Não iria se preocupar. Afinal, de tão vivido, já sabia como funcionava a coisa:
o terror tomava conta, o estomago se contraía, a tristeza ocupava os poros, o choro vinha, era difícil desculpar mas, com o tempo, acabava passando.
Argh, que preguiça que dava ter de lidar com esse sofrimento que parecia nunca ia embora e ter de se convencer a cada dia de que uma hora, sem sombra de duvida, iria embora e o que restava era apenas uma ferida que lá ficava. Vez em quando dava uma purgadinha, mas cada vez menos forte.
Purgar vez em quando era preciso. Na vida purga-se. Se não se purga, incha e uma hora explode. Melhor purgar.
Afinal, somando e dividindo, nem guardava tantas feridas, eram poucas. Algumas lá da infância que nem purgar purgavam mais, outras da adolescência que já tinham cicatrizado.
E não é que na vida adulta, bem quando achava que tinha aprendido a não se machucar, ainda acontecia de se ferir e até bem feio? As da vida adulta eram as que mais purgavam. Mas ele sabia.
Ti-ra-va-de-le-tra.
Por isto não estava entendendo esta ultima que cismava em voltar a incomodar. Toda hora saindo aquele liquido amarelo, que manchava os olhos, o coração, o seu modo de se colocar perante a vida. Corria se esconder. Não queria purgar na frente dos outros.
Algum dia, pensou, com tanta evolução na medicina, inventariam algum remédio que desse conta de fechar a ferida num vapt-vupt. Talvez um soro, uma pílula... Preferia um soro. Melhor. Soro vinha num vidro grande, guardava-se na geladeira, era barato e não tinha contra indicações. Remédios já tomava muitos e pra que mais um? Tinha certeza de que a ferida, existisse um soro, já estaria curada.
Mas mesmo assim, de uma maneira ou de outra, uma hora se curava.
Não iria se preocupar. Afinal, não era ele que de tão vivido já sabia como funcionava a coisa?
Tita
10/11/2008
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