O SANTO VIVO BRASILEIRO
PRIMEIRO ATO
A EUFORIA
O fato aconteceu sem que ninguém percebesse.
Quando para surpresa geral da Nação Brasileira, o que era impensável começou a tomar corpo, com possibilidades de ser tornar real.
O BRASIL PODERIA FINALMENTE TER O SEU PRIMEIRO SANTO VIVO.
A pergunta que o povo brasileiro fazia, era como isso foi possível, notava-se nos templos católicos de todo o País, que durante as missas, as homilias tratavam, só deste assunto.
Os padres na sua maioria, com raras exceções, atropelavam a liturgia da missa.
Houve um caso interessante em uma pequena igreja no Ceará, que se repetiu em milhares de igrejas católicas do Brasil, onde o padre bem no momento da consagração da Eucaristia, em vez de usar as palavras “ESTE É O MEU SANGUE QUE SERÁ...” Usou estas “QUE O SANTO VIVO DESTA DÉCADA SEJA O BRASILEIRO”. Ao que as pessoas que assistiam à missa, responderam do fundo de seus corações AMÉM.
Se apenas este fato tivesse ocorrido nesta missa: A liturgia foi para o espaço e sem delongas, o padre interrompeu a consagração da Eucaristia, deixando as hóstias esquecidas sobre o altar, e passou a falar do possível primeiro e talvez o único nos próximos quinhentos anos santo vivo do Brasil.
A mídia em geral só se ocupava deste assunto.
Fatos como a violência, a corrupção, as drogas, o mercado financeiro, a guerra do Iraque, o preço do petróleo que atingiu a marca de duzentos e cinqüenta dólares e um centavo o barril, deixaram de ser destaque.
A mídia brasileira só focava a possibilidade, de um brasileiro se tornar o santo vivo da década da Igreja Católica.
Então nessa altura dos fatos, existia um cidadão brasileiro, e que não era padre, com reais possibilidades de se tornar um SANTO DA IGREJA CATÓLICA.
E o que é melhor, um SANTO VIVO, porque santo morto é santo morto, mas já santo vivo é outra história.
Não são muitos os santos vivos da Igreja Católica. Pode-se contar nos dedos de uma mão o seu número.
E todos esses santos vivos são de países desenvolvidos. Nunca houve na história de dois mil e poucos anos da Igreja Católica, um santo vivo de país em desenvolvimento, e muito menos de país subdesenvolvido.
Certa vez, perguntaram ao Papa numa coletiva concedida a jornalistas de todo o mundo, qual a chance de Uganda na África, ter um santo vivo.
O Papa foi taxativo:- NEM MORTO, QUANTO MAIS, VIVO.
Portanto não cabe aqui nenhum tipo de crítica a atuação da mídia brasileira sobre o assunto.
Por que santo brasileiro não acontece nunca. No máximo, um ou dois beatos mortos e olhe lá.
Mas a possibilidade de um santo brasileiro e ainda por cima vivo, quer concordem ou não, é um fato relevante. Merece ser manchete diária na mídia escrita, falada e televisionada.
Sem falar nos livros escritos em tempo recorde desde que a notícia tornou o fato real.
O escritor Antonio Lebre não deixou por menos e, em apenas cinco dias, escreveu um livro de quatrocentos e trinta e duas folhas sobre este abençoado brasileiro, cujo título é: AS ENTRANHAS DO SANTO BRASILEIRO EM VIDA.
Antonio Lebre em entrevista concedida a programa de entrevista na TV cujo apresentador, perguntou sobre o título do livro, indagando o escritor, porque santo em vida e não santo vivo como a imprensa tratava o santo, Antonio Lebre respondeu.
-Santo vivo soa pejorativo. Algo como santo esperto etc... Estas são as armadilhas de nossa língua, pois santo vivo que dizer muita coisa. E como não quero ser eu a desrespeitar o santo brasileiro, do qual, diga-se de passagem, já sou um ardoroso devoto, e estou liderando um grupo de pessoas para adquirirem fundos para a construção da futura Capela dedicada ao santo brasileiro em vida, santo em vida para mim soa respeitoso.
O apresentador comentou. –Mas uma Capela? Lebre você não acha que o nosso santo vivo merece algo maior, como por exemplo, uma igreja? Capela eu acho, sei lá...
-Calma capela foi maneira de falar. A campanha nem começou e para você ter uma idéia, um grande número de empresários de peso estão contribuindo com grandes somas. Por exemplo, o Pedro de Moraes já fez uma doação de vinte milhões de reais, e olha que ele disse ser esta a primeira de uma série de doações que ele pretende fazer.
O apresentador falou espantado e admirado: - Lebre então vai dar para construir uma senhora igreja!
-Igreja não, tenho certeza absoluta que edificaremos uma monumental catedral em prol do santo vivo, desculpe santo em vida brasileiro. Eu não ficaria surpreso se esta catedral ficasse maior e mais bela que o Vaticano.
Concluímos que toda produção de informação da mídia brasileira é em favor do brasileiro candidato a santo vivo.
Porém a mídia internacional segue o caminho contrário principalmente à Argentina, que não consegue digerir o possível santo vivo brasileiro.
De toda a América do Sul o único país cuja mídia está apoiando o santo vivo brasileiro é a da Venezuela. Mas na verdade, o apoio é de seu Presidente Hugo Chaves, que solidário ao Brasil, ordenou a mídia venezuelana total apoio ao santo vivo brasileiro.
O SANTO VIVO BRASILEIRO
SEGUNDO ATO
COMO TUDO COMEÇOU
A jornalista investigativa e articulista de um grande jornal, Defuntina Campa de Souza, autora de inúmeras manchetes de primeira página do jornal, emplacou mais uma:
O POSSIVEL SANTO VIVO BRASILEIRO
BRASILEIRO PASSA PARA SEMIFINAL DE SANTO VIVO
No corpo da matéria a jornalista discorria como o brasileiro passara por todas as etapas do CURSO DE SANTO VIVO da Igreja Católica conseguindo chegar à etapa semifinal que é PRA SANTO VIVO SÓ FALTA O PAPA CONFIRMAR, onde apenas duas pessoas conseguiram chegar, o brasileiro e um francês. Dos dois um seria escolhido pelo Papa o santo vivo de dois mil e sete.
Fato este que se repetiria após dez anos, ou seja, só em dois mil e dezessete um novo santo vivo seria escolhido.
Nesta longa reportagem de quatro páginas a jornalista descrevia o caminho percorrido pelo brasileiro no curso de santo vivo até chegar à etapa semifinal.
Dava detalhes da vida do quase santo, local de nascimento, nome do pai, mãe, enfim, esmiuçou a vida do futuro santo, e lógico que também em primeira mão a foto do santo vivo.
Esta reportagem foi considerada no Brasil, a reportagem do século, recebendo diversos prêmios.
O SANTO VIVO BRASILEIRO
TERCEIRO ATO
A NAÇÃO BRASILEIRA EM ÊXTASE
-Santo vivo!
-É o santo vivo!
-Alcancei uma graça por intercessão do santo vivo! Santo vivo, o santo vivo só faz milagres.
Era santo pra cá, santo pra lá. –Você viu a última do santo vivo? E por aí a fora.
As redes de TV do Brasil disputavam à tapa a presença do santo vivo para a sua primeira aparição na tv. Valia tudo nessa briga de gente grande.
Enquanto as redes de TV, jornais e revistas corriam atrás do santo vivo, vinte e quatro horas por dia, uma coisa curiosa e grandiosa aconteceu.
Começou em uma pequena cidade do interior do Estado de São Paulo.
Por volta das quinze horas na Matriz de São Jorge, padroeiro desta cidade, o padre acordou sobressaltado de seu sagrado cochilo da tarde, com o grande alarido defronte a Matriz produzido pela multidão que gritava palavras de ordem.
-Fora com São Jorge! Basta de santo estrangeiro.
-A matriz pro santo vivo brasileiro.
-Queremos a matriz pro santo vivo brasileiro.
-Fora com São Jorge, e viva o santo vivo brasileiro.
-Queremos o santo vivo brasileiro, como padroeiro da cidade.
-Fora com São Jorge.
No meio do povo gritando, havia um grande número de torcedores do Curingão, e pela suas fisionomias, percebia-se certa dificuldade em gritar contra São Jorge, pois o referido santo é padroeiro do Timão.
Uma repórter no meio da multidão percebendo a situação desses torcedores, perguntou a um deles, se ele não se sentia mal de estar contra o santo padroeiro do Timão. Então ele respondeu.
-Sinceramente estou triste e chateado. Mas entre São Jorge que é estrangeiro e o santo vivo brasileiro, eu fico com o santo vivo brasileiro. E os gritos dele destacaram dos demais, pois ele começou a gritar.
-QUERO O SANTO VIVO BRASILEIRO TAMBÉM PARA PADROEIRO DO TIMÃO.
O padre ainda meio sonolento e assustado com o alarido do povo, ao chegar à porta da matriz, não teve dúvida, quando percebeu o que estava ocorrendo gritou do alto da escadaria.
-Viva o santo vivo brasileiro.
E assim foi por longos quinze minutos: o povo gritando, e o padre regendo os gritos do povo.
Até que um cidadão gritou em alto e bom som.
-Vamos tirar São Jorge da matriz. Fora com São Jorge.
As pessoas começaram a adentrar na igreja em grande número, e como a massa de pessoas era muito grande a igreja ficou totalmente lotada, e uma grande parte do povo acabou ficando do lado de fora.
O cidadão que se encontrava aos pés da imagem de São Jorge no altar mor, não teve dúvidas, retirou a imagem com cavalo e tudo do altar, e com os braços erguidos acima da cabeça, passou-a para o próximo ao seu lado e assim foi executado pelo povo.
Para quem estava a um ponto de observação afastado, a visão que se tinha era de que, a imagem de São Jorge galopava com o seu cavalo em câmera lenta sobre o povo, do altar mor à porta de saída da matriz.
Após esse galope sobre o povo em direção à rua, o São Jorge e seu cavalo se tornaram mais dois sem teto.
Depois deste inusitado fato, a onda se espalhou, como um rastilho de pólvora pelo Brasil, não tinha como contar o número de santos e santas desalojados. Na verdade, despejados de suas capelas, igrejas e catedrais. Nem santo e santa de cemitério escaparam das ações de despejo.
A mídia brasileira continuava a martelar as vinte e quatro horas do dia o povo brasileiro com um único assunto: O SANTO VIVO BRASILEIRO.
Como era de se esperar, milhares de fiéis, que haviam abandonado a religião católica, trocando-a por outras religiões, começaram a retornar aos braços da mesma, para alegria do clero católico.
Um Instituto de Pesquisa divulgou pesquisa que apontava o retorno de fiéis para o seio da religião católica em 99% com margem de erro de 0,000001% só para cima.
Esta pesquisa colocou uma grande Rede de TV, que caminha rumo à liderança, em um dilema: se correr o bicho pega e se ficar o bicho come.
O resultado desta pesquisa em outra Rede de TV era divulgado de três em três minutos, e o apresentador nem disfarçava o sorriso de escárnio e satisfação.
Em uma conversa de boteco de alguma cidade brasileira, um cidadão depois da oitava dose de pinga saiu com esta: - Porque não o santo vivo pra Presidente?
Todos os demais no recinto gritaram em coro.
- É isso aí, o santo vivo pra Presidente.
Essa frase por incrível que pareça, não demorou nem meia hora e já era proclamada no Brasil inteiro pelo povo, tamanho era o prestígio e fama do santo vivo brasileiro.
A Nação Brasileira vivia e respirava o santo vivo brasileiro, e já estava próximo o dia em que o Papa confirmaria o santo vivo da década, que tanto poderia ser o brasileiro como o francês.
Mas o povo brasileiro tinha fé, muito embora a lembrança de 1998, Copa do Mundo de Futebol, Zidane, França 3 x 0, preocupava já que concorrente do brasileiro era um francês.
Bem que poderia ser um cidadão de qualquer outra nacionalidade, mas logo um francês? A Copa do Mundo de 1998 que queira quer não, pesava na fé dos brasileiros.
Mas não tem um ditado que diz que Deus é brasileiro? Sei não... Sei não...
Para dar uma injeção de ânimo no povo, As redes de TV passaram apresentar testemunhos de pessoas que haviam alcançados milagres por intercessão do santo vivo brasileiro. (igual ao que estamos acostumados a ver nas TVs) e numa destas apresentações ao vivo, mereceu destaque o testemunho de um grande e famoso político de direita, que sofria de labirintite, e toda vez que tinha uma crise caía para a esquerda, o que o deixava constrangido, servindo até de gozação pelos seus pares, e que após a graça alcançada passou a cair para a direita.
A mídia procurava acalmar o povo, afirmando exaustivamente que a Copa do Mundo de Futebol de 1998, nada tinha a ver com o santo vivo brasileiro, e socando goela abaixo do povo os milagres do santo vivo brasileiro.
Até que explodiu a notícia transmitida em rede de TV e rádio:
-SENTIMOS INFORMAR À NAÇÃO BRASILEIRA QUE EXATAMENTE ÀS DEZESSEIS HORAS E VINTE E OITO MINUTOS, PORTANTO HÁ APENAS DOIS MINUTOS, O NOSSO QUERIDO, AMADO E VENERADO SANTO VIVO BRASILEIRO, MORREU EM ACIDENTE DE TRÂNSITO, NA VIA DUTRA, A CAMINHO DO RIO DE JANEIRO, AONDE IRIA SE APRESENTAR AO VIVO, EM UM PROGRAMA DE TELEVISÃO.
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