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Poesias-->MEU ENCONTRO COM FERNANDO PESSOA -- 05/02/2009 - 19:20 (João Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
MEU ENCONTRO COM FERNANDO PESSOA NO CHIADO,

EM LISBOA

Jan Muá

5 de fevereiro de 2009



Este encontro não foi rigorosamente combinado

Mas mesmo assim

O Poeta me recebeu como eu esperava

Gentilmente

Estava sentado numa cadeira simples

Do Café da Brasileira do Chiado

No Largo Camões

Eram quatro horas da tarde

Uma das mãos apoiada sobre a mesinha

A outra suspensa

Quase imitando a linguagem retórica

Como se fizesse uma pausa

Estava vestido ritualmente

Como se fosse um dia de festa

Como um burguês alinhado

Rigorosamente de terno

E gravata à borboleta

Três botões na manga do paletó

Chapéu de abas na cabeça

E de sapatos finos com atacadores

Olhei-o de relance logo na chegada

Sentei-me perto

Deixou-me perguntar

E pôs-me à vontade

Mas não deixou de continuar entregue

A seus pensamentos

Mostrava um vago olhar

Sem me enfrentar e sem estar muito preocupado

Com o que eu tinha para lhe dizer

Respeitei a concentração do Poeta

E resolvi interpretar seu silêncio

Pelos nítidos sinais de seus olhos

Eram sinais vagos de uma viagem anímica.

Achei que deveria estar

Memorando talvez o ritmo das ondas

E dos mares que canta em Ode Marítima

E as longas viagens de paquete

Que fez de Lisboa a Capetown e de Capetown a Lisboa

Suas lembranças sul-africanas em Durban

E à mistura todo o movimento de sua Ode Triunfal

Detonadora poética da sociedade industrial

Mas seu olhar vago parecia ir mais além

Desviado e fragmentado que estava

Em seus heterônimos variados e densos

Reflexivo no papel de Antônio Mora

Pastor de rebanhos na pessoa de Alberto Caeiro

Pensador pagão na poesia de Ricardo Reis

Parecia ir ainda mais além no cruzamento de pensamentos e de emoções

Que o levavam aos Sonnets de Alexander Search...

No decorrer do encontro

A garçonete do Café da Brasileira

Trouxe à mesa um café curto

De sabor brasileiro

Acompanhado de um saquinho de açúcar granulado

Fernando Pessoa continuava de olhos vagos

Projetado na poesia modernista de Orpheu

De sua predileção!

Tomei meu café

Enquanto ele continuava abstratamente concentrado

Em sua nudez anímica

Bem alheio às minhas preocupações de visitante literário

Permanecia calmo

De perna cruzada

Elegante e fino

Com a gravata borboleta se destacando

Era isto que viam todos os turistas que vinham vê-lo

Eles fotografavam e filmavam

Para levarem dele uma lembrança

Incluindo um grupo valenciano

Gentil e atento

Que falando seu dialeto próprio

Veio homenagear

O Poeta Príncipe da Lusofonia

Vivo aqui em seu castelo literário

do Café da Brasileira no Chiado

Todos o tratam como um mito

E senam-se junto dele

Olhando-o como ídolo imortal

Um ídolo

Que me deu o prazer deste encontro especial

Que não vou esquecer nunca

E que em mim ficará para sempre

Para juntar aos seus textos e poemas

De eterna memória

Cercada do nevoeiro e da bruma sebastianista

Encravada em grandiosa história

Que hoje faz parte da história de Lisboa e do Chiado.







Jan Muá

Lisboa, 05 de fevereiro de 2009



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