Para quem não é de Brasília e só vê aqui o cenário político, a ilha da fantasia, pode parecer que a Praça dos Três Poderes inclui o Itamaraty e o Palácio da Justiça; ou até mesmo que o Catetinho seja uma "réplica" do Palácio do Catete - na antiga capital; pode ainda dizer que "muitos" dos habitantes da cidade vivem aqui apenas de segunda a quinta-feira e que nos finais de semana e feriados a cidade fica deserta. Assim como aqueles que afirmam a existência do rio e não do Lago Paranoá e, que o nome do ex-presidente se escreve: "Kubitschek" e não, Kubistchek.
Oscar Niemeyer - com os projetos da Catedral, Teatro Nacional, minhocão; Lúcio Costa - vencedor do concurso nacional para elaborar o Plano Piloto; Burle Marx; Athos Bulcão; Israel Pinheiro - nosso primeiro prefeito em 07/05/1960. Citemos ainda, Catetinho, em 31/10/1956; cidade de Taguatinga em 05/06/1958; Darcy Ribeiro - como o primeiro reitor da Universidade de Brasília; Affonso Brazza, o bombeiro-cineasta; Vladimir Carvalho; Oswaldo Montenegro; Oscar Schmidt, entre tantos outros conhecidos ou não.
"Qual é o seu nome?
Me chamo Brasília
Sabia que um dia
Ia te encontrar"
- introduzia-nos Alceu Valença em Te Amo, Brasília
E, como nos livros de história: "Brasília foi tombada em 07/12/1987 pela Unesco como Património Histórico e Cultural da Humanidade. Elegendo em 1990 seu primeiro governador e deputados distritais". - Mas, alheia aos erros e comentários do clima e da política: há uma outra Brasília que precisamos (re)visitar.
Afinal, quem nunca foi na Bibabó, fez compras na SAB ou na Fofi, e "pegou um bronze" no Clube da Vizinhança ? - A Brasília sem esquinas é hoje uma cidade de shoppings, bares, clubes, grupos e, pedintes a cada semáforo. Mas o ruim mesmo daqui é que: a tribo do rock não se mistura com a do pagode; nem todo mundo é funcionário público apesar destes concursos terem abastecido cada vez mais "forasteiros"; é essencial ter carro, companhia e uma razoável quantia em dinheiro para "se divertir"; aumenta-se a gasolina, o gás de cozinha, o telefone, o cinema assim como aumentam os impostos e os sequestros-relàmpagos. Pois é, morar em Brasília custa caro ! Talvez aí se deva o fato de termos uma das melhores remunerações do país, seja em qual área for. Mas então: como morar no Plano Piloto ? Como estudar no Ceub, fazer pós e viajar para o exterior ? Como sair todo final-de-semana ? Não menos caro é passar os dias e, (as noites) na Internet, globalizando-se.
"Eu vou surfar no céu azul de nuvens doidas/ Da capital do meu país/ Pra ver se esqueço da pobreza e violência/ Que deixa o meu povo infeliz ...´´
- anunciava um dos primeiros sucessos do Natiruts
"Cortesias" Ã parte: - Seja bem-vindo(a) ao piloto-Brasília ! Cidade planejada assim como Goiània, Chandigarh (na índia) e Canberra (na Austrália), construídas muito antes de nossa capital federal. Superquadras, Parque da Cidade -antes Rogério Pithon Farias; Torre de TV, Gilberto Salomão, Conjunto Nacional, cidades-satélites, pontão do Lago Sul ... - Ufa, Brasília turística e consumista também reflete esses lugares ! Assim, qual o roteiro de Brasília ? Essa terra de brasileiros e estrangeiros; gente bonita e gente feia; mascotes que acompanham seus donos nos finais de tarde; gays, heterossexuais e, ... ; trilhas ecológicas; grupos de escoteiros; micaretas e porões do rock; solitários(as); místicos; perdidos; pais e filhos (no planalto central). Como conhecer as diversas Brasílias ? Os diversos sotaques e línguas ? Como identificar a nossa turma ?
"Agora conheço
Sua geografia
A pele macia
Cidade morena
Teu sexo, teu lago
Tua simetria
Até qualquer dia
Te amo, Brasília"
- Esfinge, miragem ... A cidade gira tímida sob a luz - seja da Lua ou artificial - e nos provoca, nos irrita, nos comove, nos incita ao intimismo, egoismo e tantos outros "ismos". - Quero ir para São Paulo; conheci um israelense na NET (gíria de Internet); EU não vou me adaptar, sussurra esta nobre cronista brasiliense. - Quero um emprego ! Vou ser jornalista ? Essa cidade me traz dúvidas, medos, desejos que se não fossem os meus pais ... Talvez estaria agora debaixo de uma ponte. Melancolia, paixões, reflexões (em mim) que redimem a arquitetura urbana em um caos sócio-afetivo à espreita de um pouco de esperança. Ruas vazias, càmeras ocultas, acenos em vão, elevadores frios, cidadãos anónimos - desde o vizinho de porta ao colega de trabalho ... Solidão. Ah, que saudades da turma de garotas da 115; da ausência de preocupações; de não precisar ter carro e nem mesmo haver trànsito; das sessões na Cultura Inglesa, das vernissagens, do Atlàntida de graça; de não precisar ter um namorado para "ser feliz"; nem passar por inúmeros processos seletivos para um estágio de 300 reais. Saudades de um tempo que ficou para trás, já faz parte da (minha) história, pois dos velhos amigos, grande parte ou mudou de cidade, ou está casada, formada e bem-empregada (não necessariamente nessa ordem). Saudades dos primeiros poemas, da primeira crónica, do PIJ e Coral (ambos na UnB), de dormir na casa da amiga; do cinema comercial marcado todo final-de-semana; da primeira rave e até mesmo da primeira vez que dormi na rua - apaixonada -; dos meus desenhos na parede do CEAN; da primeira vez que matei aula - para estudar; até da redemocratização há 20 anos com a morte de Tancredo Neves - em que chorava e cantava Coração de Estudante com minha mãe na Esplanada-; da minha sensibilidade que não cabe mais nesse mundo rápido e estressado; do filho de um militar ... Perdi o passado, não tenho certeza do futuro e o que mais sinto falta é: humanidade, independente de classe sócio-económica, cor, sexo ou religião. Estaria me tornando um mero cartão-postal ? - "DIM, DOM ! Passageiro do Piloto-Brasília: futuro ou passado ? Queira embarcar !"( Você já "viajou" sob o céu de Brasília ? ) Brasília: capital da Res(pública) há 45 anos. - Aqui, comum é ser do mundo ...
``É Asa Norte, é Asa Sul, é avião/ É Lago Norte, é Lago Sul, é solidão...´´
- acerta Alceu Valença em Plano Piloto.
