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cronicas-->Por que não escrevo sobre o amor -- 07/11/2000 - 19:19 (Luís Augusto Marcelino) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Minha amiga Juliana me encurralou na parede, dia desses.

- Você até que escreveu umas duas cronicas engraçadinhas... Mas por que não fala de amor, de paixão, de relacionamentos ardentes?

Engasguei. Saí pela tangente, alegando um compromisso inadiável. Mas é claro que fiquei pensando na indagação da colega. Não sou contra namoros. Muito pelo contrário. Curto de montão! Só que todas as vezes que me bateu aquela vontade incontrolável de escrever, nunca pintou falar de conflitos amorosos ou paixões proibidas. Deve ser porque sou frustrado com essas coisas. As mulheres sim, corajosas, abrem seu peito e descrevem cada detalhe dos próprios sentimentos. Conseguem revelar o que vem de seu àmago sem o constrangimento que, pelo menos eu, sinto em escancarar a vida para o mundo inteiro. Eu, hein?

Mas mesmo assim vou arriscar e mudar meu estilo. Não falarei sobre comportamento social e familiar. Nem sobre futebol ou política - meus assuntos preferidos. Vou invadir o terreno de Vinícios e Pessoa e tentarei expor o que penso sobre amor, verbo intransitivo, na definição de Drumond. Se já me apaixonei? É claro que sim! Só que o caminho que o homem percorre nas estradas do amor tem mais espinhos, creio eu. Vejamos: se nascer feio, as chances de se dar bem no amor diminuem; se for feio e pobre, aí é que minguam de vez; se for feio, pobre e burro, esquece. O máximo que vai conseguir é se apaixonar pela garota mais bonita do colégio e casar com a prima dela, que não é lá essas coisas. Do jeito que escrevi dá a impressão de que só penso na beleza. Não é verdade. Mas que todo rapaz já quis sair de mãos dadas com a Miss Primavera, isto não dá pra negar.

Minha primeira paixão, pra variar, foi uma professora de Ciências da 5ª série. Como era linda, a professora Regina!... Além do mais era comunicativa e atenciosa, além de ser jovem. Suspirava enquanto ela falava sobre amebas e fungos. Imaginava-a em meu minúsculo quarto, explicando-me as diferenças entre elementos orgànicos e inorgànicos. Sonhava subir no altar com aquela morena estonteante, sorridente e feliz de estar ali, na igreja lotada, ao meu lado, fazendo promessas a Deus. Aliás, no sonho, eu crescia uns trinta centímetros e ficava com uma cara de galã de novela das oito. Sim, eu era a cara do Tarcísio Meira. Mas um dia tive meu primeiro desapontamento amoroso. Descobri que a professora era casada. Muito bem casada, segundo suas próprias palavras. Tá vendo? Tive de carregar esse trauma de infància por vários anos, até esquecê-lo completamente.

Teve o caso também da Ritinha, a menina mais cobiçada da rua. E a mais rica também, para piorar a situação. Um dia me chamou enquanto jogava bola, em frente ao largo portão do sobrado em que morava. Fiz aquele gesto tradicional de olhar para os dois lados e apontar o indicador para o próprio peito. Ela confirmou. Fui andando devagar, pernas trêmulas e boca seca. Será que enfim teria uma chance? Que nada! Queria saber o nome do loirinho que tinha mudado recentemente para a rua. Maldita!

Pior mesmo foi durante a adolescência, época em que os hormónios falavam mais alto e as espinhas começavam a pipocar no rosto, tornando-o ainda mais obsceno. Era um tal de baile pra lá, festinha pra cá e quase sempre voltava para casa sem nenhuma conquista. No trabalho surgiu uma segunda paixão, tão incerta quanto a primeira. Tanta mulher para eu procurar e fui me apaixonar justo pela secretária do patrão!... Mais uma decepção, é claro. Então foi passando o tempo até eu conhecer a primeira mulher que me desse bola. Casei, para não correr mais riscos. E quanto mais a gente vai envelhecendo parece que nos distanciamos das coisas bonitas da paixão. Das frases amorosas, do buquê de flores, da música que nos lembra a amada, das noites mal dormidas por causa do pensamento contínuo naquele ser magnífico e inatingível. Deve ser por causa de tudo isso que não escrevo sobre amor. Amor me lembra dor. E fujo da dor como o Diabo da cruz!

A propósito, sábado encontrei minha professora Regina no shopping. Meio gorda, é fato. As rugas revelam o avançar da idade, como se poderia esperar. Mas ainda preserva aquele sorriso delicado, instigante. Não dá pra negar que senti um friozinho na barriga. Acho que foi por isso que hoje quis falar de amor.
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