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Cronicas-->Do que se pode suportar -- 21/04/2005 - 00:57 (Carlos Eduardo Canhameiro) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Do que se pode suportar

Carlos Canhameiro

Ela, camisa vermelha, estava sentada num banco de praça que não se encontrava numa praça. Esperava o tempo consumir a espera e mais nada. Não queria pensar e tentava, com certo desajeito, equilibrar o copo plástico com café expresso numa mão e o livro noutra.
Ele, com os lábios manchados de sangue, estava jogado na terra, numa espécie de jardim dentro da área de lazer do edifício. Sentado como um praticante de ioga, praguejava indefinições. O segurança sorria velado e pouco fez do pouco que poderia ser feito. Ele, Buda, sentado na terra com as pernas cruzadas, sem saber o que pensar mesmo que pudesse pensar.
Elas, perucas ruivas, entravam em cena. Um mamilo a mostra revelava o piercing de mentira. A mentira da verdade cênica, reflexo pobre da vida cotidiana. Elas queriam criticar com caras e bocas. O público queria diversão e se pudesse, mais nada.
Ele venceu a gravidade por alguns momentos, puxou a bolsa com estampas de um simpósio qualquer e, não tomando conhecimento de si e de seu estado, sentou-se ao lado dEla.
Ela, numa tentativa desesperada de ler Faulkner, impávida estava, permaneceu. O copo vazio, a mente idem, Ele ao lado, Ela lendo.
"IMUNDO"
Ele ficou um tempo em silêncio.
Elas se revezavam em cena. Casa vazia, teatro de quinta numa terça-feira.
Ele, "eu vou morrer".
Ela, "todos vamos". Superiora, decidida, capaz de equilibrar a situação constrangedora.
"RESTO"
Elas, "eu quero que os pobres se fodam".
Ele, "você acredita nisso?". Ela = silêncio. Ele, "eu vou morrer". Ela, "você já disse isso".
De longe pareciam amigos ou conhecidos. A figura com sangue nos lábios, terra na testa e grama no cabelo não destoava dEla, de camisa vermelha e livro de capa preta na mão.
Ele, "leia pra mim". Ela leu. Entrecortado, algumas frases desconexas, achou graça da bobagem, curtiu o momento surreal, tinha consciência e se divertiu com isso.
Elas não sabiam o texto direito, se perdiam nas próprias marcas, disputavam o riso minguado do público calado. Elas se permitiam reclamar da vida artística, mas o público parecia não perceber.
Ela lia, Ele exalava a embriagues. Ele, "eu vou morrer e você ainda acredita no que está escrito eu não tenho medo de Deus tenho medo do Papa Jesus não fez isso que está escrito eu vou morrer". Ela 100 paciência.
"IMUNDO"
Ele jogou um pedaço da bolsa no chão. Uma presilha de ferro para amarrar a alça. Ela in≠ continuou a leitura. Ele, "eu joguei e você continua lendo você acha que a verdade está aí eu vou morrer e você continua lendo e acredita nisso". Ele se aproximou. Ela queria ler Faulkner, fechou o livro.
Elas, "que se fodam".
"RESTO"
Ele, "vou acender um cigarro". Ela, "então eu irei embora". Sorriu porque sabia que Ele não acharia o cigarro no bolso esquerdo. Procurava na bolsa. Estava entre A e O. Ela levantou e se foi, rompeu o limite do que se pode suportar.
Ele, morreu. Não naquele dia e muito menos numa ocasião em que Ela tomasse conhecimento.
Elas, encostadas na parede, tentavam criticar a vida. Ø
Ela, saiu do teatro pensando nEle, com sangue nos lábios. A arte era, algumas vezes, irritantemente vulgar e pequena. Ele, sujo de terra, carregava poesia que teatro algum conseguiria mostrar. A vida era melhor que a arte e Ela não entendia O som e A Fúria.
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