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Cronicas-->As Quedas de Virgílio -- 02/04/2005 - 15:37 (Carlos Eduardo Canhameiro) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
As quedas de Virgílio

Carlos Canhameiro

Virgílio, o homem simples de vida simples, jeito simples, idéias simples, moral simples, roupas simples, emprego simples, cabelo simples e amigos muito, muito, muito complicados. Virgílio, o homem de muitas histórias e pouca relevància, esquecido, chafurdado em meio à cidade grande, cidade muito maior que qualquer pensamento de Virgílio, o homem de meia idade, que não sabe do tempo nem de suas armadilhas. Virgílio, o homem sem desejos, sem vontades, sem méritos, sem romance, sem ódio, sem direitos, sem vergonha. Virgílio, o homem comum.

Aqui começa a novela do homem Virgílio, que durará o quanto for possível. Sendo o possível uma bobagem entre o que Virgílio fará, faz e fez e o interesse que despertará com isso. Então, sem mais delongas porque a personagem não merece tamanho prólogo, vamos aos acontecimentos do homem Virgílio.

Terça-feira de sol quente, trànsito e trabalho. Virgílio em sua baia, executando ligações numa velocidade descontrolada. - Senhora Humbertina, meu nome é Virgílio, sou da empresa Pague em Dia, e estou ligando porque a senhora contraiu um débito nas Casas Paulistas... Senhor Welington, um momento por favor... Senhor Teodoro.... Senhor... - Perdido entre outros cinquenta telefonistas, Virgílio ligava e cobrava, cobrava e ligava. Virgílio, o homem cheio de dívidas.
Na pausa do café, dirigiu-se ao Caixa da empresa, que ficava no mezanino. Deveria deixar um cheque para cobrir o empréstimo que fizera na semana anterior. Deixou e foi-se para suas ligações mefistofélicas. Pouco atento que era aos acontecimentos ao seu redor, não se atinou à correria na porta de saída da empresa. Foi se aperceber do acorrido quando esse já era passado. Correu até o mezanino e encontrou vários funcionários aos prantos: haviam sido assaltados - Ele... O ladrão... Apontou o revolver p´ro Rodolfo... O Rodolfo tava dentro da sala dele, de costas, não percebeu nada... O ladrão falava "escuta aqui, me passa a grana ou o cumpadi ali vai levar chumbo". E a mulher da cobrança chorava, o Rodolfo chorava porque quase morreu, e quase morreu sem saber!, a telefonista chorava, a moça da foto-copiadora chorava, e todos se abraçavam, e se confraternizavam na dor. Virgílio, o homem das horas erradas, estava fora desse momento, nada vira e em nada participara da tragédia - Aí, quando o desgraçado pegou todo o dinheiro e saiu correndo eu gritei e o Daniel e o Jonas correram atrás dele... Corremos atrás dele, quando a gente chegou perto dele, na esquina da rua aqui de trás, ele apontou o tresoitão na nossa cara, "e aí, cumpadi, vale a pena morrê por essa ninharia?" E todos lamentavam, Virgílio, queria fazer parte do lamento, participar da aventura, queria ser o alvo do bandido, ter uma arma apontada em sua testa para poder chorar com todos, abraçar a todos. Virgílio, o homem sem contento teve que se contentar em voltar ao trabalho, porque, a despeito de qualquer mal, a vida continua.
Antes de fazer a primeira ligação, lembrou do cheque, da dívida, do assalto e não teve dúvida, não ligou para cobrar e sim para informar o banco que seu cheque havia sido roubado, então deveria ser sustado. Virgílio, o homem das perdas, havia encontrado um jeito de lucrar com o roubo. Diria que esquecera do cheque e que o gatuno, como de costume com a sua profissão, descontara o cheque em seguida do roubo. Virgílio, o homem de moral simples. Antes de fazer a primeira ligação de cobrança, viu pelo vidro temperado que dividia a sua baia da baia lateral o rosto da mulher do caixa, ainda com lágrimas nos olhos, mas com um sorriso de felicidade, de prazer em vencer o ladrão. Segurava com a mão direita aquilo que havia guardado embaixo da gaveta da máquina registradora: o indefectível cheque de Virgílio, o homem sem sorte.
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