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Contos-->Coisa de bêbado -- 28/01/2008 - 13:49 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Coisa de bêbado

Fernando Zocca

Naquela tarde quente de quinta-feira, dez de janeiro, haveria na casa da Luisa Fernanda, mais uma reunião festiva regada com muitos fluídos alcoólicos. Primeiro a chegar, Van Grogue tinha o rosto afogueado e brilhante, sinais indicativos de que já estava “mamado”.
A piscina caseira, no fundo do quintal, continha águas turvas e apesar das queixas constantes dos vizinhos, sobre a possibilidade óbvia da disseminação da dengue, Luisa pouco se importava com os reclamos considerados inoportunos.
Van foi recebido pela anfitriã, que agindo com certa exaltação eufórica, puxou-lhe uma cadeira metálica componente de um grupo de quatro em cada mesa. Havia um conjunto de cinco mesas brancas também metálicas, dispostas ao redor da piscina verdolenga.
Luisa passou a conversar com Grogue, ofereceu-lhe um copo de cerveja e este acendeu um cigarro. Entretidos na conversa foram logo interrompidos pelos demais convidados que chegavam; estes bem descontraídos e à vontade, acomodavam-se nos locais que escolhiam.
O clima estava tranqüilo, no ar pairava um aroma de salgadinhos, perfume e cerveja, quando de repente, o poodle da Luisa, tomado por um acesso incontido de agitação, passou a latir desenfreado.
Lá em cima do muro, Isauro o vizinho chato, conhecido nos bares do bairro como boca-de-porco, por causa da halitose repugnante, gritava pedindo silêncio.
O burburinho emanante da reunião arrefeceu. Todos olharam para aquele ponto inflamado sobre a parede O cachorro continuava latindo.
Isauro diante do silêncio que se formou, e torcendo para que a dentadura não lhe escapasse da boca, disse:
- Gente, pelo amor de Deus! Eu preciso dormir. Tenho que levantar cedo para pegar no meu serviço. Assim não tem quem agüente.
As pessoas voltaram-se umas para as outras e todas buscando, com o olhar para Luisa Fernanda uma orientação, viram pelo gesto que ela fez, que poderiam continuar divertindo-se sem maiores problemas. Que não se preocupassem.
Luisa Fernanda girara o indicador da mão direita em torno da orelha do mesmo lado, dizendo com aquilo que Isauro era maluco, e que desmerecia atenção.
Isauro calou-se diante da zoada que recrudescia, arrumou os fios rebeldes da peruca nova, descendo então do muro.
Mas logo os comensais tensos puderam ver horrorizados que tijolos eram lançados contra eles. Houve um alvoroço, um corre-corre e alguns caíram empurrados por outros.
Ameaçando de morte aquela gente toda, Isauro ofegante, por causa do tabagismo, atirava tijolos enormes contra os festeiros sem, no entanto, acertar nenhum em ninguém.
Esquivando-se, protegendo-se e sentindo-se seguros, os convivas puderam observar até que ponto ridículo e absurdo a insanidade provocada pelo alcoolismo, analfabetismo, e tabagismo podem levar alguém, apesar da idade avançada.
Isauro vestia uma bermuda verde suja, um par de chinelos rotos e uma camiseta azul sem mangas. Seu rosto congestionado indicava intoxicação; ele só não invadiu a casa da Luisa Fernanda por absoluta falta de preparo físico. A taquicardia e taquipnéia impediram-no de coordenar os pensamentos e, o máximo que ele podia pronunciar para a vizinha era a frase: “vou te matar”.
Na verdade Isauro estava louco, impregnado pela pinga ruim, cerveja de garrafa com tampinha enferrujada e cigarros baratos.
Apesar dos esforços da Luisa Fernanda, feitos para impedir a debandada, não houve mesmo jeito.
A festa acabara e a reunião fora desmanchada num clima lúgubre de revolta que se apoderou das pessoas. Todos foram embora indignados.
Arrasada, envergonhada e prometendo revanche, Luisa Fernanda sentou-se ao seu teclado, onde passou a dedilhar velhas melodias.
Ela tocava de ouvido e apesar do medo que sentia, diante de uma outra provável investida de Isauro, deixou-se levar pelo encantamento dos sons mágicos.
No dia seguinte Luisa, ainda bem ressentida, tratou logo de esquecer as ocorrências partindo, bem cedo, para a academia onde dançaria boa parte do tempo.
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