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cronicas-->Cemitério de lembranças -- 10/04/2005 - 08:49 (Pedro Wilson Carrano Albuquerque) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
CEMITÉRIO DE LEMBRANÇAS



Deseja um amigo saber o motivo de eu falar constantemente e com muito carinho de Recreio, minha terra natal, e, no entanto, visitar tão pouco a localidade.
Explico-lhe que não é a distància a causa de meu afastamento. No Rio de Janeiro pelo menos uma vez por mês, não tenho dificuldade em pegar um carro e chegar, em pouco tempo, à cidade.
Dói-me, contudo, lá não mais encontrar pessoas e lugares que tiveram importante papel em minha vida.
Onde está meu pai, com suas histórias, conselhos e incondicional amor pelos filhos? Não mais o vejo nas ruas e esquinas do povoado, nem na Ceràmica Wilson, em seu escritório ou no sítio que possuía. E era tão fácil achá-lo quando dele precisávamos.
Também lá não estão meus avós Franklin de Albuquerque e José Carrano, os tios Leónidas, Jarbas, Lalão, Daher e Edson, os irmãos Eduardo e Cininha e amigos como o Betinho e o Danilo. Também ali não mais residem minha mãe e os irmãos e tios ainda vivos, que se transferiram para outros rincões.
E as professoras Diná e Nice, que complementaram, com desvelo, os ensinamentos de minha mãe?
Dos vizinhos, restaram o Sr. Aristides Dorigo, a Dona Edir e a Dona íris. Dos demais não tenho mais notícias.
No cemitério não localizei os túmulos de antepassados e de irmão que faleceram em Recreio. Infelizmente, os jazigos perpétuos perderam-se em obras no campo-santo.
A Igreja de Jesus Menino Deus? Irreconhecível! Não é mais aquela onde fui batizado, estudei o catecismo, fiz a primeira comunhão e coroei Jesus. Até os ritos não são mais os mesmos de antanho.
A casa onde eu morava, na esquina das Ruas Conceição e Ferreira Brito, foi demolida. Em seu lugar, levantou-se um outro prédio.
A Ceràmica Wilson, geradora dos recursos que me possibilitaram, e aos meus irmãos, o acesso ao estudo e a algum conforto, também se foi, atingida por crises mo mercado de louças de argila.
Não consigo mais localizar o sítio que meu pai possuía, onde topávamos, a todo instante, com aves e animais silvestres. Não era incomum lá avistarmos jacarés, pacas, capivaras, lontras, tatus, tamanduás e outros bichos, inclusive jaguatiricas.
E os córregos repletos de mandis, lambaris, bagres e traíras? Será que ainda têm a água limpa e abundante de então? Suas cachoeiras ainda possuem o encanto que me fascinava?
Os trens cruzavam a cidade, com barulho que substituía os relógios, revelando, pela pontualidade, as horas do dia. Todos desativados, quando deveríamos, no lugar disso, investir no transporte ferroviário, medida da maior importància para o desenvolvimento do País, a exemplo do que ocorreu na Europa e nos Estados Unidos da América do Norte.
Fui convidado, em certa ocasião, para ser o Liquidante da Rede Ferroviária Federal, recentemente extinta. Recusei o convite com a justificativa de que minha história poderia até ser ligada à da Rede, mas nunca à sua liquidação.
Entretanto, não posso deixar-me levar pela melancolia, mas procurar o liame que ainda me liga ao torrão onde nasci.
Assim, alegra-me ver que muitos lá permaneceram, defendendo os interesses da localidade. Vejam o Fernando Coimbra, que, após andar pelo mundo afora, ajudando o próximo com sua sensibilidade e conhecimento de medicina, retornou a Recreio, onde viu a primeira luz, para trabalhar em prol da comunidade.
E muitos recreenses que se afastaram continuaram a ajudar a urbe. Meu irmão José, por exemplo, quando administrador de hospitais públicos de Juiz de Fora ou Diretor Regional de Saúde do Estado, sempre acolheu com braços abertos os conterràneos que o procuravam em busca de assistência.
Eu mesmo, no período em que fui Chefe da Assessoria Parlamentar do Ministro da Indústria e do Comércio, tive a oportunidade, instado pelo amigo Chumbinho e sem deixar de respeitar a legislação vigente, notadamente a relacionada com a ética e disciplina, de contribuir para o asfaltamento da estrada para a Rio-Bahia, a obtenção de dependência do Banco do Brasil e a abertura dos postos de gasolina nos sábados, domingos e feriados (em época de racionamento).
Tive participação, também, na inauguração do Sistema DDD, na liberação, no prazo devido, de transferências constitucionais para o Município e na aprovação, financiamento e implantação do projeto das novas instalações industriais da Cooperativa dos Produtores de Leite de Leopoldina, com benefícios para os pecuaristas de Recreio.
Por outro lado, ainda está no lugar de sempre o Grupo Escolar Olavo Bilac, onde estudei e minha mãe lecionou. Conseguirei, qualquer dia desses, forças para visitá-lo e lembrar-me dos três anos e poucos meses em que frequentei suas salas.
Muitos logradouros do meu tempo ainda se encontram do mesmo jeito que os tenho em minha memória, inclusive a Rua Carrano, que recebeu este nome em homenagem ao meu avó José Carrano.
E os morros? Revelam-se imponentes como antes, com suas curvas bem modeladas por Deus, obrigando quem passa e os observa a lembrar-se do corpo da mulher amada.
Imperdoável seria não me referir ao luar de Recreio, que já cantei em meu livro "Encontro com os Ancestrais". Passei por muitos lugares nos meus sessenta e poucos anos de vida, mas não me recordo de ter visto uma lua tão vistosa como a que desfrutava quando menino, na frente de minha casa, deslumbrado com a visão do belo e iluminado astro.
Acima de tudo, tenho de exaltar o povo recreense que permaneceu em sua terra, com a bondade, hospitalidade e amor à região que lhe são peculiares.
Por tudo isso, no lugar de deplorar o que não mais encontro lá, devo, isso sim, alegrar-me pelo que ainda ficou.
Não gostaria de repetir meu primo Edinho, recentemente falecido, que, já prevendo seus últimos momentos, insistiu com seu filho Carlos Henrique para que o levasse a Recreio. Ao se aproximar da cidade, onde nasceu e passou sua infància, pediu, tomado pela emoção, que o carro parasse no acostamento da estrada. E ali, lacrimoso e sem maiores explicações, ordenou o retorno ao Rio de Janeiro.
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