Sentada na sala vazia olhava a chuva. Do vidro grande tinha a visão do gramado molhado e das gotas que pendiam dos arbustos de flores, mas não prestava atenção.
Com uma das mãos, distraída, re-iniciava o despejar da areia na ampulheta de vidro. E olhava a areia fina descendo pelo túnel estreito, durante um minuto. Virava a ampulheta e olhava de novo e de novo e de novo...
Assim, contava o tempo, minuto a minuto. Quem sabe na próxima virada...o que aconteceria? Quantos minutos seriam necessários para que alguma coisa acontecesse? Aconteceria alguma coisa se ela não fizesse nenhum movimento para isto além de girar a ampulheta com a mão? Seria real o fato de que os acontecimentos nos chegam mesmo que nada façamos? Seria real que só nos chega o que nos esforçamos para alcançar?
Resolveu marcar os minutos e a cada virada da ampulheta fazia um risco preto no caderno, formando quadrados de cinco riscos, um risco a cada minuto.
O dia foi correndo, o caderno cheio de quadrados de cinco riscos. Nada aconteceu, constatação a cada minuto, nada fez, esperou, constatou, girou a ampulheta... Apenas a mão girando ampulheta, a mão riscando o caderno, a mente sem nada pensar.
A chuva continuando, o silencio pesando, a mão virando a ampulheta, girando a ampulheta, olhando a ampulheta...
24/11/2008
Tita
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