É um longo charuto de metal, com cerca de 80 vidas, a
vagar, com uma força de empuxo acima da gravidade, pelo céu afora, como se fosse dono de todos os pontos cardeais.
Noite. Escuridão negra em torno do tubo metálico só nos deixa divisar as estrelas piscando e algumas nuvens esparsas acariciando a nave, que, Ã s vezes, estremece, como a recusar a carícia fora de hora ou de lugar...
Lá embaixo, de quando em vez, surge um lago de luzes multicores, brancas, azuis, vermelhas, claras, menos claras, piscando ou vibrando incessantemente, movimentando-se lentamente em riscos iluminados por pequenos focos de luz amarela, branca e vermelha: cidades que borbulham ou dormem em meio ao manto da noite que aconchega o globo.
Lares acolhedores, de portas e janelas fechadas que aconchegam o amor, o carinho e a paz. Sussurros de confissões de amor eterno, gemidos de carinho... gestos e palavras singelas que se perpetuam na geração do sangue.
Rua de burburinho jovem que se agita como mariposas em torno da luz. Eles e elas pensam que têm de chegar no que é seu com o máximo de pressa e açodamento. Como se o momento fosse único. Ou como se o mundo fosse acabar.
O macho em busca da fêmea e vice-versa, no cio do ócio da noite etílica dos deuses da procriação. Tudo é válido desde que a paixão coordene todos os passos ao leito do amor sem preconceitos. Amor? Paixão?
Sem freios nem compromissos, acobertados pela escuridão da noite, escondidos de uma raio de luz que se projeta incómodo entre os amantes que ansiosamente se aconchegam, entregam-se e se dizem apaixonados neste instante, para depois se despedirem num tchau sereno, sem vibração, na certeza de novo não se verem...
É noite, lá embaixo...
Tremem as luzes...
As estrelas velam pela calma do universo.
E o tubo me leva de um canto ao outro do Brasil, onde existe vida, trabalho, o homem e suas atrapalhadas...
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