A BRIGA DE JOÃO E JANETE
(por Domingos Oliveira Medeiros)
A poesia está na alma; no fundo do mar; no oceano.
Num livro qualquer; aberto ou fechado; em qualquer lugar
Sempre que se fala de amor, sempre há que haver desengano.
Não é preciso ter medo; não é preciso inventar
Em casa de ferreiro, já vimos: o espeto de pau vai fazendo.
O acabamento, é preciso; do nó que dá na madeira.
Mas sem o artesanato de ferro, do ferro que já está fervendo.
Escrita se faz caminhando; subindo e descendo a ladeira.
Na serralheria da vida, a refundição se promete
Éis o caminho do João; por onde ele pisa e transita.
No fundo do mar, no oceano; já disse, a alma compete.
É puro amor, sem retoques; é assim que ela acredita.
Na briga de João e Janete, qualquer dos dois tem razão.
Mas a pendenga promete; escute o que estou lhe dizendo.
Pois ambos estão misturando, artesanato e emoção.
E nós aqui da esquina. Ficamos, apenas, torcendo
Pela poesia sem volta; sem atropelo e com rima
Não sem sentir de primeira; Com muito amor e paixão
Ainda que depois se retoque; um pouco por baixo ou por cima
Enquanto se aguarda a certeza, de qual dos dois tem razão.
O João, ferreiro de fogo.Molda assim a poesia. .
Do jeito do seu trabalho. A rima é sempre escorreita.
Não fica pronta na hora. Demora mais de um dia.
É preciso revisa-la. Para que fique perfeita.
A Janete não concorda. Acha que não é preciso.
Basta sentir o impulso. Ter o coração atento.
A poesia está pronta. Não se trata de juízo.
Anda solta pelas ruas. Na chuva, no sol e no vento.
Mas é preciso saber. É preciso decidir. A coisa é diferente.
Cada qual tem seu estilo. Seu modo de proceder.
O que vale é o amor. Que vive dentro da gente.
Que nasce e se renova. E que um dia pode morrer.
Precisando de retoques. N’alguma parte qualquer.
Mas pode também ser eterno. Enquanto durar, obviamente.
Disse-o assim o poeta. A poesia requer.
Dedicação exclusiva. Um grito de amor permanente.
A poesia do homem. A poesia certeira. Trabalhada com rigor.
A poesia do João. Poesia masculina. Poesia racional.
A poesia da Janete. A poesia feminina. A poesia do amor.
Ambas se complementam. O sincero e o sensual.