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cronicas-->O VíCIO DA INFELICIDADE -- 10/04/2005 - 17:14 (débora cristina denadai) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Taí. Bem diante do seu narizinho. Aquele grande e primeiro e único e esplendoroso amor que você encontrou num dia ensolarado da sua sombria e terrível vida sem cores acabou. Estrebuchou, arrebentou-se em estertores terríveis que todos os vizinhos da platéia assistiram, agonizou, mas, findou-se. Você querendo ou não. Foi-se, virou poeira. E quase com direito a tapas e sem os beijos da musiquinha breganeja que todo mundo que curtiu fossa um dia, mesmo dizendo que não gosta, ouviu à exaustão. E você ficou ali, parado feito um dois de paus, olhando os escombros do seu belo castelo construído com aquilo que você desejava ver, tomando, evidentemente, o cuidado necessário de construir um porão bem fechado para trancafiar o que você não queria ver.
Sim, senhora. Você escondeu um bocado de coisa porque o sol iluminado dos seus desejos fizeram muito bem o trabalho de cegar-lhe os olhos para os sinais que prenunciavam os consertos que seriam necessários para que a construção não desabasse. Uma exigência descabida aqui, uma proibição disfarçada ali, uma invasãozinha de privacidade acolá. Mas, o que é que custa? Isso não é nada. Tranque no porão.
Esqueceu apenas que os ratos do porão tendem a levar seus restinhos de comida para o resto do castelo. E vai uma sujeirinha para a sala, outra deixada estrategicamente num canto do quarto, outra besteirinha nos demais aposentos e a bomba foi sendo armada. E um dia estoura. Se tem uma bomba que é muito bem armada e estoura com estilhaços perigosíssimos por todos os cantos, causando danos irreparáveis às duas criaturas desavisadas que são os apaixonados, é justamente esta. Quem se apaixona, junta as escovinhas de dentes e divide os armários, acha que já está tudo garantido. Mas sempre esquece do porão.
Em resumo: finou-se o tal amor deslumbrado. Resta seguir, apesar das costas lanhadas, do coração virado em cacos, do monturo em que se tra nsformaram as juras e declarações.
Você pega seus livros, discos, suas fotos e, é claro, suas culpas. Ele pega as dele, e estamos empatados. Mais ou menos, porque um sempre acha que o outro é mais culpado. Porque há sempre três verdades: a sua, a minha, e a verdade.
Cada um toca o barco, encontra outros pares e vamos nós de novo ir cantar noutra freguesia, porque nesta não se vende mais nada, a não ser rancores. E a sua vidinha começa de novo a ter cara de vida e você até acha que agora vai dar pra ser feliz. Que nada. Rapidinho você acha uma razão para ser o mais infeliz dos seres do mundo, incluindo os alienígenas, se os houver.
A verdade verdadeira é que somos realmente um bando de manes: parece que nos acostumamos com a infelicidade, a mesa parca, a cama pouca, o amor pequeno. E quando se nos apresenta a prova de que podemos, sim senhor, ser muito felizes, que podemos escolher não sofrer apesar da dor que vem mesmo quando não queremos, não sabemos o que fazer com isto.
A verdade é que não sabemos conviver com a felicidade e tratamos logo de querer estragar alguma coisa pelo simples capricho de que queremos ter razão. Fatalmente iremos fazer comparações do agora com o ontem. E quando comparamos qualquer coisa, só há perdedores. Se algo ontem foi bonito é justamente por isso: porque está no ontem. O que eu tenho agora e o que vou fazer com o que tenho é o que de fato interessa. O que já foi só serve mesmo de ensinamento, se a gente souber enxergar. Se não, melhor nem lembrar.
Estamos tão acostumados ao sofrimento e à tristeza, que já conhecemos bem e com quem sabemos lidar, que tendemos a não saber o que fazer do prazer e da alegria, que são desconhecidos e nos botam contra a parede. Não sabemos o que fazer com o desconhecido e queremos logo voltar para o terreno que nos é familiar.
O nosso problema é que temos um vício horroroso: o da infelicidade. Só tem um jeito: dar um passo para trás, de preferência pra fora de nós mesmos, exatamente como fazemos com uma pintura na parede e passar a ver as situações de outros àngulos. E, de preferência, enxergar o que está ali e não o que queremos ver.
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