Eles estão em toda parte (em Curitiba), você para o carro no semáforo de noite e lá vem eles com seus limões ou laranjas. Ai você tem que suportar meio sem graça um show de malabarismo tão ruim e constrangedor quanto o programa dos Teletubbies. Essa onda veio pra cá com os refugiados económicos da Argentina, artistas de rua que lá na Argentina começaram a passar dificuldades, vieram pra cá executar malabarismo nas ruas especialmente nas paradas de semáforo, em busca de trocados, mas como brasileiro não é de valorizar artista de rua eles não se criaram. Mas com as campanhas do município de Curitiba aconselhando o cidadão não dar esmola para as crianças de rua, a vida da garotada de rua ficou mais complicada, ai surgiu entre eles a pratica de fazer malabarismos nos sinaleiros em busca dos trocados, a exemplo dos artistas argentinos. O que se desenrola daí para diante é uma prova irrefutável de que reserva de mercado, marketing, competitividade, reengenharia, aperfeiçoamento, especialização e corte de custos não são premissas exclusivas dos altos executivos ou dos acadêmicos de administração.
Estes maltrapilhos e mal treinados malabaristas e seus limões azedos nos fazem sentir vergonha de nós mesmos, com suas performances de dar dó, eles enfeitam as noites de Curitiba. Eu nunca participo para com o caixa deles.
Porem uma noite destas quando eu voltava para casa ao parar em um cruzamento sinalizado, presenciei os últimos 15 segundos de apresentação de um garoto. Ele aparentava uns 16 anos muito mago e alto, o que vi foi ele jogar os limões por de baixo da perna e depois terminar aparando todos os limões com a camisa suja. Ao terminar ele reverenciava o publico (só tava eu) com um sorriso e com a mão estendida pedia uma contribuição. Mesmo com a negativa ele mantinha o sorriso. Abriu o sinal e eu fui embora com a imagem na memória, e arrependido de não contribuir. Passados algumas noites lá estava ele de novo no cruzamento, desta vez eu assisti o show todo, todos os 30 segundos. Descalço com uma bermuda e camiseta sujas, ele lançava os limões a grande altura pegava cada um dos três e relançava sequencialmente, com o requinte de jogadas por debaixo da perna, e no final ele puxava a camiseta e aparava os três limões. Bom eu não sei fazer isso e me pareceu que para um garoto de rua ele estava bem à frente dos seus concorrentes que são muito ruins. Saquei de minha carteira uma reluzente e vibrante nota de um real, baixei o vidro entreguei ao garoto e comentei "você é bom".
Agora pense esse não é um exemplo clássico de competitividade de mercado, de marketing e de aperfeiçoamento de processos? Até corte de custos tinha, ele estava descalço para economizar solado.
