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Contos-->QUEBRA-CABEÇAS -- 21/01/2008 - 19:58 (ANTONIO LUIZ MACÊDO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
QUEBRA-CABEÇAS
Antonio Luiz Macêdo

Cielo fazia jus ao nome que ganhara. Cidadezinha fincada no sopé da Montanha Azul, traduzia nos seus contornos, ternura, simplicidade e encantamento. Vista do alto, era como uma flor de pétalas uniformes que se abriam sob o céu inteiramente revestido de nuvens brancas, que fugiam apressadas ao sopro do vento. Aqui o tempo parecia não ter tempo de passar. Estacionara diante do amor, da paz e da serenidade, irradiados ao longo de ruas pequenas e floridas onde em cada esquina se escondia um sonho, e em cada sonho dormia uma esperança revestida de fé. Assim era Cielo.

Seus habitantes pacatos e alegres pareciam mais com anjos. A fraternidade, o amor ao próximo, a disponibilidade em servir, a compreensão, a hospitalidade, a partilha dos bens, fazia de cada um deles enviado de Deus, inclusive as crianças, imagens vivas dos seus pais. Quem passasse por Cielo sentia uma atração irresistível para permanecer junto àquelas famílias, que na verdade era uma grande família, modelada pelo respeito, pelo diálogo e pelo perdão. Poderíamos dizer que Cielo era uma cidadezinha onde morava a felicidade.

Certo dia, um mago muito estimado na região, e passando pela cidade, sentiu um desejo imenso de ali fazer a sua morada. Caracteristicamente vestido, Paco dirigiu-se à família mais antiga (costume da época), e externou o seu mais recente anseio. Ponderadamente ouviu de Moratelli a razão pela qual não poderia satisfazer a sua aspiração. Inconformado contra-argumentou. Não obteve êxito. Deu às costas, sacudiu o pó das sandálias e vociferou: “De hoje em diante Cielo será uma cidade maldita, até o dia em que sete palavras de sete letras, desvendem o Quebra-cabeças”. E saiu.

Sob esta maldição esteve Cielo por quarenta anos. Uma geração de ódio, injustiça, orgulho, presunção, rancor, mágoa, desamor, egoísmo... Um pequeno inferno que cheirava a enxofre. Sem falar de famílias totalmente destroçadas, onde a inveja corroia os corações. Ninguém se cumprimentava, não se falavam, não mais se ajudavam. As crianças, desde pequenas, eram nutridas pela ambição e pelas contendas.

Era por volta do meio-dia de um dia qualquer, quando um homem de túnica surrada e ares de santo, ultrapassou o muro da cidade. Transportando um grande saco, andava cambaleante sob o peso do fardo. Percorreu alguns metros e parou diante da casa de Moratelli. Desvencilhou-se do incômodo, colocando-o no chão. Bateu palmas e aguardou. A porta foi aberta e um homem trazendo marcas de inferno, gritou:
- Por que me importunas?
- Moratelli, a paz do Senhor Jesus!
- Há quarenta anos que não sabemos o que é paz. O ódio foi semeado em nossos corações e vivemos nas trevas. Muitos e muitos já se foram para a mansão dos mortos, levando consigo essa maldição de Paco. Também sou maldito. Vai-te daqui!
- Não, Moratelli, não sairei até que se cumpra o que foi dito. Para isso é que carreguei o fardo com o Quebra-cabeças. Dentre centenas de letras vocês formarão sete nomes, de sete letras, na ordem correta, e que se encontra neste envelope lacrado. Os nomes dizem respeito ao que vocês deverão promover para que se restaure em Cielo o pedacinho do céu.

Egom armou sua tenda próxima a uma tamareira, e esperou. Os dias passavam sem que nada de extraordinário acontecesse. Até que uma manhã quando os primeiros raios do sol iluminavam a Montanha Azul, e pisando nos passos de Moratelli, os Anciãos de Cielo adentraram na praça. Feições mais moderadas já se podiam ver por trás dos semblantes que, pouco a pouco, se iam re-humanizando. Abriram o saco e deitaram as peças no piso. Cada peça era constituída de uma letra. Centenas e centenas delas formavam o grande conjunto. Os Anciãos, por fim, iniciaram a busca pelas sete palavras.

Após uma semana, nenhuma palavra. Mas já se cumprimentavam, se falavam, se ajudavam mutuamente. O Quebra-cabeças funcionava! Egom então resolveu prestar uma pequena ajuda:
- Vejo o empenho de cada um de vocês. Sei que estão fazendo a sua parte. A tarefa é difícil. Porém, a única informação de que disponho é esta. Anotem . A quinta letra de uma das palavras é “o”; a terceira de outra, “e”; a quarta da seguinte, “l”; a segunda de outra, “r”; a primeira de outra, “e”; a sexta da seguinte, “i”; e a sétima da última palavra, é “r”. Só.

Após três dias de trabalho extenuante, o Quebra-cabeças havia sido desvendado. A cidadezinha revestiu-se de festa. Emoções, risos, apertos de mão, beijos, sentimentos verbalizados, cantos, lágrimas... Egom tomou a palavra, dizendo:
- Quando abri o envelope fiquei imensamente feliz. Sem ter visto nenhuma das palavras, meu coração já determinara que só podiam ser essas. E é simples deduzir. Sem PERDOAR não se pode ACEITAR; sem aceitação não se pode ACOLHER; sem acolhimento não se pode ABRAÇAR; sem o abraço não se pode ESCUTAR; sem escuta não se pode DIVIDIR; sem partilha não se pode CONFIAR. Que Cielo seja bendita! Que as suas famílias vivam a paz! E nenhuma maldição recaia outra vez sobre ti. Que tu voltes a ser o pedacinho do céu.

Ao entardecer, Egom desarmou a tenda e colocou-a sobre os ombros. Enquanto os moradores de Cielo festejavam o Amor que retornara, nos seus passos lentos e dentro de uma túnica rota, Egom distanciou-se e desapareceu pela porta aberta do muro da cidade. E em Cielo reinou a paz.


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