Nos dias de muito calor as coisas parecem irreais e lembro-me sempre da fumaça que sai do asfalto, como aquela dos filmes mexicanos em que tudo fica fora de foco enquanto todos suam e a impressão que se tem é de uma enorme sujeira, indolência total, cabelos grudados no rosto de pessoas estranhas que não se sabe por que teimam em ficar em lugares tão quentes como eu também já fiquei tanto tempo...
Nos dias quentes, tenho uma moleza no corpo que toma conta de tudo e que faz com que queira estar em um quarto com ar condicionado, se possível sem conversar, sem pensar, sem nada fazer, apenas sentindo o ar frio a correr sobre a pele, uma cama grande, um quarto de hotel, um roupão branco, comida leve, abrir a janela vez em quando para ver se por acaso haverá um vento que levante os cabelos e erice os pelos do corpo como uma brisa fria, quase sempre inexistente nessas horas...
Mas há dias de calor em que seria melhor uma piscina ou uma praia, mergulhando no mar dos meus sonhos recorrentes, purificando-me com a água salgada dos meus desejos recorrentes, com pessoa com quem gostaria de ter a segurança de sonhar recorrente, beijando beijos fortes, barulhentos, bebedores de ar e recorrentes de amor recorrente e tomador de todos os espaços, recorrência de sentimentos, entrega, comunhão, confiança, coisa talvez tão difícil de se ter...
Houve época em que quando o calor era tanto, preferia um mato cerrado o melhor era montar a cavalo e adentrar o mato que ali sim sentia-se o frescor, e encontrava-se pequenos córregos com água fresca, era só apear e lavar o rosto, as mãos, beber a água fresca e por que não fazer amor se assim se desejasse, molhando o corpo no córrego raso, no meio do mato, sem hora para voltar, cavalos amarrados nas árvores grossas, barulhinho d’água, paixão forte, calor e sussurros, calor....
Talvez devesse escolher alguma dessas possibilidades para escrever indo mais a fundo, mesmo sabendo que há vezes em que ir mais a fundo confunde os pensamentos e não se sabe mais o que é verdadeiro e o que é apenas fruto de uma criatividade que se torna maior a cada escrever e que tira coisas de dentro misturando-as com as de fora formando um só bolo que talvez tome conta de tudo e por esse motivo não se sabe mais o que seja talvez do texto, o que talvez seja de mim, ou o que talvez tenha sido um acontecido nunca mais esquecido ou uma vontade latente de que acontecido seja... Talvez...
Tita
28/10/2008
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