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cronicas-->Vende-se poesia? -- 01/04/2005 - 21:06 (Cheila Fernanda Rodrigues) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Vende-se poesia?

Minha cabeça estava voando, planando pelo mundo dos sonhos, embora meus pés caminhassem pelas calçadas da cidade, autómatos. Eles me levavam a uma farmácia para, prosaicamente, comprar lenço de papel. Tão acima do chão me encontrava que nem levei um imenso susto quando alguém me abordou de forma inusitada:
_ Gosta de poesia?
Parei. Mas diante de tal pergunta, sentia-me em pleno vóo ainda. Olhei para a pessoa. Um senhor com olhos muito pequeninos e vivos, emoldurados por um rosto todo pregueado.
_ Sim, eu amo poesia! - respondi sem qualquer hesitação e sem medo de falar com um desconhecido, pois ainda me sentia flutuando, dentro de um momento poético.
_ Então, leve uma! - ele tirou um papel de uma sacola de plástico e me entregou _ se puder me dar um trocadinho, eu agradeço.
Percebi que aquilo estava acontecendo num momento real. Antes de ler ou mesmo lhe dar algum dinheiro, perguntei:
_ O senhor é poeta?
_ Quando era menino, eu fazia muita poesia. Depois fui para o trabalho e não pude mais. Agora que estou velho, voltei a fazer poesia e a necessidade me faz pedir uns trocadinhos.
Revirei minha bolsa e não achei nenhuma moeda. Tinha apenas uma nota de cinco reais que eu usaria na farmácia. Ao me ver remexendo a bolsa, ele me diz:
_ Não se preocupe, se não tiver, fique com a poesia do mesmo jeito.
Eu que já estava completamente encantada com aquela figura, oferecendo na rua um produto tão insólito, fiquei ainda mais encantada ao ver seu desapego em prol da poesia. Pensei imediatamente: "mais tarde, volto aqui e compro o que preciso". Então, entreguei o dinheiro para ele.
_ De jeito nenhum, é muito dinheiro!
_ Mas é uma pequena homenagem ao seu ser poeta!
_ Não, não...
Insisti, mas ele não aceitou mesmo.
Tomei outra decisão:
_ Então me aguarde um instante que vou à farmácia aqui pertinho e já volto lhe dar um trocado.
Foi exatamente o que fiz. Ele me agradeceu muito. E fiquei um tempinho conversando com ele. Disse-me ter 75 anos, pontuado por muita luta. Mostrou -me a mão direita paralisada, resultado da época em que trabalhou em usina de açúcar e se acidentou seriamente. Mas ele preferia a poesia, e declamou um poema. Ao final, me confidenciou:
_ Sabe, de cinquenta pessoas que passam, e eu pergunto se gostam de poesia, só uma diz que sim.
_ Que pena! - pensei eu. Despedi-me e continuei meu trajeto, pensando que o poema escrito por ele é muito simples, quase uma "parceria" com tantas trovas soltas, espalhadas boca a boca pelo tempo. Porém é a poesia pedindo atenção. De um forma ou de outra, parando ou não, gostando ou não, as pessoas devem ficar curiosas:
_ Poesia na rua? Ele é um cameló? Será que vende poesia? O que será que ele quer com isso?
E, quem sabe, alguém até pode se lembrar que um dia leu um belo poema. Quem sabe até recebeu do(a) amado(a) umas trovinhas romànticas. Quem sabe na escola tenha declamado algo numa festinha. Quem sabe ensaiou escrever alguns versos. Quem sabe...
A poesia é aquele exato instante em que o olhar focaliza uma cena, seja qual for, com a luz da sensibilidade. É um claro interior que ilumina tudo. Dá-se uma explosão de vida pulsante que restabelece nosso lindo lado humano divino.
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