Tinha a mania do perfeito, mas só conseguia mostrar esta mania de maneira torta. Era então que o perfeito se mostrava entortado e ao olhá-lo era impossível compreendê-lo.
Foi pela vida a explicar o perfeito com palavras mancas, que ao chegar em ouvidos outros, mostravam imperfeição maior do que a que considerava verdadeira, que perfeita não se mostrava.
Então resolveu não mostrar-se a si mas sim às coisas de si e de esforço em esforço pouco conseguiu. Resultavam as amostragens em coisas incompletas e desconexas, sendo assim como uma mão com unhas feitas na qual restava uma sem fazer, uma caneca sem seu cabo, um chapéu sem aba, uma bengala cujo apoio escorregava no chão, um cão que não latia, uma torneira sem água, uma musica sem som, uma panela eternamente sem comida.
Não sabia o que fazer com esta imperfeição que por mais da mania do perfeito que existisse, não resultava em nenhum feito. Por isto procurava pessoas que, por já serem tortas, poderiam mostrar seus lados tortos de maneira torta o que logicamente resultaria em um perfeito, uma vez que o torto demonstrado por um torto fica torto e de tão perfeitamente demonstrado, tornar-se-ia perfeito.
Era assim que procurava desentortar-se, em vão. O perfeito resultante do desentortado não era seu e, por isto, não se tornava parte de si.
Um dia resolveu reconstruir-se do inicio e para tanto achou por bem construir primeiro a moradia aonde, fechada longe do mundo poderia dedicar-se ao processo de sua própria reconstrução. Começou tijolo a tijolo, a subir as paredes vagarosamente até que concluiu o serviço e foi então que percebeu-se abalada pois que a casa ficara perfeita. Olhou de longe, tudo reto, tudo completo, tudo no lugar, tudo pronto. Faltava apenas adentrar e, ali dentro, reconstruir-se. Mas como poderia, já dentro de algo tão perfeito, começar suas tentativas imperfeitas? Não conseguiu entrar. Mochila nas costas, parou no limiar da porta de entrada. Não posso entrar! Esta casa não me recebe. Aqui não vou.
Duvida, pensamentos, resoluções, decisão. Chamou o carpinteiro, pediu que subisse e retirasse a moldura de uma das janelas da frente. Assim, ao olhar a casa, a imperfeição saltaria aos olhos.
Então olhou a casa de frente, pela ultima vez.
Satisfeita, cruzou o limiar, coração disparado. Não fazia idéia de como voltaria do retiro voluntário. Nem mesmo se voltaria. Entrou, sem saber, e fechou a porta atrás de si.
Tita
27/10/2008
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