Da poltrona olhava através da porta aberta, com os dois olhos. Para mim, olhava com um olho só, sempre. Com o outro e mais metade da cabeça, olhava para trás. Havia ainda o coração que dava meia batida, o corpo que não beijava todo, o silêncio que não era meu.
Um dia deu-me palavras inteiras confirmando a metade de que dispunha. Bem tentei pegar o que me cabia mas carregar metades é tão difícil! Elas se desequilibram e caem sempre no lugar que mais nos dói, o que estiver mais machucado naquele momento. Segurei, mas escorregava e aquele olho que olhava para trás me exasperava. Amarrei e procurei puxar com uma corda. Enroscou-se pelo caminho, não deslizava. Sentei ao lado, analisei, não encontrei solução.
Então, no ouvido que me cabia, cochichei baixinho e disse vai, vai em busca da tua metade. Levantou-se e pulando em seu único pé, sumiu no caminho.
Depois eu soube: formara um inteiro e lá estava no lugar de onde nunca deveria ter saído.
9/12/2008
Tita
visite: http://cristinaanconalopez.blogspot.com
|