Por entre pilhas de papéis e idéias, permaneço sentada à horas preparando a Monografia. O tema é o Sentido da Vida. Escrevo. Estudo. Leio. Pesquiso... E o sentido da vida a cada segundo que passa, fica mais confuso e mais longe de se concluir.
Eis-me. Inalterada. Insistindo em tentar descobrir o que falar deste mistério.
Levanto. Olho displicentemente a chuva entoando prantos lá fora. Ouço barulhos desencontrados. Músicas e festas por todos os lados. Disputas de som. Estilos. Músicas. Sorrisos. Gestos. Sussurros. Paqueras. Amassos.
Num repente, meio mesmo que de repente, deu vontade de ganhar as esquinas, sair e procurar lá fora o sentido da vida. Talvez assim fosse mais fácil de entender. Ir à folia. Mas que folia? O Carnaval nem chegou e já há desfile de carros alegóricos. Mulheres decoradas. Bonecas de porcelana. Baton. Perfumes exóticos. Pensei cá com meus botões: O carnaval chegou durante o tempo que passei sentada e perdida em idéias. sobre a direção exata a ser tomada para encontrar a resposta à minha pergunta. Num tempo mais rápido ainda olho para a cama e esqueço a idéia casual.
O telefone toca. Vozes conhecidas teimam em me empurrar para uma festa. Que eu não quero ir. Nem mesmo ando querendo ir à lugar algum. Dispenso. Em passos lentos dou voltas pela cama. Espreguiço-me. Olho meus espelhos. Meus narcisos. Me assisto: de frente, de costas e de lado. Ele encara-me indagativo. Encaro-o também. Pergunta-me o que não entendo e como vingança, respondo-o nada. Olho fixamente à minha figura estampada. Sorrio. Mesmo sem produção e alegoria, sou uma simpática criação.
Sexta-feira... O frenesi acontece à minha volta. Todos querem sair. Todos querem beber. Todos querem encontrar sabe-se lá o quê. Tambei procurei o tal do “quê” às sextas.
Nesse momento, despida da minha matéria e de minhas vestes, novamente me preocupo com o sentido da vida. E o espelho; cego, surdo e mudo ainda me encara.