começou a estudar enologia e a fazer degustações.
Nas quase intermináveis conversas que mantínhamos durante as reuniões semanais e as viagens pelo sertão, descobrimos que ele fora soldado da aeronáutica e remador como o irmão, e ouvíamos suas histórias do banco, principalmente as escaramuças que tinha com Zitelmann e Ângelo Sá, seus chefes.
Diplomado em Direito, de fato sua verdadeira vocação era no campo da mecànica e da marcenaria, tal a habilidade manual que possuía, a curiosidade pelos segredos das engrenagens de máquinas e o prazer com que se dispunha a fabricar e consertar coisas, inclusive em nossas casas e no escritório da APECOS.
Era um frequentador assíduo de "ferros velhos" e "feiras de usados" e transformou um espaço de seu apartamento em depósito de ferramentas e quinquilharias, para desassossego de sua mulher.
Esse amigo do peito fez uma falseta com a gente e foi-se antes da hora, sem aviso prévio, no dia 23 de agosto, sábado à noite, vítima de enfarte fulminante.
Como disse Maltez no velório, "partiu-se um elo da nossa corrente". Vai ser duro agora retomar a rotina de nossas vidas sem Wilson Pizzani.
Salvador, 25 de agosto de 2003

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