Nana, Nina, Não! Porcaria Não! Não quero outro caneco. Não vou viver de ilusão. Não sou mais torcedor brasileiro. Já fui, faz tempo, o primeiro. Já sou pentacampeão. Cansei de torcer pelo time. Cansei de ver a seleção. Cada jogo um improviso. Uma desculpa esfarrapada. Cada entrevista um paraíso. No final não dava em nada. A gente se preparava. E não se via a jogada. Aquela tão esperada. Uma dor no coração. A cantoria do hino. E lá estava eu de novo. Assistindo a seleção.
Admirando as cores. O verde o amarelo e o azul. Do Norte ao Leste e Oeste. Do Centro-Oeste ao Sul. Do Leste até o Nordeste. Brilhava o Cruzeiro do Sul. O tremular das bandeiras. Minhas pernas fraquejando. Na sala, quase chorando. Eu assistia sentado. O tempo ia passando. E a bola sequer seguia. O rumo por mim traçado. Na rede por fora batia. Por cima do travessão. No cantinho quase entrava. Deixava o goleiro na mão. Mas a ansiedade aumentava. E o tempo logo passava. Mostrava a televisão. E o primeiro tempo acabava. No zero a zero sem graça.
E o repórter por pirraça. De pronto anunciava. Passar os melhores momentos. Mas como se não existiram? Se só tivemos tormentos? E assim depois de um gole. De água ou de cerveja. O jogo recomeçava. E tudo de novo voltava. A fraqueza de minhas pernas. Meu coração que pulsava. A cada lance perdido. Um palavrão eu soltava. Era um gole de bebida. Era mais um que tomava. E assim à cada jogo eu sonhava. Sofrendo, torcendo e gritando. Até o apito final.
No campo o verde das matas. O orgulho nacional. Na tela se via pintada. A aquarela do Brasil. Tinturas de lindas cores. O Brasil de mil amores. De tantos moleques travessos. Brincando com a bola rolando. Virando-a pelo avesso. Às vezes com algum tropeço. Mas é assim mesmo, eu mereço. Pois a gente sempre acredita. Na fama da seleção. Desde os tempos de Pelé. De Garrincha e Tostão. Ou até mesmo de Barbosa. O goleiro de cinqüenta. Que iniciou a trajetória. Deste eterno sofrimento. Quando o Uruguai deu a partida. Com a festa acabou. Em pleno Maracanã. A seleção foi vencida. E o Uruguai foi campeão. Para tristeza da Nação.
Depois o tempo foi passando. Do futebol colorido. De amor a nossa camisa. Do futebol que era arte. Passamos ao capitalismo. O futebol realismo. O realismo fatal. Que na França todos se lembram. Todo mundo passou mal. A luta prá fazer gol. Os grandes craques aparecem. E alguns ainda se prestam. Às grandes negociações. Por isso não vale à pena. Assistir uma partida. Que já se dá por perdida. Num jogo sem lealdade. Num jogo de mentirinha. Num jogo que falta a verdade.
A culpa é da cartolagem. Que só pensa em dinheiro. Ficar rico bem ligeiro. E assim o futebol foi perdendo. A graça de antigamente. A beleza de um drible. Um gol de placa um poema. E a Copa do Mundo que era. A grande concentração. A festa da paz e da união. Tornou-se comprometida. Abriu-se uma grande ferida. E o povo que ainda vibrou. Com tanta garra e emoção. De ver o Brasil chegar lá. E ser pentacampeão. Não terá tanta alegria. Na Copa que será jogada. Na terra do Alemão. Pois de quatro em quatro anos. Cai o nível dos jogadores. E também da competição. Com juízes enganadores. Quando não é cego é ladrão.